Cientistas de Salvador identificaram casos da doença de Haff, também conhecida como doença da urina preta, que seria provocada pelo consumo de certos peixes e crustáceos cozidos e cujas toxinas não são destruídas pelo calor.
Estudo de casos está sendo desenvolvido pelo Centro de Informações Estratégicas e Vigilância em Saúde (CIEVS) da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador, em parceria com a Fiocruz Bahia e outros colaboradores.
Há casos da doença de Haff sendo investigados. Foram detectados entre janeiro de 2016 e janeiro de 2021.
A doença de Haff é uma causa rara de rabdomiólise, síndrome provocada por lesão muscular que resulta na elevação dos níveis séricos de creatina fosfoquinase (CPK). Ou seja, em alguns casos, provoca escurecimento da coloração da urina, variando de avermelhada a marrom.
Os resultados do trabalho, coordenado por Cristiane Cardoso, do CIEVS Salvador, e pelo pesquisador da Fiocruz Bahia, Guilherme Ribeiro, foram publicados no periódico Lancet Regional Health – Americas.
No artigo, os pesquisadores relatam que a teoria mais aceita é que os peixes e crustáceos não produzem eles mesmos as toxinas, mas acumulam no seu corpo compostos produzidos por outros organismos, como microalgas, através da cadeia alimentar.
Seis amostras de peixes passaram por análises laboratoriais: duas eram sobras de uma refeição relacionadas a dois casos da doença, ambos com evidências laboratoriais de rabdomiólise; outras duas foram obtidas de casos isolados com altos níveis de CPK; e as duas últimas eram amostras frescas obtidas em uma peixaria local, onde alguns pacientes haviam comprado peixes.
No período entre 2016 e 2017, foram investigados 65 casos. Destes, 66% tinham níveis elevados de CPK, 88% foram hospitalizados, 26% necessitaram de cuidados intensivos e 7% de diálise.
A ingestão de peixes marinhos 24 horas antes do início da doença foi relatada por 74% dos casos com CPK elevada e por 41% daqueles sem medição de CPK. A taxa de ataque para indivíduos que comeram peixes relacionados ao surto, indicador de incidência da doença, foi de 55%. Os tipos de peixes mais consumidos pelos casos foram “olho de boi” e “badejo”.
Após o surto ocorrido entre 2016 e 2017, o CIEVS Salvador identificou 12 casos suspeitos entre 2017-2019 e um novo surto durante a pandemia da Covid-19 (2020-2021). Durante o surto ocorrido entre 2020 e 2021, 16 pacientes com rabdomiólise confirmados por laboratório foram identificados (cinco necessitaram de cuidados intensivos e um foi a óbito).
No trabalho, os pesquisadores ressaltam que, devido aos recentes surtos da doença de Haff, especialmente no Brasil, é necessário fortalecer a vigilância epidemiológica e o treinamento médico para detecção de casos suspeitos da doença. Os casos suspeitos devem ser comunicados às autoridades sanitárias para investigação.
Ouça no Podcst Eu, Rio!, o coordenador da pesquisa, infectologista Guilherme Ribeiro, da Fiocruz Bahia, sobre a doença da urina preta.
Fonte: Fiocruz