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Declaração de Tiago Abravanel no BBB22 sobre obesidade acende alerta de especialista

Médico viu com preocupação a defesa feita pelo ator em aceitar o corpo obeso como saudável.

Por Portal Eu, Rio! em 21/01/2022 às 18:05:01

Tiago Abravanel defendeu a obesidade saudável e foi criticado por médico especialista. Foto: Divulgação

O médico especialista no tratamento da obesidade Cid Pitombo defende que, sim, a gordofobia e a invisibilidade aos problemas enfrentados pelos obesos devem ser combatidos, mas jamais aceitar o corpo obeso como saudável, acreditando que continuará assim por toda a vida. Muitas doenças estão relacionadas à obesidade, indo além do colesterol alto. Pitombo é pesquisador do assunto há mais de 20 anos e responsável pelo tratamento dos também atores André Marques e Leandro Hassum.

Especialista em tratamentos para obesidade e cirurgias bariátricas, o médico e pesquisador Cid Pitombo viu com preocupação a defesa feita pelo ator Tiago Abravanel, no BBB22, do conceito de "obesidade saudável". Estudo feito pela Universidade de Birmingham, no Reino Unido, analisou 3,5 milhões de pessoas por 10 anos e concluiu que mesmo com exames saudáveis num primeiro momento estes obesos seguem tendo riscos de desenvolver problemas cardíacos e vasculares.

Dos pacientes acompanhados, 61 mil desenvolveram doença coronariana com o passar do tempo, apesar de estarem metabolicamente saudáveis no início do estudo. Segundo a pesquisa, os obesos que pareciam saudáveis tinham risco 50% maior de desenvolver doença cardíaca do que as pessoas com peso normal. Além disso, os pacientes que estavam acima do peso tinham um risco 7% maior de ter doenças vasculares cerebrais e o dobro de risco de ter insuficiência cardíaca.

Por isso, a fala do ator Tiago Abravanel durante o BBB22, apesar de importantíssima para exigir o fim da gordofobia, preocupa sob a luz da Medicina e da Ciência sobre os aspectos do efeito da obesidade prolongada no organismo.

“As pessoas estão confundindo o amor ao próprio corpo e a autoaceitação, com saúde. As pessoas querem conviver com a gordura, não ter que fazer dietas, não usar medicamentos e não fazer exercícios físicos, não recorrer a uma cirurgia bariátrica quando for o caso. E isso é um perigo. É uma desistência de ter de fato um organismo mais saudável e mais longevo. A impressão que fica é que eles acham que nunca vão conseguir e então é mais fácil deixar como está. Não, não pode ficar como está, porque lá na frente, quando a idade chegar, muitas outras doenças podem aparecer. A incidência das doenças relacionadas à obesidade é cada vez maior à medida que a pessoa envelhece. Fora a depressão que já costuma surgir desde muito cedo. O obeso sofre o tempo todo. Com suas dificuldades físicas e emocionais e com o preconceito, com a falta de visibilidade. O mundo realmente não está adaptado a ele e vários obstáculos surgem. Têm dificuldade para estudar, trabalhar, namorar, se divertir, se vestir, usar um transporte, fazer sua higiene, ter um filho...Então como desistir de emagrecer. Conheço a realidade de um obeso, como poucos. Estar obeso, principalmente o obeso mórbido, muita das vezes não é uma opção, é uma doença, já definida inclusive pela Organização Mundial de Saúde.?”, argumenta o especialista Cid Pitombo.

O médico lembra ainda que o preconceito surge também porque muitos vêem um obeso ou até mesmo um portador de obesidade mórbida como um preguiçoso, desleixado, glutão, mas o especialista esclarece que essas pessoas não são preguiçosas e sim portador de uma doença.

“Vivemos hoje uma epidemia de obesidade, com milhões de obesos pelo mundo e muitos deles no nosso país. E os números só aumentam. Ter preconceito pela condição física, seja ela obesidade ou qualquer outra, é um absurdo. Então penso que quem critica a gordofobia precisa também explicar que estar fora do peso, devido à mudança da configuração corporal, muitas vezes leva a diversas dificuldades. O portador de obesidade tem que lidar com o preconceito do olhar, do comentar, e com isso, estão agravando essa doença, pois o impacto psicológico no obeso muita das vezes pode se tornar eterno e a luta contra a doença invencível. A fobia, ou aversão ao portador de obesidade em 2022, já não era nem mais para ser discutida. Já era para ter acabado”, enfatiza o médico Cid Pitombo.

E complementa: “estar obeso, sabida e cientificamente, aumenta estatisticamente o aparecimento de dezenas de doenças, não só articular, muscular, cardiológica, pulmonar, bem como uma diversidade de doenças metabólicas como diabetes, alteração do colesterol, doenças renais e muitos tipos de câncer. E ainda temos as doenças psiquiátricas associadas, como depressão, isolamento social e até suicídio. Não estou afirmando que por ser obeso a pessoa está doente, assim como não falamos que por fumar, também está. O que estamos afirmando é que em ambas as situações se aumenta estatisticamente a chance de doenças quando comparada com a população que está no peso ideal e tem hábitos saudáveis. Quando me deparo com influenciadores e famosos difundindo a bandeira da obesidade, me preocupo. Estar obeso não deve ser nunca estimulado. O obeso precisa de orientação médica adequada”.

Doenças ligadas à obesidade - A diabetes é uma doença com maior relação com obesidade. Diversos são os estudos que demonstram essa relação. O aumento da gordura, principalmente a visceral (dentro da barriga) leva à produção de substâncias que prejudicam a ação da insulina e da glicose. O aumento de peso tem uma relação direta no aumento da pressão arterial, distúrbios no metabolismo do colesterol e triglicerídeos. Tudo isso leva a uma chance maior de infarto e desenvolvimento de doenças cardiovasculares associadas.

As causas e a relação direta entre câncer e obesidade não é tão conhecida como a do diabetes e doença cardiovascular. Mas em um encontro de especialistas em câncer em 2007 ficou claramente demonstrada a relação entre alguns tipos de câncer e obesidade, como câncer de pâncreas, pulmão, colon, esôfago, mama, rim entre outros.E estudos envolvendo quase 60 mil obesos demonstrou a clara relação entre obesidade e depressão. E diversos são os estudos nessa área.

Já com relação à doença pulmonar, quando se acumula muita gordura no abdome isso irá comprimir o diafragma, o músculo que divide o tórax do abdome. Com isso, comprime-se o pulmão e se dificulta a respiração. Além disso, o tórax fica menos flexível. Substâncias inflamatórias também são produzidas e atrapalham a função pulmonar, elevando a incidência de doenças como bronquite e asma. Um exemplo que comprava esse fato, foi a alta mortalidade de portadores de obesidade durante a epidemia do Covid-19.

O obeso é um organismo delicado e que pode desenvolver distúrbios musculoesqueléticos. Difundir atividades físicas em obesos, sem a devida orientação, por exemplo, pode levá–lo a lesões. Sabidamente, estar fora do peso aumenta a incidência de doenças osteoarticulares. Cerca de 1/3 das cirurgias de próteses de joelho no mundo são em obesos e a grande maioria das de quadril também.

Custo da obesidade - Hoje a obesidade já custa mais de 2,4% do PIB brasileiro. Vários são os trabalhos demonstrando que em um futuro não muito distante os sistemas de saúde não terão recursos suficientes para arcar com os custos das doenças associadas à obesidade. Não teremos como pagar a conta dos infartados, amputados, diabéticos e doentes renais. Estudo feito pela Universidade de Washington aponta a obesidade como uma crise de saúde pública em escala global.

A análise dos pesquisadores norte-americanos foi feita com base em relatórios de 35 anos de observação, incluindo quase 200 países. Aproximadamente 30% da população mundial está acima do peso, sendo 600 milhões de adultos e 150 milhões de crianças. E mesmo aqueles que não estão exatamente no nível considerado de obesidade devem se preocupar: das 4 milhões de mortes atribuídas ao excesso de gordura em 2015, quase 40% ocorreram entre sujeitos com IMC entre 25 e 30, nível considerado como sobrepeso.


Ouça no Podcast Eu, Rio! o médico Cid Pitombo sobre a diferença entre gordofobia e obesidade.



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