A partir de 1º de janeiro de 2022, a Síndrome de Burnout passa a ser classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como doença ocupacional, que é adquirida pelo trabalhador em razão da sua atividade profissional.
A doença é um distúrbio emocional em que a principal causa é justamente o excesso de trabalho. Segundo dados da Secretaria Especial da Previdência e Trabalho, mais de 576 mil brasileiros foram afastados em 2020 devido a transtornos mentais e comportamentais.
“Ao invés das pessoas se limitarem, trabalharem em um carga horária com pausas, por exemplo, elas querem sempre bater mais metas. Sendo pressionadas a isso pelo trabalho, pelo chefe, e ocorre até mesmo nos empreendedores. A pausa é muito importante, além de observar os sintomas, e entender que a gente não consegue atender todas as expectativas”, explica a biomédica Dra. Lorena Soares.
De acordo com a OMS, a síndrome é caracterizada por três dimensões:
Com a nova classificação da OMS, o diagnóstico da Síndrome de Burnout poderá ser mais preciso. Como os sintomas são parecidos com os de uma crise de ansiedade, é necessário que o paciente observe quais são os gatilhos que os coloca nessa situação.
“O diagnóstico é feito por meio da observação de sintomas de cansaço, fadiga, esgotamento físico e mental, dor de cabeça, tontura, tremores, falta de ar, distúrbios de sono e gastrointestinais. Todos esses sintomas precisam estar relacionados ao trabalho, ao excesso e à pressão do trabalho. Então, a pessoa tem esses sintomas indo trabalhar ou próximo de executar uma tarefa, por exemplo”, esclarece Dra. Lorena.
A gaúcha Carol Milters, de 34 anos, que é escritora e fundadora da Semana Mundial de Conscientização da Burnout, evento que acontece todo ano na última semana de novembro, teve dois episódios de burnout; o primeiro entre 2014 e 2016, e o segundo entre 2017 e 2019.
“O primeiro episódio foi quando ainda morava no Brasil e o segundo foi na Holanda, onde eu moro há 5 anos. Quando me mudei para cá, eu comecei a trabalhar em um lugar novo e, com quatro meses, eu tive uma crise de ansiedade, que me levou a uma crise de pânico, que me levou a um processo de depressão. Nas consultas médicas, eu descobri que o que estava passando era burnout. Eu tinha uma ideia de que o episódio que tive no Brasil também era burnout, mas eu não sabia, nenhum profissional que eu consultei mencionou esse nome”, conta.
Em 2020, Carol escreveu uma coletânea de crônicas sobre sua experiência com a ansiedade, depressão e pânico causados pelo burnout, e começou a fazer conteúdo para redes sociais como forma de conscientizar as pessoas sobre a doença.
Foto: Reprodução/Instagram
Desde que recebeu o diagnóstico, a escritora faz acompanhamento terapêutico e tratamento psiquiátrico para lidar com a síndrome no dia a dia. Entretanto, a Dra. Lorena ressalta que o diagnóstico do burnout é muito particular e depende do nível de sintomas que cada um sente.
"Às vezes o psiquiatra pode passar um remédio para ansiedade, um antidepressivo. Mas, o principal tratamento é detectar o gatilho que está gerando essas crises e criar uma estratégia, com base nisso, que possa te dar uma qualidade de vida melhor. Hoje, para mim, o segredo do tratamento é melhorar a qualidade de vida no trabalho”, afirma.
De acordo com o Ministério da Saúde, o tratamento normalmente surte efeito entre um e três meses, mas pode perdurar por mais tempo, conforme cada caso. As mudanças nas condições de trabalho e, principalmente, nos hábitos e estilos de vida são essenciais para reverter o quadro, além da prática regular de atividade física e exercícios de relaxamento, para aliviar o estresse e controlar os sintomas da doença.
A pasta também recomenda, após o tratamento médico, que a pessoa tire férias e desenvolva atividades de lazer com pessoas próximas, como amigos e familiares.
Pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) está apta a oferecer, de forma integral e gratuita, todo tratamento, desde o diagnóstico até o tratamento medicamentoso.
De acordo com o Índice de Bem-Estar Corporativo (IBC), plataforma criada pela empresa Zenklub especialista em cuidado emocional corporativo do Brasil, o panorama geral da saúde mental dos colaboradores é de 49,25 em uma escala de 0 a 100, cujo índice ideal mínimo é de 78.
Em relação ao burnout, o índice é de 58,75. Neste caso, quanto menor a pontuação, melhor. “Precisamos olhar de uma forma crítica a nossa cultura do trabalho, para a forma como as organizações estão estruturadas, a tolerância que algumas empresas têm para práticas abusivas e assédios. Isso é muito importante, porque se não, a gente fica ‘enxugando gelo’. A gente medita, faz terapia e, no fim, volta para um lugar que é abusivo”, declara Carol.
Quando avaliado por região, o Centro-Oeste tem o melhor índice de bem-estar corporativo, com 53,08, já o Nordeste tem o menor índice, com 44,93. No Sudeste, o índice também é médio, chegando a 48,85.
Na avaliação da Dra. Lorena, com a classificação da OMS, as empresas precisarão entender melhor seu corpo de funcionários e criar estratégias para evitar a doença no ambiente de trabalho. “Um chefe, um dono de uma empresa, ou mesmo o profissional que é o dono da sua própria empresa tem que entender que aumentar a demanda, sem nenhum tipo de pausa, vai atrapalhar a qualidade do trabalho executado. Ter pausas durante períodos de tarefas no trabalho vai aumentar a produtividade. É importante também que o trabalhador consiga se desligar de tudo isso quando estiver fora do ambiente de trabalho”, orienta.
Fonte: Brasil 61