Os problemas no Hospital Federal do Andaraí (HFA) são antigos. Em 2017, a falta de profissionais de saúde, além de material hospitalar, provocou o fechamento de unidades importantes como a emergência e algumas enfermarias. Agora, o setor coronariano está ameaçado de encerrar as atividades, pois não há um quantitativo de equipe médica adequada para atender os pacientes.
De acordo com informações dos funcionários, o chefe da unidade que cuida dos pacientes com problemas cardíacos, o cardiologista Geraldo Ventura Chedid, enviou um e-mail a direção geral do hospital informando a falta de médicos e a impossibilidade do setor continuar em funcionamento.
Em nota enviada ao Portal Eu,Rio!, o Ministério da Saúde comunicou que a direção do HFA selecionou 4 médicos por meio de um processo seletivo realizado em 2018. Segundo a nota, os profissionais foram escolhidos para atuar imediatamente no serviço de cardiologia que conta com atendimento de alta complexidade e leitos de terapia intensiva.
O comunicado ainda informou que além da manutenção da força de trabalho que já existe, o Hospital Federal do Andaraí ainda recebe um reforço adicional de 721 profissionais. Eles também foram selecionados no último processo e estão sendo distribuídos dentro das prioridades assistenciais.
De acordo com o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (CREMERJ), a entidade já tomou conhecimento do grave déficit de recursos humanos no HFA e vai tomar todas as medidas possíveis para reverter este quadro, já que a unidade é uma das referências na assistência da população da Zona Norte.
Situação mobiliza moradores da região
Embora a crise na saúde pública seja uma realidade de muitos hospitais do estado do Rio, a população não aceita mais tanta negligência. No caso do HFA, a situação chamou a atenção dos moradores dos bairros vizinhos que, muitas vezes, dependem da assistência médica do centro de saúde.
Por tal motivo, a Associação dos Moradores do Grajaú (AMGRA) foi uma das primeiras a se manifestarem sobre o assunto e a buscar providências para solucionar o problema. A entidade enviou um ofício para Maria Lucia, diretora geral do hospital, assinado pela sua presidente, Nicinha Carvalho, e pelo secretário Fernando José. No documento, os representantes questionaram as falhas do serviço.
“Se realmente ocorrer o fechamento desta unidade, a demanda espontânea de pacientes com problemas cardiológicos não vai ter um suporte adequado. O Grajaú, por exemplo, é um bairro com muitos idosos e precisa desse tipo de assistência médica. Não só o nosso bairro vai ser prejudicado, mas todos os outros que tem o HFA como referência. Por isso, exigimos uma ação responsável. A sociedade precisa de cuidados dignos e o SUS deve abraçar a população que está padecendo com essa crise desumana”, relembrou Nicinha Carvalho.
Vale destacar que a AMGRA também é integrante do Conselho de Saúde da CAP 2.2 e promete não medir esforços para ajudar a instituição em benefício de todos os moradores do Rio de Janeiro.
De acordo com o Tesouro Nacional, em seu relatório de avaliação de receitas e despesas diárias relativo ao 4° bimestre de 2018, os gastos com o Ministério da Saúde foram de R$ 246,9 milhões.
Esse valor foi investido no Incentivo Financeiro aos Estados, no Distrito Federal e Municípios para a Vigilância em Saúde, na Aquisição e Distribuição de Imunobiológicos e Insumos para Prevenção e Controle de Doenças, na Promoção da Assistência Farmacêutica por meio da aquisição de medicamentos do Componente Estratégico, no Apoio Financeiro para Aquisição e Distribuição de Medicamentos do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica e também na Promoção da Atenção Básica em Saúde.
Em 2017, a Lei Orçamentária Anual (LOA) do Governo Federal foi sancionada com uma previsão de R$ 3.505 trilhões para a saúde e educação. O valor sofreu um aumento de R$115,3 bilhões em relação ao ano retrasado. Desse modo, o total chegou a 125, 3 bilhões para o Ministério da Saúde, numa votação sem vetos tanto no Poder Legislativo quanto no Executivo.
Embora os investimentos nacionais pareçam suficientes, um levantamento realizado pelo Ministério Público do estado do Rio de Janeiro apontou que há 341 leitos fechados nos hospitais do município. O quadro é grave e se reflete nas esferas municipais, estaduais e federais.
Contudo, mesmo diante de tantos problemas, na última quarta-feira (17), a primeira audiência pública para discutir a lei orçamentária da capital carioca para 2019 foi marcada por uma polêmica. O projeto apresentado pelo secretário da Casa Civil do município, Paulo Messina, reduziu para R$ 30,6 bilhões os gastos com a saúde. Isso significa, um corte de 12% no orçamento.
No ano passado, o estado fluminense aprovou um orçamento de R$ 6,3 bilhões para o setor. Neste período, o PIB da capital foi o segundo maior na participação do país atingindo a marca de R$320,7 bilhões. Entretanto, um paradoxo entre gastos exorbitantes e as gestões ineficazes influenciam diretamente na atual realidade dos hospitais públicos.