Quando tinha quatro anos, Pedro Victor Periald, hoje aos oito, aprendeu na ONG Favela Mundo a dar os seus primeiros passos no mundo das artes. No polo da ONG na Cidade de Deus, ele teve as primeiras aulas de dança e frequentou o local por dois anos, na Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) Senhora Perciliana de Alvarenga.
No último fim de semana, a filial brasileira da Escola Bolshoi anunciou que ele foi selecionado para se juntar à instituição em 2022, nessa que é a maior e mais renomada escola de dança do mundo. A partir de março, ele se mudará para Joinville (SC) e terá até quatro horas diárias de aulas de dança.
"Que emoção e alegria ver nossos alunos chegando tão longe! É a força da arte e da cultura mostrando o quanto nossas crianças podem crescer, independentemente de onde moram! A Favela tem potências incríveis. Nossa missão não é formar artistas, mas é emocionante quando conseguimos despertar esse desejo em nossas crianças e as famílias conseguem entender a importância da cultura na formação de seus filhos! É a Favela Mundo levando o mundo para essa garotada que vive uma realidade muitas vezes tão difícil", conta, emocionado, o fundador da ONG Favela Mundo, Marcello Andriotti.
A segunda criança que mora na Cidade de Deus e foi aprovada para o Bolshoi se chama Ana Luísa de Araújo Oliveira, 11. Atualmente, o projeto Favela Mundo, do qual Pedro participou, atua em três favelas: Jacarezinho e Caju, além da Cidade de Deus.
11 anos da Favela Mundo
A ONG Favela Mundo tem muito o que comemorar em seus 11 anos, completos em setembro deste ano: a organização não governamental é a única no país a ser reconhecida pela ONU como "Modelo de Inclusão Social nas Grandes Cidades". O reconhecimento ocorreu no evento World Cities Day, em Nova York. Além deste, a Favela Mundo já representou o Brasil em nove eventos no exterior, sendo três na própria ONU, tendo inclusive a honra de palestrar na plenária da instituição.
Já capacitou mais de 10 mil pessoas, cerca de 6 mil alunos foram crianças a partir de dois anos, participantes de oficinas do projeto homônimo: Favela Mundo. Os outros 4 mil foram capacitados pela iniciativa intitulada A Arte Gerando Renda, com oficinas voltadas para jovens e adultos a partir de 15 anos, com foco em profissionalização artística no samba e estética.
A ONG Favela Mundo destaca que suas atividades priorizam a organização a alcançar cinco das 17 metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, elaborados pela ONU: 4, 5, 8, 10, 16.
Enquanto isso, no Alemão...
No Complexo do Alemão, a história se repete com Jenyffer Laura Azevedo de Almeida, 10, que também será aluna do Bolshoi a partir de 2022. Ela passou por três etapas, até vencer a seletiva e garantir sua participação no curso de formação em ballet clássico. Desde 2016, a bailarina tem se sobressaído no Projeto Vidançar, que leva aulas gratuitas de dança para crianças da comunidade. Dedicada, Jenyffer Laura teve o apoio da família e participou em 2019 de uma audição na Escola Petite Danse, para a qual foi aprovada.
Fundado por Ellen Serra, o projeto atende a mais de 250 crianças e conta com uma metodologia para o desenvolvimento do ballet clássico das crianças que ainda não tiveram oportunidade de vivenciar a arte, oferecendo caminhos para que possam ingressar em grandes escolas de dança.
Emocionada, ela comenta a alegria de ver a aprovação da aluna na Escola Bolshoi, afinal é mais uma moradora do Complexo do Alemão a ter sua vida transformada através da dança. "Me sinto realizada e feliz pelo dever cumprido, de ter levado mais uma oportunidade a quem tem talento e não teria a possibilidade dessa colocação se não tivesse o projeto", comenta Ellen, também coordenadora do Vidançar.
A Escola do Teatro Bolshoi no Brasil funciona desde o ano 2000 e é a única filial da instituição russa no país.
Sobre o projeto
Vidançar é um grupo de dança que seleciona alunos com capacidade técnica e que desejam a profissionalização na dança. O projeto já ocorre há 10 anos na comunidade do Complexo do Alemão, com aula de ballet clássico, inglês, reforço escolar e xadrez. Desde 2013, promove seleções internas e prepara esses alunos para grandes escolas de dança. A iniciativa soma doze alunos aprovados para o Theatro Municipal, dois no Teatro Bolshoi, nove na Petite Danse e oito no Conservatório Brasileiro de Dança. As aulas acontecem aos sábados, no Complexo do Alemão (Av. Itaoca, 1975/s. 201).
Veja, na Galeria de Fotos, alguns registros de Jenyffer Laura e outras bailarinas mirins nas aulas do Projeto Vidançar, no Complexo do Alemão.
Fonte: Agência Is e Projeto Vidançar