Com índice de 13 milhões de desempregados no Brasil, vários trabalhadores se submetem a situações constrangedoras e até humilhantes com medo de entrarem para a indesejável estatística. Apesar de muitos suportarem várias coisas do ambiente profissional, poucos são os que conseguem êxito ao superarem um problema no convívio do emprego.
Segundo o International Stress Management Association, 69% dos brasileiros se estressam muito no trabalho, devido a diversos fatores como longas e exaustivas jornadas, sobrecarga de tarefas e a tensão no ambiente corporativo, o que resulta até mesmo no afastamento do funcionário da função e no comprometimento do serviço.
Um problema que tem se tornado cada vez mais comum é o do assédio moral, que é quando o empregado se sente coagido a tomar uma decisão com a qual não está de acordo. Em conversa com o "Portal Eu, Rio!", a consultora de RH e coach, Dilza Taranto, expica que o conceito é mais amplo e salienta que a situação pode também acontecer de forma inversa, ou seja, do empregador praticar tal ato com o patrão.
"Algumas práticas como instruções mal dadas, sobrecarga de atividades, cobranças de metas inatingíveis, isolamento do colaborador e até restrições quanto ao uso do banheiro podem ser consideradas assédio moral. Porém, para ser assim considerado é necessário que a prática seja repetitiva, caracterizando perseguição, causando problemas físicos ou psicológicos no funcionário. Muitos entendem, de forma errada, que o assédio moral só é praticado pelos chefes a seus subordinados, mas também pode ocorrer entre colegas de trabalho e até mesmo dos subordinados para seus superiores. Esta caracterização está ligada à dignidade do trabalhador e não a questões hierárquicas", afirmou Dilza.
Alguns empregados afirmam que, desde a nova lei trabalhista passou a vigorar, tiveram que conviver constantemente com a ameaça da dispensa porque o empregador se sentiu mais à vontade para submetê-los a pressão. Foi o caso da jornalista carioca Marcella Granja, que trabalhou em um escritório de assessoria de comunicação. Ela alegou que quando algum cliente da agência optava por encerrar o contrato, o dia de trabalho se transformava em um "inferno".
"Sempre quando algum cliente que contratava a agência pra fazer assessoria decidia encerrar o contrato, o ambiente na empresa ficava um inferno. Na época, meu chefe dizia que iria fechar a empresa, que ia ficar sem dinheiro e gritava com todo munto, tanto que muitos pediam demissão com apenas três meses trabalho, em média. Quando completei o primeiro ano e fui pedir minhas férias, ele ameaçou me demitir por insubordinação. A situação chegou no meu limite e resolvi pedir acordo", contou a profissional que hoje atua por conta própria.
Dilza Taranto admite que a mudança na CLT aumentou o caso de doenças que ela chama de "invisíveis". Ela também afirmou que a sensação de perda de alguns direitos deixou muitos trabalhadores mais sensíveis a esses mesmos tipos de doença, mas ela alega que não se pode deixar de ver os pontos positivos na legislação.
"Percebemos um aumento nas doenças "invisíveis" após a reforma trabalhista, tais como estresse, transtornos de humor, síndrome do pânico, depressão, ansiedade, dentre outras, devido à crescente cobrança e competição. A sensação de perda de vantagens com a reforma trabalhistas também contribui significativamente para maior incidência dessas doenças. O que aconteceu, na verdade, foi maior flexibilização e condução a negociações entre empregados e empregadores do que não estiver previsto em lei", salientou.
Embora argumente que a alteração na lei também trouxe coisas positivas para o trabalhador, a coach reconhece que a jornada de trabalho adotada por alguns países europeus, de 6 horas diárias, seria a mais adequada para ser praticada também no Brasil
"Estou de acordo que o ideal é se trabalhe 6 horas por dia, principalmente se a escolha da jornada de trabalho puder ser estabelecida mediante negociação entre empregado e empregador. No caso das mulheres, isso propicia uma melhor conciliação com seus papéis de mãe e dona de casa. Para o homem, além de poder participar mais dos cuidados com os filhos e tarefas de casa, poderá conseguir outra ocupação para aumentar a renda familiar. O limite disso é sempre individual e o excesso precisa ser constantemente observado", comentou Dilza.