Musical 'A cor púrpura' reestreia no Teatro Riachuelo
Espetáculo é uma adaptação brasileira criada pelo jornalista Artur Xexéo
Por Moura Júnior em 06/01/2022 às 14:23:51
Imagem: Rafael Nogueira
Na sexta-feira da próxima semana (14), o espetáculo "A cor púrpura" reestreia no palco do Teatro Riachuelo, no Centro do Rio, para uma curta temporada. Sucesso no Rio, em São Paulo e em Salvador, o musical adaptado pelo jornalista Artur Xexéo é uma superprodução que conta com 17 atores em cena, 90 figurinos, um palco giratório de seis metros de diâmetro e uma escada curva com sistema de traveling em volta do cenário.
De volta à capital carioca, a peça querecebeu 87 indicações e uma série de prêmios, entre eles o APTR, Cesgranrio, Shell e Bibi Ferreiraficará em cartaz até 13 de fevereiro, com sessões de sexta a domingo. Segundo o diretor, Tadeu Aguiar, que em 42 anos de carreira no teatro nunca ficou tanto tempo parada, essa temporada vai ser dedicado ao amigo Xexéo.
“Durante a pandemia tivemos a perda do nosso amigo e grande parceiro, Artur Xexéo. Então, a dor aumentou ainda mais. E, agora, na volta aos espetáculos, a saudade é muito grande. Dedicaremos essa temporada ao Xexéo, nosso querido irmão", destacou Tadeu.
Vale relembrar que o musical é inspirado no livro da escritora Alice Walker. A autora foi a primeira negra a ganhar o Pulitzer pela obra lançada em 1982, mas que continua contemporânea ao retratar relações humanas, de amor, poder e ódio, em um mundo pontuado por estruturais diferenças econômicas, sociais, étnicas e de gênero.
Em 1985, o livro também ganhou uma versão para o cinema que foi dirigida por Steven Spielberg, recebendo 11 indicações ao Oscar. Em 2005, na Broadway, a adaptação para um musical teatral e, em 2016, uma nova montagem que recebeu dois Tony e o Grammy de melhor álbum de teatro musical.
A versão brasileira é fiel à obra literária e apresenta a trajetória e luta de Celie (Letícia Soares) contra as adversidades impostas pela vida a uma mulher negra, na Geórgia, no decorrer da primeira metade do século XX.
Na adolescência, a personagem tem dois filhos de seu suposto pai (Jorge Maya), que a oferece a um fazendeiro local para criar seus herdeiros. Entre eles, está Harpho (Alan Rocha). Na fazenda, ela lava, passa e trabalha sem remuneração e é tirada à força do convívio de sua irmã caçula Nettie (Ester Freitas), passando a morar com o marido Mister (Wladimir Pinheiro). Enquanto Celie resigna-se ao sofrimento, Sofia (Erika Affonso) e Shug (Flávia Santana) entram em cena, mostrando que há possibilidade de mudanças e novas perspectivas, esperança e até prazer.
'Música por trás da cena'
A direção musical é de Tony Lucchesi. São 32 números musicais, contando com as vinhetas. Ele contou sobre o processo de produção do projeto.
“Tem uma parte do espetáculo que acontece na África. Para este momento, abri as vozes, trabalhei com polifonia, com outros sons, uma música por trás da cena”, revelou Tony.
Além dos atores, há uma orquestra composta por oito músicos que tocam piano-condutor, teclado, saxofone alto, clarinete, flauta, saxofone barítono, clarinete, clarinete baixo, saxofone tenor, trompete, fliscorne, violões, baixos, bateria e percussão.
Cenografia criada a partir de um estudo profundo do texto
Tanto no livro como no musical, as mudanças de vida da protagonista estão relacionadas ao ambiente no qual ela vive. Pensando nisso, a cenógrafa Natália Lana criou uma casa giratória como elemento central, representando as diferentes facetas da trajetória da vida da personagem. Contonando a casa, uma espécie de escadaria construída ao longo do tempo e de forma não ortogonal, representando a diversidade de ambientes externos e de aprisionamento em certos pontos da história.
A estrutura da casa foi baseada nas construções do sul dos Estados Unidos e teve como inspiração as shack, representando o tradicional porch, varanda onde se reúnem famílias americanas. Natália falou sobre como se inspirou para criar o projeto de cenografia da peça.
“Para a criação do cenário, foi fundamental a leitura do livro, mergulhando fundo no estudo do texto, pensando em como poderíamos representar esta história que se passa em outro país, mas que ao mesmo tempo representa tanto da nossa história e da força destas mulheres negras que construíram o Brasil”, descreveu a cenógrafa.
Manifesto de amor No musical tudo é grandioso. São 90 figurinos, confeccionados com 350 metros de tecidos, passando por processos de tingimento artesanal e impressão em serigrafia. O objetivo é retratar o tempo da costura feita em casa. Responsável pela concepção das roupas, o figurinista Ney Madeira disse que procurou valorizar a costura manual.
“Na América, as colchas de retalhos produzidas desde a colonização, são influenciadas pela estética da África, onde o trabalho de costura de retalhos é prática centenária. Desta forma, o conjunto de figurinos do espetáculo formará um "quilt", em tons envelhecidos, retratando a Geórgia da primeira metade do século passado. Na concepção do figurino é no trabalho de costura manual que Celie encontra refúgio na dura realidade de seu dia a dia. Neste panorama, a cantora de jazz Shug Avery é o manifesto de amor e liberdade de Celie e pontua sua trajetória com trajes de tons de cor púrpura saturados”, revelou Ney Madeira.
trabalho da coreógrafa Sueli Guerra dialoga com a direção de movimento dos atores, priorizando a dramaturgia do espetáculo. “Os números de canto e dança ultrapassam o conceito da coreografia e organização de passos. O físico, a situação dramatúrgica em que o personagem se encontra e a movimentação corporal, estão totalmente a serviço de contar uma história, estimulando um mergulho mais profundo na obra”, finaliza Sueli.
Segurança e emoção A coordenadora de produção, Norma Thiré, garante que aqueles que forem assistir presencialmente ao musical estarão bastantes seguros, já que todos os cuidados de prevenção à Covid-19 estão sendo tomados.
"Todo mundo tem que usar máscara no backstage, os atores são testados semanalmente contra a Covid - 19. Nossa equipe está inteiramente vacinada, inclusive com a terceira dose. No teatro, testam a temperatura de todos na entrada. Tem álcool gel espalhado por todo o teatro, máscaras para o público, vídeo antes da peça falando sobre os protocolos. Para nossa equipe também tem álcool gel em todos os camarins", disse a produtora.
Já para o produtor geral, Eduardo Bakr, além da segurança, o retorno ao Rio vai ser marcado pela emoção.
“Voltar à cena com A Cor Púrpura – O Musical no Rio de Janeiro é uma emoção enorme, porque o projeto nasceu aqui, ao lado do Xexéo que sempre foi nosso super parceiro e com ele fizemos uma temporada de muito sucesso. Acho que vai ser maravilhoso estar no Teatro Riachuelo com a versão brasileira da música eternizada por Xexéo” , concluiuEduardo Bakr.
"A cor púrpura" fica em cartaz entre 7 de janeiro a 13 de fevereiro de 2022. As sessões acontecem nas sextas, às 20h, aos sábados, às 16h e 20h30? ? e nos domingos, às 18h. O Teatro Riachuelo fica localizado na Rua do Passeio, N° 38/40, no Centro do Rio de Janeiro. Os ingressos podem ser adquiridos nowww.sympla.com.br e custam entre R$ 25 e R$ 170.