O sol começa a nascer e logo após o surgimento da luz solar, ainda clareando as nuvens, começa passar pelo céu uma letra M. Mas não se trata de um M qualquer, e sim um prateado com cinco círculos, um em cada ponta da letra, totalizando cinco. E essa letra do alfabeto passa por algumas das capitais do Brasil, inclusive Brasília, até chegar ao Rio de Janeiro, pousando no alto de um edifício localizado na Rua do Russel, no bairro da Glória, na Zona Sul do Rio. Ao fundo, se escuta uma trilha sonora, iniciando com um teclado e que encerra com um solo de guitarra assim que o M chega ao destino final.
Se alguém leu a descrição acima imaginando a vinheta de abertura da TV Manchete, acertou. Até hoje a emissora considerada a televisão do ano 2000 deixou saudades. E quem tem interesse em saber algumas histórias sobre os primeiros anos do canal fundado por Adolpho Bloch terá a oportunidade de conhecer neste sábado (11), às 19 horas, na Bienal do Livro no Riocentro. Isso porque o jornalista Luiz Santoro lança a obra Minha Vida na Rede Manchete e algumas histórias da TV e do Rádio no estande da Anagrama Editora, localizado na Calçada Literária CL06, estande B07. O valor do livro é de R$ 50.
Santoro conta que o livro já estava pronto há mais de 20 anos, mas que apenas recentemente optou por seguir com o projeto para lançá-lo. Além da versão impressa. o livro também está disponível na versão sonora, com todo o trabalho técnico feito pelo sonoplasta Presuntinho, atualmente na Super Rádio Tupi. Neste caso, os interessados podem entrar em contato com o próprio jornalista através do perfil dele no Facebook, o facebook.com/luizsantoro51.
Com a experiência de quem trabalhou nas TVs Bandeirantes, SBT e foi um dos fundadores do canal GNT, Santoro não titubeia em falar que a experiência na Manchete foi a melhor de toda a vida profissional. E ele explica o motivo dessa certeza.
"Trabalhei por cinco anos na Manchete, desde a fundação em 1983 até maio de 1988. Era um nível de companheirismo inigualável. E uma liberdade que não se vê hoje em nenhum lugar. Não foram poucas as vezes em que chegávamos para o seu Adolpho e dizíamos que certa reportagem poderia complicar algum amigo dele. Mesmo sendo o dono da emissora, o seu Adolpho dizia: 'Problema dele. Vocês não têm nada com isso. Eu só quero que a verdade seja dita. Se o conteúdo for real, então o trabalho tem que ser feito'", detalha Santoro interpretando a fala de Adolpho Bloch, conhecido pelo tom calmo, devagar e levemente fanho na fala.
"Pegadinhas" com novatos
O livro relata muitas das brincadeiras que Santoro conta. Em uma delas, o jornalista recorda sobre uma peça que pregou com um técnico de som que estava no primeiro dia de trabalho na emissora. Santoro, junto com outros colegas, comentaram com o novato que deram falta da caixa do cue, a pré-escuta do áudio. Desesperado, o técnico não fazia ideia onde buscar os tais equipamentos. Até que veio uma sugestão. Buscá-la na mesa do próprio Adolpho Bloch.
"Quando eu falei da caixa do cue faltavam poucos minutos para o jornal entrar no ar. Claro que tudo era uma sacanagem nossa. Mas o novato ficou desesperado. Daí a gente sugeriu que os equipamentos poderiam estar na gaveta da mesa do Seu Adolpho. O resultado é que ele foi lá, meteu a mão e dois seguranças o pegaram. Além disso, foram até o estúdio carregando ele. O coitado só dizia que tinha ido pegar a caixinha para o jornal entrar no ar. Alguém do switcher notou que a coisa podia fugir do controle e soltou um 'Achamos! A caixinha está aqui!'. Explicamos tudo aos seguranças, mas sem falar nada que era brincadeira, óbvio. Depois que tudo foi resolvido e o jornal entrou no ar, contamos a verdade para o técnico de áudio", relembra Santoro às gargalhadas.
O jornalista explica que a participação na bienal também tem o propósito de rever amigos que fizeram parte da emissora.
"Já realizamos três encontros com ex-colegas, em 2011, 2015 e 2018. O próximo seria em 2020, mas infelizmente veio a pandemia. E lamentavelmente tivemos perdas que nos doeram muito, como o falecimento da Leila Richers, por câncer, e a morte do filho do Eloy Decarlo (voz padrão da emissora), o Eloy Decarlo Júnior, vítima de covid-19. Então estava difícil fazer qualquer evento de reencontro, mas como agora o momento está menos pior do que antes e graças à vacinação foi possível ter a bienal, espero poder reencontrar alguns dos queridos amigos para matar as saudades", comenta.
Nova geração apaixonada pela Manchete
A emissora fez tamanho sucesso que até hoje deixou órfãos alguns de seus telespectadores. E com o propósito de ajuda a manter viva a história da Manchete que é possível encontrar alguns desses trabalhos na internet.
Em 2013, o jornalista Fernando Borges dirigiu o documentário "Aconteceu, Virou Manchete" feito em conjunto com colegas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
Já em 2018, a jornalista Vanessa Vense desenvolveu o "Família Manchete" junto com colegas da UniSuam. Neste caso, além do documentário, também há um canal com algumas das entrevistas na íntegra.
E para falar não só da televisão, mas também de outras empresas que fizeram parte do Grupo Bloch, como as rádios Manchete AM e FM e a Revista Manchete, os jornalistas Vítor D'Ávila e Rennan Rebello mantêm o blog Memórias da Manchete e Grupo Bloch, com raridades sobre os veículos criados por Adolpho Bloch. Além disso, ambos também têm um podcast sobre o assunto, o Manchetecast, que pode ser acessado no Spotify