Um dos assuntos mais comentados do momento é a alta taxa de desemprego que o Brasil tem registrado nos últimos meses. Por outro lado, as redes sociais das empresas trazem vagas e mais vagas de trabalho. E no meio dessa relação, o que não faltam são profissionais ensinando como conquistar um espaço dos sonhos no mercado. As empresas reclamam que falta mão de obra qualificada, os profissionais reclamam que o que é oferecido nas oportunidades está longe do que eles desejam e os “gurus” prometem fazer esse casamento dar certo. É claro que existem muitas pessoas boas fazendo este trabalho, mas é preciso estar atento para diferenciar quem pode ajudar de quem apenas promete um caminho mais curto.
Para Caio Infante, vice-presidente regional (LATAM) da Radancy e um dos co-fundadores da Employer Branding Brasil, este desencontro é muito mais complexo e não pode ser resolvido com frases de motivação ou enquetes nas redes sociais. “Se eu pudesse dar um conselho para os candidatos a estas vagas, seria para que eles realmente se tornarem protagonistas das suas carreiras sem se deixar levar por promessas vazias tanto das empresas como dos profissionais que prometem ajudar nessa caminhada. Por outro lado, o conselho a ser dado para o RH das empresas é abrir mãos dos apaixonantes neologismos e parar de ser tão operacional”, afirma Caio.
Caio Infante: "parar de ser operacional".
Os tão desejados talentos do mercado, profissionais que, muitas vezes, estão sem emprego ou em busca de uma oportunidade melhor, sentem falta, segundo Caio, de experiências diferentes em empresas que realmente prometem e cumprem além do chamado “mais do mesmo”. “Um RH realmente estratégico vai além do brinde descolado ou do divertido kit de boas-vindas dados aos colaboradores. É preciso saber porque os candidatos querem trabalhar ali, porque gostam de estar ali, o que esperam em termos de crescimento de carreira e quais as políticas de diversidade e inclusão nas quais eles realmente acreditam, entre outras questões tão importantes como essas”, exemplifica.
Desenhar uma boa estratégia de RH para atrair talentos é uma das missões do Employer Branding, estratégia de Marketing usada para gerar percepção positiva sobre determinada empresa como local de trabalho. “A prática é essencial para o recrutamento e para a seleção de candidatos, pois atrai talentos do mercado, além de retê-los”, explica Caio. E para ser estratégico, o RH precisa responder a algumas perguntas que Caio coloca como essenciais num primeiro momento:
- Quais são os desafios dos seus colaboradores (por área e região) e o que eles esperam obter com crescimento profissional?
- Qual é o real turnover da empresa (por setor e região)?
- Por que os candidatos escolhem trabalhar nessa empresa?
- De onde vem a maior parte desses candidatos?
- Por que a empresa perde talentos e para onde eles migram?
- Qual é a reputação da empresa, ou seja, o que as pessoas de dentro e de fora dela pensam e falam sobre a marca?
Caio atua há 15 anos no segmento de RH e afirma que, sim, a área evoluiu bastante nesses anos, porém, a conexão da área ao negócio da empresa ainda é falha. “Vejo diversas discussões nas redes sociais e em grupos de profissionais da área sobre empatia e humanização enquanto o número de reclamações de candidatos e colaboradores pela maneira como são tratados pelas empresas cresce a cada hora. Pouca gente fala sobre people analytics enquanto a competição do kit onboarding mais colorido segue mais acirrada que a votação do BBB”, brinca Caio.
Segundo o especialista, nomes cada vez mais bonitos com processos iguais aos dos anos 90 não tornam o RH estratégico. “O repost de frases motivacionais chega a ser um dilúvio na timeline. Os neologismos como RH 4.0 ou RH exponencial ganham força, mas não mostram nada de novo. Que tal focar no que realmente importa? Este é o melhor momento para estar no RH, por todas as mudanças e transformações que estão acontecendo no mundo e nas empresas, o foco em pessoas é o que fará a diferença hoje e para sempre nas organizações”, finaliza.