O Teatro Princesa Isabel, localizado na Avenida Princesa Isabel, no bairro do Leme, um dos mais tradicionais da cidade do Rio de Janeiro, fundado em 28 de janeiro de 1965, corre o risco de fechar. Devido à crise econômica que atingiu também outras casas na capital fluminense, não tem mais o público de outrora. A direção do espaço está solicitando auxílio à Prefeitura do Rio para tombar o imóvel e preservá-lo. Além disso, lançou nas redes sociais uma campanha com a hastag #sosteatroprincesaisabel.
“Estamos às vésperas de completar 57 anos de existência. O Teatro Princesa Isabel, no contexto da crise que se instalou na cultura brasileira, corre o risco de fechar as portas. Já iniciamos contato com a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, mas tudo esá muito incipiente ainda”, diz o historiador Orlando Miranda, de 88 anos, um dos fundadores do espaço e seu proprietário.
“O Teatro Princesa Isabel faz parte história das casas de espetáculo cariocas. Fomos palco dos primórdios da Bossa Nova, estreamos Roda Viva, trabalhamos com Procópio Ferreira, Zé Celso, Guarnieri, Marília Pera, Jô Soares, Miele & Bôscoli, Simonal e muitos outros. Nosso objetivo é chamar atenção através da circulação da hashtag”, explica Miranda.
“É fundamental que a comunidade artística e o poder público sensibilizem-se e abracem a iniciativa. Outros espaços de grande importância para a cidade, como o Estação Net Rio, por exemplo, só poderão continuar porque encontraram apoio sendo tombados pela prefeitura. Esse talvez seja um caminho”, completa a historiadora Isabel Miranda, filha de Orlando Miranda, que é responsável pelo lançamento da campanha.
Procurada, a Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa informou que houve um contato inicial dos responsáveis do Teatro Princesa Isabel com a pasta. Esta está à disposição para acolher a demanda do equipamento, dialogar com os proprietários do imóvel e buscar uma solução conjunta.
Espaço seria inicialmente só para peças infantis
O Teatro Princesa Isabel tem em sua programação musicais e comédias. Para manter o local aberto, Miranda o aluga para academias de dança e de teatro. Nas paredes do teatro, há fotos de Procópio Ferreira, Regina Duarte e Jardel Filho e cartazes de célebres montagens, como “Gardel”. A casa foi fundada visando apresentar somente peças infantis, mas, antes de inaugurá-la, Miranda e seus sócios à época, Pedro Veiga e Pernambuco de Oliveira, viram que não conseguiriam mantê-la assim. Estrearam então com a peça adulta “Guerra mais ou menos santa”, de Mário Brasini e receberam, na inauguração, cerca de 400 pessoas, entre as quais, o então governador Carlos Lacerda e as atrizes Cacilda Becker e Fernanda Montenegro. Na ocasião, os teatros e cinemas ficavam concentrados no Centro e na Cinelândia.
Em 1968, estreou “Roda Viva”, escrito por Chico Buarque. Em 1989, “Trair e coçar, é só começar”, de Marcos Caruso, onde teve 704 apresentações. Hoje, a casa recebe cerca de quatro peças por mês, a maioria de curta temporada.
Durante a ditadura, o teatro foi uma espécie de ‘quartel general’ onde a classe artística se reunia. No período, Miranda integrou o Serviço Nacional de Teatro, sendo um mediador entre os artistas e o regime militar. Também produziu peças importantes, como “O botequim”, de Gianfrancesco Guarnieri, e “Os pais abstratos”, de Pedro Bloch.