O ato contra o assassinato do vendedor de balas Hiago Macedo, de 21 anos, - com um tiro por um policial militar à paisana - nesta terça-feira (15), foi marcado pela revolta e dor dos seus familiares, amigos e demais vendedores ambulantes que atuam na bilheteria da Estação das Barcas da Praça Araribóia, no Centro de Niterói, onde o crime ocorreu. O ato teve a presença de mais de 100 pessoas, entre militantes de organizações do movimento negro, de direitos humanos e de partidos de esquerda, além de políticos com atuação na região. Mais cedo houve o velório e o enterro do corpo do jovem, no Cemitério do Maruí, no Barreto, Zona Norte da cidade.
O ato também foi um protesto contra ação truculenta da Guarda Municipal de Niterói, durante uma manifestação ocorrida ontem, logo após a morte de Hiago, por familiares dele e outros vendedores ambulantes. Para conter a multidão, agentes da GM chegaram a jogar spray de pimenta, que acabou atingindo uma criança de dois anos.
O primo de Hiago, o também vendedor de balas Jonathan César, de 25 anos, contou que a família está sofrendo ameaças:
“A gente está sendo ameaçado. Recebemos ameaças pelo Facebook e apresentaremos denúncia à Polícia. Nós não queremos mídia, mas justiça pela morte de Hiago. Ele não tinha arma nenhuma. Não encontraram nada com ele, a não ser seu dinheiro e a mercadoria que vendia”, contou ele, que estava acompanhado de Mila Neves, sogra do primo.
Jenifer da Silva, 21 é também vendedora de balas e trabalhou nos últimos dois anos em frente à bilheteria da Estação das Barcas, junto com Hiago, de quem era amiga. Segundo ela, o amigo era muito alegre, mas não gostava de ser maltratado.
“Ele era muito alegre e estava trabalhando muito para juntar dinheiro e fazer a festa de aniversário de 2 anos da filha dele. Mas, se alguém nos maltratava, ele rebatia. Vender bala não é crime nenhum. Um trabalho como qualquer outro. Mas tem gente que nos xinga, nos destrata e olha a gente com nojo. Ninguém é obrigado a comprar bala, mas, não precisa maltratar. Desde ontem, o pessoal das barcas não deixa mais a gente trabalhar aqui”, reclamou.
O deputado estadual Waldeck Carneiro (PT) disse que o ato foi de solidariedade à família e aos amigos de Hiago.
“Este é um ato para exigirmos justiça. Queremos uma punição exemplar para esta pessoa que matou Hyago por motivo fútil, e seu indiciamento. Este policial militar estava no local à paisana, mas armado até os dentes, parecia que ia para uma guerra. Além do revólver, tinha caixa de munição com ele. Essa punição só vai acontecer se nós continuarmos a pressão social para que este assassino responda por homicídio doloso. Estamos indignados por Hiago, Durval, Moïse e todos que morreram desta forma na Região Metropolitana do Rio, que é a mais violenta do Brasil. Mas essa violência é racista, não atinge a todos indiscriminadamente”, afirmou o parlamentar.
A vereadora Walkiria Nicteroy (PC do B) informou que a Câmara Municipal está acompanhando o caso e que o mandato dela vai pedir um requerimento de informações à prefeitura sobre a atuação da Guarda Municipal, ao agir com truculência na repressão da manifestação de ontem. “A família de Hiago está sendo assistida pela Secretaria de Direitos Humanos de Niterói. Então, vamos cobrar que seja feita justiça neste caso. Com relação à GM, queremos que haja uma formação humanista dos agentes, para eles lidarem melhor em manifestações. Entendemos que os ambulantes que não têm licença para trabalhar precisam se sustentar. Mais para frente, vamos lutar pela revisão do Código de Posturas para mudar isso”, disse a vereadora.
A vereadora Verônica Lima (PT) também criticou atuação da GM e o fato de ir para mais uma manifestação contra a morte de uma pessoa negra.
“Não aguentamos mais ter que enterrar mais um corpo preto. Ir para um protesto contra o assassinato de uma pessoa negra. Agora é todo dia isso. Queremos que haja uma punição severa para os agentes que jogaram spray de pimenta nas pessoas, inclusive em uma criança. Eles são pagos com dinheiro dos nossos impostos”, observou.
Houve ainda uma apresentação de um grupo de candomblecistas e discursos contra o racismo estrutural na sociedade. Outros políticos presentes foram os vereadores Paulo Eduardo Gomes e Professor Túlio e Benny Briolli, além da deputada federal Talíria Petrone (todos do PSOL).