A Fiocruz divulgou estudo que indica um cenário preocupante da covid-19 no Brasil diante da rápida transmissão da variante Ômicron no país e a especulação sobre o fim da pandemia.
De acordo com o Boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz, com um balanço de dois anos da pandemia de Covid-19, divulgado nesta quarta-feira (9), novos desafios surgem a cada uma das fases da pandemia:
“Se o diagnóstico e tratamento correto, adequação dos hospitais e estabelecimentos de saúde foram cruciais para a redução do impacto da doença inicialmente, a vacinação hoje é considerada prioridade para o controle da pandemia”, avaliam.
No entanto, os pesquisadores ressaltam que as medidas não-farmacológicas continuam sendo importantes, uma vez que o distanciamento físico e uso de máscaras, além a higiene das mãos, são os principais meios para a redução da exposição e infecção pelo vírus.
O monitoramento da nova variante, associado ao estudo genético de suas mutações, sugere rápido crescimento de casos, por conta da sua capacidade de propagação, até 70 vezes maior que a Delta, em alguns estudos.
Se a variante Ômicron é mais suave ou não, há controvérsias entre os cientistas. Enquanto que alguns pesquisadores defendem a ideia de que se trata de uma variante menos agressiva, uma vez que a ocorrência de hospitalizações e óbitos não acompanha a curva de crescimento dos casos, a opinião divide os especialistas.
Alguns países e agências de saúde já discutem ou vêm adotando a transição de pandemia para endemia. Para os pesquisadores, a mudança não representa a eliminação do vírus e da doença, nem mesmo a desobrigação de medidas de proteção individuais e coletivas.
“A classificação da doença como endêmica representaria a incorporação de práticas sociais e assistenciais na rotina do cidadão e dos serviços de saúde e só poderia ser pensada após drástica redução da transmissão pelas novas variantes e por meio de campanha mundial de vacinação”, aponta o documento.
Apesar das controvérsias e incertezas ainda existentes, os pesquisadores atestam que a explosão de casos cria temporariamente imunidade ao vírus, mesmo que a duração seja curta ou temporária e este cenário pode ser encarado como uma janela de oportunidades.
“Em um momento em que há muitas pessoas imunes à doença, se houver uma alta cobertura vacinal completa há a possibilidade de tanto reduzir o número de casos, internações e óbitos, como bloquear a circulação do vírus”, dizem.
O documento sugere que para que isso seja possível é essencial colocar em prática quatro estratégias de saúde pública. Garantir oportunidade de aplicação de vacina, com a disponibilidade em unidades com horário de funcionamento expandido e em postos móveis, realizar busca ativa por pessoas que ainda não iniciaram seus esquemas vacinais, massificar a campanha de incentivo à vacinação de crianças e reforçar os benefícios gerados pela correta higienização, assim como o bom uso de máscaras.
Finalmente, o Boletim aponta que o avanço da vacinação no Brasil, depois de um ano, tem ocorrido, mas não de forma homogênea e evidencia as diferentes realidades do país. Enquanto as regiões Sul e Sudeste apresentam elevado percentual da população imunizada, áreas das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste ainda têm bolsões com baixa imunização para Covid-19.
“Estes bolsões se constituem em locais de menor Índice de Desenvolvimento Humano, populações mais jovens, menos escolarizadas, baixa renda e residentes de cidades de pequeno porte. Para estes locais, o fim da pandemia parece mais distante que para grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo, que já apresentam elevada cobertura vacinal com duas doses”, avaliam os cientistas.
De acordo com o Boletim, a pandemia não atingiu todos os grupos sociais e territórios uniformemente.
Fonte: Fiocruz