Nesta sexta-feira (12), a cantora Céu lançou o álbum "Um gosto de sol". O mais novo projeto da artista é composto por releituras de canções já conhecidas e que influenciaram a sua carreira. Por isso, esse é o primeiro álbum em que Céu se coloca apenas como intérprete, dando voz a uma dúzia de canções escritas por outros autores.
Considerada uma das maiores representantes da atual geração da MPB, Céu vivia em Nova York em 1998, quando escreveu sua primeira canção. Dividia o tempo entre o curso de música, motivo que a havia levado para fora do Brasil, e as funções de faxineira, chapeleira, garçonete e outros trabalhos que pagavam o aluguel na nova cidade.
Até ali, sua relação com a música estava de todo associada ao ofício de intérprete. Cantar repertório alheio foi a primeira escola prática, a maneira de encontrar a própria musicalidade e o que deu a ela as ferramentas fundamentais para que descobrisse seu lugar de compositora.
Desde 2005, quando surgiu com o primeiro disco, a produção autoral se impôs aos seus futuros projetos. Com isso, a ideia de represar as próprias composições para se dedicar a outros autores foi sendo naturalmente adiada. Após cinco trabalhos autorais, “Um Gosto de Sol” realiza o seu desejo de interpretar outros compositores.
O álbum é resultado do impacto da pandemia na vida da artista.
Em julho do ano passado, ela iniciou a escolha do repertório que foi feita com a ajuda de Pupillo, seu marido e produtor, e de Edgard Poças, seu pai. Desse modo, o projeto é particularmente pessoal e até familiar. A cantora e compositora aproveitou o momento pandêmico e a falta de motivos para compor um trabalho autoral e agiu como boa parte da humanidade, buscando acolhida no único ponto de segurança possível àquela altura: a memória.
A partir daí, ela olhou de volta para os primórdios de sua formação, que remetem aos discos que ouviu na infância na casa dos pais, ao rock e à música pop descobertos na adolescência, aos shows que viu e que fez antes de se tornar compositora. Essa viagem pessoal fez com que o repertório de “Um Gosto de Sol” refletisse a artista em todos os escaninhos de sua fundação musical, em espectro tão amplo que pode surpreende seus seguidores mais fiéis.
Eclético, "Um gosto de sol" passeia por estilos diferentes e valoriza grandes talentos da música brasileira e internacional. O samba e o pop nacional estão muito bem representados por compositores como Ismael Silva, Lamartine Babo e Francisco Alves, bem como Antonio Carlos & Jocafi. Nomes como Rita Lee, Roberto de Carvalho e Milton Nascimento também ganham um lugar de destaque no álbum.
Da mesma maneira que o samba, o pop internacional também é abordado por Céu em suas mais diferentes facetas em “Um Gosto de Sol”. O álbum traz uma versão quase bossa nova para a psicodélica “May This Be Love”, faixa que abre o lado B do clássico álbum gravado por Jimi Hendrix em 1967, “Are You Experienced”. Passa pelos anos 1980 em “Paradise”, composição de Andrew Hale, Stuart Matthewman, Paul S. Denman e Sade Adu que puxou o álbum “Stronger Than Pride”, sucesso mundial de Sade em 1988. E chega à década de 1990 com dois nomes fundamentais: Fiona Apple, autora de “Criminal”, de 1997; e os Beastie Boys, donos de “I Don't Know”, do ano seguinte.
Não a toa, Céu gosta de dizer que esse é, sim, um trabalho sobre esperança. Não numa tentativa de criar novas canções que simulassem um belíssimo futuro logo ali adiante, mas em um movimento que pudesse fortalecer justamente o que já se tínha.
"Nossa história e nosso afeto. Como indivíduos, é claro, e também coletivamente, como o país cuja identidade sempre esteve tão perfeitamente ligada e representada pela música popular. Pela música que compusemos para nós mesmos e por aquela que trouxemos, por desejo ou identificação, para dentro do nosso quintal. E onde pudemos colher, pelas frestas da quarentena, um gosto de sol e um bocado de calor", afirmou a cantora.
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