No retorno às aulas presenciais, os alunos e professores das escolas da rede pública municipal de Mesquita se depararam com unidades em péssimo estado de conservação, fora do padrão sanitário e apresentando risco de acidentes. Suas cozinhas estão com infiltrações e goteiras, com azulejos quebrados e pias com risco de caírem, entre outros problemas. Enquanto isso, o prefeito Jorge Miranda, o seu secretariado e vereadores participam na noite desta quinta-feira (28) de uma festa em homenagem ao “mês do professor”.
A reportagem do Portal Eu, Rio! teve acesso a fotos de diversas unidades escolares que estão com estrutura precária, como a cozinha da Creche Municipal Cora Coralina, no centro da cidade, cujo teto está com infiltrações. Quando chove, sempre tem goteira.
Creche Municipal Cora Coralina. Foto do leitor.
Na cozinha da Escola Municipal Presidente Castelo Branco, no bairro de Rocha Sobrinho, com 642 alunos matriculados, a pia está vazando, além de haver infiltrações na parede e no teto. Os azulejos estão quebrados, assim como o piso da pia. Parte do reboco do teto caiu, causando risco de acidente a quem trabalha no local.
Escola Municipal Presidente Castelo Branco. Foto do leitor.
A cozinha da Escola Municipal Vereador Américo dos Santos, no bairro de Banco de Areia, apresenta também risco de acidente. Parte do azulejo da pia está quebrado, assim como o da parede. A fechadura da porta também quebrou. A instituição tem 623 alunos. Na cozinha da Escola Municipal Deoclécio Dias Machado, no bairro de Cosmorama, o pilar que sustenta a pia está degradado e ameaça ruir.
O Sindicato Estadual dos Profissionais de Ensino (Sepe) – Núcleo Mesquita está denunciando a situação ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. O objetivo é forçar a prefeitura a fazer uma reforma nas escolas.
“A prefeitura de Mesquita não tem diálogo com o sindicato. O prefeito recusa qualquer forma de diálogo e não cumpre nem ordem judicial”, disse um representante do Sepe de Mesquita, que preferiu não se identificar por temer represálias. Ele se referiu à recente decisão do Tribunal de Justiça do Rio, confirmada pelo Superior Tribunal de Justiça, em Brasília, determinando que a prefeitura reintegre professores que foram demitidos entre 2020 e esse ano, em plena pandemia do novo coronavírus.
“Recebemos fotos de cozinhas caindo aos pedaços, em unidades que estão em prédios alugados e sem manutenção”, contou o representante do Sepe.
Esta semana, o sindicato enviou as fotos à prefeitura e pediu providências e esclarecimentos. A pasta da Educação está subordinada à Secretaria Municipal de Governança, cujo titular é Renato Miranda, irmão do prefeito e pré-candidato a deputado estadual. “Porém, eles nos ignoram e seguem com a postura arbitrária”, lamenta o representante do Sepe. Não bastasse isso, professores ligados ao sindicato são perseguidos. “Tivemos dois diretores sindicais demitidos por perseguição”, relata o sindicalista.
Até o fechamento desta matéria, a prefeitura não havia se manifestado. Hoje, quinta-feira (28) haverá uma festa em homenagem ao “mês do professor” no Espaço Patronato, na Rua Governador Portela, 389, no Centro de Nova Iguaçu, com comida e bebidas liberadas das 19h às 23h. O local do evento é conhecido por ser um dos mais luxuosos da Baixada Fluminense. De acordo com um orçamento realizado por funcionários do espaço, o valor médio das festas é de R$ 260 mil. Segundo fontes da Prefeitura de Mesquita, a festa terá mais de 100 convidados, entre funcionários da pasta de Educação, gestores de escolas, assessores do prefeito Jorge Miranda e de Renato, além dos próprios e vereadores da base governista.
“Enquanto a prefeitura faz de tudo para não reintegrar os servidores, o secretário de Educação, vereadores e membros da Secretaria comemoram. Resta saber o que e com dinheiro de quem. A prefeitura diz que reintegrar servidores vai causar ônus aos cofres públicos e a mesma faz uma festa enquanto escolas estão em condições precárias. Há gestores que sequer são professores", denuncia um profissional da Educação que também preferiu não se identificar para não sofrer perseguição. De acordo com ele, os professores não foram convidados para o evento.
“Cortaram o valor do RST (a hora extra da categoria) pela metade durante a pandemia, tiraram o vale transporte e proibiram a realização de refeições na escola. Além disso, para não reintegrar os professores demitidos, alegaram que a prefeitura não pode pagar 30 mil reais de valores atrasados, mas tem dinheiro para um salão de luxo. Para ajudar na futura campanha de Renato Miranda, os gestores das escolas podem ser bons cabos eleitorais, já que unidades estão lotadas de funcionários terceirizados indicados pelos vereadores e os irmãos Miranda. Com esse intuito, os gestores de escola receberam esse ano uma gratificação de dois mil reais”, denunciou o servidor.