Pessoas com deficiência e seus familiares fizeram uma manifestação, nesta quarta (17), em frente à prefeitura do Rio contra o fechamento dos Centros Municipais de Referência à Pessoa com Deficiência. Segundo os familiares, os CRPDs de Irajá e Santa Cruz foram fechados no início do mês de outubro e milhares de portadores de deficiência estão sem tratamento.
O problema nesses CRPDs ocorre desde maio do ano passado, quando o contrato de serviço com a Ong Cebrac, que administrava esses centros, se encerrou. A prefeitura, que não abriu a tempo uma nova licitação, vinha realizando contratos emergenciais para manter os serviços ativos, porém de forma precária. Os Centros de Referência, a partir daí, passaram a ter uma redução no número de funcionários, um aumento no tempo de espera, falta de material de trabalho e os pacientes começaram a ser atendidos coletivamente, prejudicando, assim, os tratamentos.
A Subsecretaria da Pessoa com Deficiência argumenta que a Ong Cebrac decidiu não continuar na administração das unidades e que, com o término do contrato emergencial com a Prefeitura, o órgão não viu outra alternativa a não ser fechá-las temporariamente. A Subsecretaria informou que a Prefeitura está abrindo uma nova licitação para que outra organização assuma a gestão dos Centros de Referência, porém poderá levar 45 dias ou mais para a conclusão.
Durante o protesto, representantes dos familiares e deficientes solicitaram uma audiência com o prefeito Marcelo Crivella, que acabou não acontecendo. Segundo a assessoria da prefeitura, o prefeito e seus secretários não se encontravam no local.
A vereadora Luciana Novaes, presidente da Comissão da Pessoa com Deficiência da Câmara, que estava presente no ato, considera um absurdo que ainda não se tenha uma posição emergencial para o fechamento dos CRPDs,
"Estamos falando de centenas de pessoas, principalmente com deficiência, que estão com seus tratamentos paralisados e retrocedendo por causa disso. Não estamos aqui pedindo um favor, estamos aqui cobrando que os nossos direitos sejam cumpridos", criticou
Jeane de Paula, mãe da paciente Nathalia, do CRPD Santa Cruz, conta que sua filha tem paralisia cerebral, além de epilepsia, e que o diagnóstico que ela teve com o neurologista é que iria vegetar, mas graças à reabilitação que ela faz desde os 11 meses, consegue se comunicar com muita dificuldade e usar o lado direito do corpo para pegar alguma coisa. "Nathalia está há 15 anos no tratamento e hoje ela está comendo e bebendo, que são coisas simples que qualquer pessoa sabe fazer, mas em função da perda do tratamento, ela está perdendo tudo isso, e eu não tenho condições de pagar, pois tudo é muito caro", lamentou.
Bárbara Gonçalves, paciente do CRPD Irajá, bastante emocionada, disse:
"Gostaria de chamar atenção de todos. Eu preciso muito do Centro de Referência e hoje o que quero dizer a vocês e ao nosso prefeito é que precisamos de mais amor em nossa sociedade. Precisamos que olhem para nós com amor, porque um Brasil melhor para todos é quando um governante cumpre sua palavra e mantém os nossos direitos preservados. Isso é amor, isso é cuidar bem das pessoas. Não somos invisíveis", destacou.
Os CRPDs de Irajá e Santa Cruz atendiam diariamente 300 usuários e tinham cerca de 80 profissionais terceirizados. Os profissionais terceirizados estavam com os salários atrasados e, a cada três meses, com aviso prévio desde o encerramento dos contratos emergenciais.
A prefeitura possui sete Centros de Reabilitação, sendo que um nunca foi aberto
A prefeitura do Rio de Janeiro possui atualmente quatro Centros Municipais de Referência à Pessoa com Deficiência em funcionamento. São eles: Centro Integrado de Atenção à Pessoa com Deficiência Mestre Candeia, no Centro; Centro Municipal de Referência da Pessoa com Deficiência Vila Isabel; Centro Municipal de Referência da Pessoa com Deficiência Campo Grande; e Centro Municipal de Referência da Pessoa com Deficiência São Conrado.
Além dessas quatro unidades que estão em funcionamento e as de Santa Cruz e Irajá que estão paralisadas, existe o Centro de Referência para Pessoas com Deficiência (CRPD) de Jacarepaguá /Mato Alto. O Centro de Reabilitação do Mato Alto teve sua entrega ainda na gestão anterior e fica ao lado da Vila Olímpica do Mato Alto, na Praça Seca. O local possui 3.477 metros quadrados, com dois andares, e tem salas de atendimento, vestiários, consultórios médicos, um auditório e um anfiteatro anexado.O prédio, apesar de inaugurado, está vazio e aguarda, há dois anos, uma licitação para compra de equipamentos.