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Eleições de 1989 e 2018: candidatos se assemelham no cenário comparativo

Ideologia politica, jargões, partidos...cada um do seu jeito

Por Rodrigo Rebechi em 06/10/2018 às 11:48:00

Foto: Montagem Pragmatismo Político

As eleições presidenciais de 2018 estão aí. Com 13 candidatos buscando a chance de governar o país pelos próximos quatro anos, a campanha revelou personagens políticos que em muito se assemelham com os candidatos que disputaram as eleições de 1989. Na ocasião, a eleição teve 23 candidatos e foi vencida pelo presidente deposto por impeachment Fernando Collor de Melo. Em 89, era a primeira eleição democrática após o período da ditadura, as famosas DIRETAS JÁ!

E em que se assemelham os candidatos de ontem e de hoje? O portal Eu, Rio! analisou o cenário político, as características de discurso de cada candidato, a linha ideológica de cada partido e traçou comparações.

Fernando Collor x Jair Bolsonaro

No fim dos anos 80, um candidato, desconhecido para a maioria da população (até pelo fato de ter governado um estado menor e sem tanta representatividade nacional, como Alagoas) despontava como algo diferente. O então presidente José Sarney acabaria o governo sitiado pela inflação, pressionado pelo baixo crescimento da economia e envolto pelo clima de descrédito da classe política perante a população. Criavam-se as condições para a candidatura de um nome visto pelo eleitorado como renovador, símbolo de algo novo para o país. O governador de Alagoas, Fernando Collor de Mello, saberia sintonizar-se com aqueles tempos. Ao assumir o discurso contra os políticos tradicionais e esculpir a imagem do "caçador de marajás", os servidores públicos de altos salários.

Com cenário parecido, Jair Bolsonaro, que nunca havia se candidatado a cargos de maior abrangência, como governador, surge como opção para "derrotar os 12 anos de esquerda do país". Com discurso alinhado e fala firme, Collor e Bolsonaro se equiparam na comparação de quem é quem entre 89 e 18.

Lula x Fernando Haddad

Comparação óbvia. Lula era o ex-operário que fundou o Partido dos Trabalhadores e que lutou por diversas eleições até chegar ao poder. Haddad é o substituto natural do próprio que iria também se candidatar este ano, mas que se encontra preso em Curitiba após denúncias do escândalo do triplex no Guarujá. Ambos tem o foco voltado ao assistencialismo e programas de governo sociais. Haddad, claro, segue a cartilha do partido e do que seria o titular do posto ocupado nas eleições como candidato.

Ulisses Guimarães x Henrique Meirelles

Idosos, com fala mansa e certa dificuldade em gesticular. As comparações não param por aí. Ulisses foi presidente da Câmara dos Deputados em duas ocasiões distintas e também candidato à presidência da República na eleição de 1989. Inicialmente, apoiou o golpe de 1964 contra o presidente eleito João Goulart, mas logo passou à oposição e passou a lutar pela volta da democracia. Já Meirelles transitou no governo Lula e Temer e hoje é contra os dois. E ambos pertencem ao MDB.

Leonel Brizola x Ciro Gomes

Além do PDT, outras curiosidades marcam esses dois personagens da política brasileira. Ambos são extremamente temperamentais. Enquanto vivo, Brizola sempre peitava adversários em debates, criava apelidos para os adversários (quem não se lembra do icônico 'sapo barbudo', como ele chamava Lula em plenos debates em 89?). O gaúcho Brizola sempre foi populista, bebendo da fonte de Getúlio Vargas, seu conterrâneo. Já o cearense Ciro também bebeu da fonte do populismo e um dos seus marcos de campanha é 'tirar o povo do SPC".

Fernando Gabeira x Marina Silva

Fala mansa, aparência tenra e movimentos 'paz e amor'. Ele, do Partido Verde. Ela passou por lá. E até hoje bate na tecla da sustentabilidade e meio ambiente. Ela seria o Gabeira de ontem? Gabeira, hoje, se afastou da política e exerce seu lado jornalístico como comentarista político. A ambientalista ainda navega pelos mares tumultuados da política e concorreu ao Planalto por três vezes seguidas.

Mario Covas x Alckmin

Os tucanos de ontem e hoje se equivalem, inclusive na posição nas pesquisas. Ambos fizeram suas carreiras governando São Paulo. E ambos alimentos escândalos de propina em seus governos, como o caso Alston e da Eletropaulo (no caso Alston Em 2008, documentos da Justiça suíça, enviados ao Ministério da Justiça do Brasil, evidenciavam o pagamento sistemático de propinas pela empresa francesa a autoridades dos governos tucanos. Entre 1998 a 2001, o dinheiro foi repassado por empresas offshore (paraísos fiscais), em troca da assinatura de contratos no setor energético paulista. Um dos engenheiros da Siemens apontava o sociólogo Claudio Mendes, assessor de Covas. CPI da Eletropaulo. Privatizada em 1998, a Eletropaulo foi vendida para o consórcio Lightgás, liderado pela AES Corporation, por R$ 2 bilhões - parte do valor financiado pelo BNDES. À frente da negociação, estava o governador Geraldo Alckmin, na época presidente do Programa Estadual de Desestatização (PED) do Governo Covas. Após a demissão de metade dos funcionários da estatal e das suspeitas sobre o baixo valor da venda, parlamentares da oposição tentaram instalar uma CP). Já Alckmin tem contra si denúncias de superfaturamento da merenda escolar em São Paulo envolvendo o governo e 22 prefeituras)

Afif Domingos x Álvaro Dias

Ambos possuem boa fala, transitaram sempre pela centro-direita. Afif foi o candidato do PL à presidêncianas eleições de 1989, tendo sido o sexto colocado com mais de 3,2 milhões de votos (mas tendo ficado à frente de nomes importantes da política nacional como Ulysses Guimarães, Roberto Freire e Fernando Gabeira. Contudo, mesmo com a derrota, tornou-se nacionalmente famoso devido ao seu carismae ao jingle de sua campanha: "Juntos chegaremos lá/Fé no Brasil/Com Afif juntos chegaremos lá.Dias também é carismático, não tem jingle, mas teve frase-lema "Abre o olho" e deve ter votação parecida com Afif.

Roberto Freire x Guilherme Boulos

Representantes da esquerda tida como comunista. Freire, do PCB (Partido Comunista Brasileiro), atuou também como advogado sindical defendendo trabalhadores rurais, quando estreita suas relações com o velho PCBde 1922. Já Boulos, engajou-se no movimento estudantil e ingressou no Movimento dos Trabalhadores Sem teto(MTST) em 2002.

Enéas Carneiro x Cabo Daciolo

Extravagantes, voz levantada, bordões e de partidos nanicos. Enéas, do extinto PRONA, ficou famoso pela rápida fala de texto em 15 segundos no horário eleitoral, quase que gritando, querendo restaurar a ordem nacional (uma ideologia também alinhada com Bolsonaro). A frase "Meu nome é Enééééas, meu número, 56" era entoado por todos. Daciolo, do PATRIOTA, também fala alto. Prega, literalmente, o discurso evangélico, sempre entoado o "Glória a Deuxxx' ( o x é pelo jeito carioca de ser do candidato). É o voto de protesto deste ano, como Enéas foi em 89.

Sílvio Santos x Luciano Huck

Apresentadores, milionários e quase candidatos. Sílvio Santos chegou a se candidatar, mas foi bloqueado pelo TSE. Foi convencido por empresários a concorrer, mas como teve falhas no processo de registro, foi impugnado o registro. Já Huck deu declarações que estava interessado, que planejava concorrer e tal. Mas desistiu do pleito eleitoral. Corre os bastidores que a Rede Globo, com quem tem contrato, teria interferido na desistência espontânea do apresentador.

O olhar de quem esteve em 1989

O jornalista Fernando Gabeira, que concorreu ao pleito de 1989 pelo Partido Verde (PV) vê semelhanças no cenário político desde ano comparando com 89.

"Tanto em 89 quanto nessa agora, a corrupção joga em um papel semelhante. Na de 89, era o tema do Collor, que afirmava que caçaria marajás e do Lula, que se apresentava como "a ética da política". Hoje um está preso e outro esteve perto de ir. Hoje o PT não tem esse papel decisivo. E Bolsonaro aparece com a insignificância do partido que o apoia, tal qual Collor em 89, essa visão liberal da economia. Acredito que se tivesse um "centrão de esquerda" e o Ciro candidato, acredito que teria uma condição mais favorável de vencer as eleições", disse Gabeira. Para o jornalista, Alckmin também poderia ser comparado a outro candidato da década de 80.

"Acredito que naquela época, o Ulysses, como Alckmin, tinha um grande tempo de televisão. Mas sem grande uso dela. Isso até se equiparam em termos de comparação. Uma linha de direita que está bem desgastada no cenário político. Daciolo e Enéas é uma grande comparação. Daciolo, assim como Enéas na época, soube usar seu pouco tempo de TV para se tornar icônico. Não vai ter muitos votos, mas todos sabem que é. É o cara dos memes, tema de jogos, etc", disse Gabeira, que afirmou que não seria candidato em 89, pois estava acordado em ser o vice do Lula naquela campanha. Mas como houve um movimento interno que o tirou da chapa, o Partido Verde (PV) optou por lança-lo como candidato à presidência naquele ano.

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