Fuscas-táxis encantam moradores e turistas no Alto da Boa Vista
Após um abaixo-assinado, os primos Luiz Cláudio e Marcos Cardoso ganharam uma autorização especial da prefeitura para continuarem circulando
Por Moura Júnior em 09/01/2022 às 08:18:05
Imagem: Arquivo Pessoal
Não há dúvidas que o Rio de Janeiro é cheio de encantos e que parte desta magia é impulsionada pelo espírito desprentesioso dos cariocas. Quem conhece sabe que cada canto cidade maravilhosa é uma atração diferente e que, sem muito esforço, desperta paixões entre visitantes e moradores. Os primos Luiz Cláudio, 54, e Marcos Cardoso, 61, são parte disso. Os dois trabalham como taxistas e estão acostumados a apresentarem aos turistas as belezas urbanas e naturais da capital fluminense.
Aliás, como bons representantes do 'carioquismo', eles também investiram no modo diferenciado para se destacarem entre os mostoristas, provando que originalidade é apostar na tradição. Desde 1992, Marcos e Luiz trabalham com seus fusquinhas-táxis no Largo da Usina, localizado no bairro do Alto da Boa Vista, na Zona Norte do Rio. O local é conhecido como ponto dos fuscas. Isso porque, há alguns anos, chegou a ter aproximadamente 15 veículos do famoso modelo da Volkswagen.
"Comecei a trabalhar como taxista após ter saído de um emprego e usado o dinheiro da indenização para comprar um carro com autonomia que, na época, era um Fusca modelo 1979. De lá para cá, eu continuei no ofício e sigo até hoje muito feliz. Afinal, a gente diz que essa profissão é como se fosse uma boa cachaça. Quando você começa a trabalhar e a ter contato com os passageiros, ouvindo várias histórias e ajudando muitos deles, não há nada mais gratificante. E isso vicia", contou Luiz.
Atualmente, ele e o primo mantém seus preciosos e simpáticos automóveis como se fossem verdadeiras joias raras e, realmente, são. Tanto, que conquistaram o público e se transformaram em mais um ponto turístico, não somente para quem deseja curtir atrações que estão fora do circuito já conhecido, mas também para aqueles que desejam compartilhar a experiência de viajar em um dos mais famosos carros do mundo.
Para Luiz Cláudio, é justamente esse encanto que os fusquinhas despertam nos turistas e moradores da localidade que move a sua vontade de continuar trabalhando.
"Após o relançamento do modelo, nós compramos um zero quilômetro em 1995. E, desde então, estamos no ponto do Alto da Boa Vista, resistindo no lugar que, um dia, chegou a ter mais de 15 fusquinhas trabalhando. Os moradores da região conhecem os carros e, apesar de não ser nenhuma novidade, sempre elogiam o estado deles e pedem pra gente se manter no ponto. Já os passageiros que são turistas de outros estados ou países sempre ficam maravilhados e não perdem a oportunidade de tirar uma foto ou dar uma volta. Alguns nem acreditam que é um automóvel de verdade. Sem dúvidas, esse reconhecimento é o que acaba dando vontade de preservá-los e seguir em frente", contou o motorista.
Foi por meio de um abaixo-assinado que Luiz Cláudio e Marcos conseguiram viabilizar um decreto assinado pelo prefeito Eduardo Paes permitindo que os fuscas continuassem suas atividades. Com isso, eles se tornaram os dois únicos modelos licenciados para continuarem nas ruas do Rio. A luta em manter os veículos em atividade reflete a paixão dos primos por outros tempos e pela tradição. Consequentemente, também valoriza o turismo na localidade. Por tantos motivos, os dois afirmam que não há previsão nenhuma para encerrarem os trabalhos.
"A gente só vai parar quando morrer, pois enquanto tivermos vivos e com disposição para trabalhar os fusquinhas vão continuar rodando a cidade. Nós só não garantimos que a tradição vai ser mantida depois da morte. Mas até lá, seguimos firmes e fortes", avisou Luiz.
Sobre o assunto, Marcos é categórico e concorda com o primo
"Previsão pra parar? Se depender da gente, ainda vamos ficar com eles por muitos anos. Até que a morte nos separe! É assim que nós falamos", concluiu.