Estreia nesta quinta-feira (25), às 19 horas, no Espaço Furnas Cultural, em Botafogo, zona sul do Rio, a exposição Preto Branco - A fotografia na luta pelos direitos humanos, do fotógrafo Davy Alexandrisky, que comemora 50 anos de carreira. A exposição que foi realizada em Maputo, capital de Moçambique, ficará no espaço até 30 de Dezembro, enquanto é preparado o lançamento do livro homônimo, em novembro, mês da Consciência Negra.
O fotógrafo conta com um acervo de aproximadamente mais de mil fotografias produzidas em 2017, em duas incursões ao continente Africano.
A exposição surgiu por acaso quando Davy quis comemorar seus 50 anos de profissão e resolveu realizar um sonho, que era viajar para o continente africano para registrar as imagens do povo, das paisagens. Em busca de um lugar para ficar, entrou em contato com uma amiga que mora na Tanzânia. E entre conversas sobre seus planos, soube que a amiga fazia um trabalho voluntário com os albinos negros.
Foi quando se deparou com a história chocante de que os albinos são perseguidos, sequestrados e mutilados para que pedaços de seus corpos sejam usados em rituais de magiaa.
" Essa história ficou martelando na minha cabeça e mudou completamente meu planos. Ao invés de ir pra Tanzânia, voei para Moçambique com a intenção de fazer uma denúncia poética e formar uma rede mundial de proteção em defesa do direito dos albinos", declarou Davy.
Preto Branco é o nome da exposição, escolhido consensualmente com albinos africanos retratados pelas lentes de Davy. O nome foi inspirado num verso do poeta moçambicano Daniel Segundo Wate, que diz - "Somos almas pretas em carne branca".
Com sensibilidade, Davy optou por mostrar de forma poética o enfrentamento do albino pelo respeito a seu direito de viver, denunciando adversidades.
"Os albinos enfrentam graves problemas sociais e de saúde, consequência da simples impossibilidade fisiológica que seus corpos têm de produzir a melanina. O caráter dessa não faculdade inata, em suas relações, tem como resultado o bullying, o preconceito, a propensão a gravíssimas doenças dermatológicas e oftalmológicas e, o mais alarmante, a ameaça as suas vidas", completou.
Em suas andanças, Davy conheceu vários albinos e destacou o encontro com duas duplas de gêmeos: a albina Adelina e a negra Adelaide, que são de Chimoio, capital de Manica.
Segundo relatos do fotógrafo, Adelina está cursando o terceiro ano da Faculdade de Direito, enquanto a Adelaide cursa o terceiro ano da Faculdade de Engenharia Eletrotécnica. Elas tiveram experiências muito dolorosas.
Adelaide, a irmã negra, ficava muito enfezada quando as mulheres grávidas cuspiam nos próprios peitos ao cruzarem o olhar com o de Adelina, para que seus bebês não nascessem albinos. Mas elas superam cada dia todas as diversidades. E atentas à realidade de Adelina, que já conseguiu uma grande quantidade de protetor solar para distribuir para os albinos de sua cidade Chimoio, capital de Manica, na Região Central de Moçambique. Mas quer mais. Muito mais. Sua meta é uma grande "Feira Semestral" para distribuição de protetores solares para os albinos.
Combate à caçada aos Albinos
A exposição é o desdobramento de um projeto de pesquisa que nasce na intenção de um grito de alerta poético. O objetivo é sensibilizar pessoas dos quatro cantos planeta sobre as realidades em que vivem os albinos, especialmente, da necessidade da mobilização mundial pela defesa dos direitos humanos dos albinos na África.
"Sabe-se que, neste continente, os albinos são caçados e mutilados para que pedaços de seus corpos sejam utilizados em rituais de feitiçaria, para, supostamente, atender às demandas de curas e prosperidade econômica das pessoas que encomendam esses rituais. Em outras palavras, uma triste realidade!", lamentou o fotógrafo.
Na Tanzânia, Burundi, Malauí e outras localidades do continente africano, os albinos são considerados símbolo de boa sorte e são mortos, para que parte de seus corpos entrem no preparo de poções mágicas. Por causa da crença local, o sol deixou de ser o grande inimigo dos albinos nesta região.
Segundo a ONU, membros de indivíduos com albinismo chegam a ser comercializados no mercado ilegal extremamente lucrativo: braços e pernas podem custar 2 mil dólares, enquanto que um corpo inteiro chega a 75 mil dólares. Relatos contam que indivíduos são desmembrados ainda vivos, tendo seus dedos, membros, olhos, partes genitais, pele, ossos, a cabeça e o cabelo arrancados com facões.