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PM à paisana mata vendedor de balas em frente à Estação das Barcas, em Niterói

Crime provocou revolta de manifestantes contra a polícia

Por Anderson Madeira em 15/02/2022 às 04:47:20

Crime paralisou o trânsito em frente à Estação das Barcas de Niterói. Foto: Divulgação

Uma discussão acabou em morte para o vendedor de balas Hiago Macedo de Oliveira Santos, de 21 no início da tarde desta segunda-feira, 14, em frente à Estação das Barcas, no Centro de Niterói. Ele levou um tiro de um policial militar Carlos Arnaud Baldez Silva Júnior, que estava à paisana, passando pelo local, com quem teria discutido, segundo testemunhas. O agente não teve o nome revelado e foi levado preso em flagrante para a 76ª DP (Centro) e depois para a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá, que investiga o caso. A arma do crime foi apreendida. Após o crime, parentes da vítima fizeram manifestação no local e acusaram o policial de racismo.

Segundo informações preliminares da perícia feita pela DH, Hiago morreu na hora com o tiro, na região do tórax. Devido ao tumulto, passageiros das barcas ficaram dentro da estação sem poder sair. A Avenida Visconde do Rio Branco chegou a ficar com o trânsito paralisado. Manifestantes atearam fogo em objetos, gritaram palavras de ordem contra a polícia e exigiram “justiça”. Comerciantes deixaram as portas dos estabelecimentos abertas pela metade, com medo da violência. Agentes da Guarda Municipal reprimiram o ato, atirando spray de pimenta nos manifestantes. Duas crianças, sendo uma de um ano de idade e outra de três meses, acabaram atingidas por spray de pimenta. Durante o tumulto, pelo menos dois manifestantes foram detidos pela Polícia Militar.

Quando a polícia chegou, o agente disse que presenciou o vendedor ambulante praticando roubo no local e por isso o matou. Segundo a DH, ele tinha passagens por tentativa de homicídio, desacato, furto, lesão corporal e outros crimes. Já o policial militar possui licença para arma de fogo e é lotado no 7º BPM (São Gonçalo). A DHNSG informou que os agentes estão ouvindo testemunhas e buscam imagens de câmeras de segurança instaladas na região para esclarecer os fatos.

Uma vendedora ambulante que teria testemunhado o crime, contou que Iago tinha uma filha que completará dois anos de idade dentro de dois dias e que ele trabalhava para juntar dinheiro e custear a festa de aniversário. “Teve uma pessoa que arrumou confusão com ele e estava discutindo com outra pessoa e chegou esse cara sem roupa, à paisana, sem farda, sem nada já encostando a arma dele e foi a hora que deu o tiro, ele até recuou, mas na fúria, deve ter dormido com raiva e deu um tiro, um tiro só”, disse. De acordo com ela, a vítima morava na comunidade Boa Vista, no Centro.

Parentes de Iago estiveram também no local. A mãe dele passou mal e não pôde conversar com os jornalistas. Segundo Jonathan Cesar, primo do vendedor, este havia deixado a “vida errada” para trás e estava trabalhando honestamente, principalmente par garantir a festa de aniversário da filha. Hiago apenas teria abordado uma pessoa para vender bala e na hora, esta o chamou de ladrão e dizendo que os meninos abordam para roubar o celular. O policial ao lado se ofendeu e discutiu com o ambulante, que o rebateu. Então, o agente pegou a arma e atirou em Iago.

A Polícia Militar divulgou a seguinte nota:

“A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que, no início da tarde desta segunda-feira (14/2), de acordo com informações preliminares, um policial militar de folga reagiu a uma tentativa de roubo na Praça Arariboia, em frente ao Terminal das Barcas de Niterói.

O militar tentou intervir na ação e um dos envolvidos teria investido contra sua integridade, sendo atingido por disparo de arma de fogo. O ferido não resistiu.

O policial que participou da ação está com um homem, que seria a vítima da tentativa de roubo, prestando depoimento na Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí. A 4ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) já foi acionada e acompanha o caso. O policiamento foi intensificado na região da ação".

Segundo o programa Segurança Presente, uma suposta vítima de roubo, que teria sido cometido por Iago, se apresentou à DH para prestar depoimento. A Guarda Municipal de Niterói informou que agentes que realizavam patrulhamento no Centro foram acionados com a informação de um tiro disparado na Praça Arariboia. Ao chegar no local, os agentes constataram que havia uma vítima, realizaram o isolamento do local, acionaram o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar e encaminharam o suspeito para a 76ª DP (Centro) e posteriormente para a Delegacia de Homicídios.

Acompanhamento

O secretário de Direitos Humanos de Niterói, Raphael Costa, esteve no local. “Nós entramos em contato com a equipe da Segurança Presente que fez a prisão e estamos cooperando com as investigações, inclusive prestando apoio jurídico, assistência social e psicológica para a família, para a mãe e os irmãos, ajudando para que eles possam prestar depoimento junto à polícia e a polícia ter condições de fazer a investigação a partir daquilo que realmente aconteceu”, contou.

A CCR Barcas informa que as imagens gravadas pelo sistema de monitoramento por câmeras são fornecidas somente mediante solicitação de autoridade policial ou cumprimento de ordem judicial. Não houve alteração na operação das embarcações.

Repercussão

Vários políticos da região repercutiram o crime nas redes sociais. Em seu perfil no Twitter, o deputado estadual Flávio Serafini (PSOL), membro da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), informou que Comissão vai acompanhar o caso. “Estamos na Delegacia de Homicídios de Niterói acompanhando o caso do assassinato da morte do jovem Iago. Pediremos ao MP abertura de inquérito sobre a conduta da guarda municipal de Niterói que mais uma vez agiu com truculência jogando spray de pimenta na direção de uma criança!!”, disse.

A vereadora Benny Briolly, do mesmo partido, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Niterói, declarou: “Um policial militar que não estava em serviço se sentiu a vontade para tirar a vida do jovem Iago Macedo, de 21 anos, em plena luz do dia aqui na estação das barcas de Niterói. Iago estava vendendo bala para se sustentar. Como pode tanta crueldade? Chega!”.

A página Quebrando o Tabu, que publica postagens de temas relativos aos direitos humanos, também repercutiu o crime. “1hUm homem negro estava vendendo balas para juntar dinheiro para fazer a festa da filha que vai fazer 2 anos. Um policial achou que o homem era um assaltante atirou e matou o homem. Todo dia um "caso isolado" diferente...”.

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