Qual o maior problema que o Brasil enfrenta? Ou o Japão? Ou os Estados Unidos? Ou ainda a Alemanha? As respostas variam, naturalmente, mas algumas são em comum: Anos de crescimento lento ou recessão, desilusão por parte da classe trabalhadora, gigantescas dívidas públicas que não param de crescer e a imigração desenfreada. Tudo isso se reflete em um único problema que é a falta de consenso político sobre como lidar com crises.
Renda crescente, baixa dívida pública, um estado de bem-estar acessível, o apoio popular à imigração em massa e um amplo consenso político que sustentam essas questões são os sonhos da maioria dos governantes de países ricos ou emergentes. Muitos políticos não conseguem se quer imaginar um lugar que combine todas essas características. Mas esse país já existe, e chama-se Austrália.
Talvez porque esteja geograficamente isolada, ou porque tenha apenas 25 milhões de habitantes (quase o mesmo que o Estado de Minas Gerais), ou seja estereotipada principalmente como lar de marsupiais fofinhos, e acabe atraindo pouca atenção. Mas o fato é que a sua economia é, indiscutivelmente, a mais bem-sucedida dentre os países mais ricos do mundo. Estamos falando de uma economia que cresce há 27 anos sem recessão, um recorde para uma nação desenvolvida.
Seu crescimento acumulado, neste período, é quase que o triplo do que a Alemanha conseguiu. A renda média da nação subiu quatro vezes mais rápido do que os Estados Unidos. E a dívida pública é de apenas 41% do PIB, enquanto a brasileira encosta nos 90% do PIB.
A mãe natureza foi gentil com os australianos. Eles são abençoados com muito minério de ferro e gás natural, além de estarem perto da China, o que ajuda muito nas transações comerciais, mas a boa formulação de políticas teve um papel primordial. Após a última recessão, em 1991, o governo reformou os sistemas de saúde, educação e, o mais importante, a previdência social. O resultado é perfeito. A Austrália gasta apenas metade do que gasta a França, por exemplo.
Ainda mais notável, é o entusiasmo da Austrália pela imigração. Cerca de 29% dos habitantes nasceram em outros países, o dobro da proporção americana. Metade dos australianos são imigrantes ou filhos de imigrantes, e a maior fonte de imigrantes é a Ásia. Vale lembrar que a Ásia se tornou um tigre faminto por commodities, e está logo "ali".
Os dois maiores partidos políticos da Austrália argumentam que admitir imigrantes qualificados é essencial para a saúde econômica e social da nação. Compare isso com a Europa, onde fluxos muitos menores geraram hostilidades entre parte do eleitorado. Nos Estados Unidos ou no Brasil, permitir a entrada de imigrantes de forma livre, é quase que um tabu.
Mas nem tudo são flores na terra dos cangurus. Os fundos de investimento privado, nos quais os australianos são obrigados a poupar, têm aumentado suas taxas, diminuindo o valor a ser pago aos aposentados. E a tão "acolhedora" Austrália, que se faz como mãe para os imigrantes que chegam através dos canais normais e legais, pode ser uma bruxa sem piedade com os imigrantes que chegam sem a documentação necessária para pedidos de asilo. Eles são enviados para ilhas isoladas no Pacífico, onde ficam esperando em colônias a análise de seus pedidos. Tais pedidos podem levar anos.
Além disso, existem reformas que a Austrália não conseguiu emplacar. Os aborígines sofrem enormes desvantagens sociais, um problema que uma sucessão de governos não conseguiu corrigir. O aquecimento global tem causado danos graves no país. Secas se tornaram mais frequentes, queimadas varrem parte do território e chuvas torrenciais se mostram cada vez mais sombrias, mas a Austrália quase não fez nada para reduzir a sua crescente emissão de gases causadores do efeito estufa.
No entanto, o exemplo da Austrália mostra que reformas consideradas impossíveis em outros lugares são perfeitamente viáveis. Talvez o mundo deva esquecer um pouco a birra sino-americana, e aprender mais com os australianos.