A Doença de Alzheimer, principal tipo de demência, tem como principal fator de risco o envelhecimento. Além da questão humana, do sofrimento dos familiares, amigos e do estado de total incapacidade do doente em fases agudas, existe também um grave problema do impacto econômico e global no sistema de saúde.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a demência se tornou o maior desafio do século XXI, um problema sério em termos de saúde e de assistência social. A cada 3 segundos há no mundo um novo diagnóstico de demência e cerca de seis em cada dez são da Doença de Alzheimer. No Brasil, ao menos 1,5 milhão de pessoas sofrem de alguma forma de demência, e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano. Em todo o mundo, o número chega a 55 milhões, com 10 milhões de novos casos por ano, 65% delas com Alzheimer, de acordo com a OMS.
O alerta é que os dados que já são assustadores não retratam 100% a realidade, já que tratam de indicadores oficiais e há subnotificação no Brasil, conforme se vê no dia a dia nos consultórios, onde os casos chegam já em níveis avançados.
De acordo com estudos, a proporção de brasileiros com Alzheimer cresceu 127% nos últimos 30 anos e a estimativa é que o número quadruplique nos próximos 30, conforme pesquisa que envolveu a UFPel, UFRGS e Universidade de Queensland, na Austrália.
Segundo estimativas da Alzheimer’s Disease International, o número de indivíduos acometidos pela doença poderá chegar a 74,7 milhões em 2030 e 131,5 milhões em 2050, devido ao envelhecimento da população, a falta de um trabalho mais preventivo e agora agravado pelos desdobramentos da pandemia da Covid-19.
A falta de orientação sobre a doença prejudica o diagnóstico precoce e o tratamento adequados. “Medidas preventivas podem retardar em décadas o desenvolvimento do Alzheimer", explica o neurologista e neurofisiologista do Ramos Clínicas Médicas, Fabricio Borba, pesquisador da Unicamp. Mudar o status de que a demência é inevitável na velhice para uma enfermidade que pode ser prevenida com tratamento adequado e mudança de estilo de vida é o que vai evitar o aumento da doença nos próximos anos.
Especialistas acreditam que o diagnóstico tardio é uma das razões para o fracasso na busca por tratamento preventivo. Segundo uma comissão organizada pela revista médica The Lancet, modificar uma dúzia de fatores de risco pode evitar ou retardar 40% das demências. Entre as 12 variáveis estão a falta de educação básica, a hipertensão, a incapacidade auditiva, o tabagismo, a obesidade, a depressão, a inatividade física, o diabetes, o isolamento social, o consumo excessivo de álcool, golpes na cabeça e a poluição atmosférica. Na América Latina, esse percentual poderia alcançar 56% junto ao diagnóstico preventivo e tratamento adequado.
Como é feito o diagnóstico da Doença de Alzheimer?
O diagnóstico da Doença de Alzheimer é por exclusão. Não existe nenhum exame obrigatório na investigação da doença, mas é comum que se solicite exames de imagem e o rastreamento inicial pode incluir avaliação de depressão, exames de laboratório com ênfase especial na função da tireóide e nos níveis de vitamina B12 no sangue, entre outros, como exames mais específicos com o apoio da medicina genética, como o painel genético neurológico.
O que é o Alzheimer?
O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, progressiva e ainda sem cura, que atinge, em geral, pessoas acima dos 65 anos de idade, sendo a forma mais comum de demência no idoso. A doença se instala quando o processamento de certas proteínas do sistema nervoso central começam a falhar. Com isso, surgem fragmentos de proteínas tóxicas dentro dos neurônios e nos espaços que existem entre eles. Essa toxicidade causa perda progressiva de neurônios em certas regiões do cérebro, como o hipocampo, que controla a memória, e o córtex cerebral, essencial para linguagem, raciocínio, memória, reconhecimento de estímulos sensoriais e pensamento abstrato.
A demência é uma das causas mais comuns de incapacidade e dependência das pessoas idosas. Além da questão humana, do sofrimento de familiares, amigos e do doente, existe um grave impacto global. Em 2018, os custos em cuidados e tratamento ficou na ordem de US$ 1 trilhão. Estima-se que, daqui dez anos, chegará a US$ 2 trilhões. É mais do que o Produto Interno Bruto do Brasil, hoje em cerca US$ 1,7 trilhão.
De acordo com estudo da Escola de Economia e Ciências Políticas de Londres com cerca de 70 mil pessoas de mais de 100 países diferentes, a desinformação da população em relação à demência de forma geral é alarmante: dois terços dos entrevistados acreditam que a demência é normal e faz parte da velhice, o que piora o cenário futuro e intensifica os prejuízos à vida pessoal e profissional, ao mercado de trabalho, ao sistema de saúde, entre outros.
Os neurologistas do país, por meio da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), defendem a criação de um Plano Nacional de Demência, com políticas consistentes em saúde pública, garantindo tratamentos/assistência social às famílias de pacientes com demência, divulgando ininterruptamente campanhas de esclarecimento e, assim, prevenindo o aumento dos casos. Tudo com a participação de instituições de saúde, do poder público e do conjunto da sociedade. A medida vai de acordo com a declaração do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom. Ele argumenta que toda atenção é pouca neste momento em que os índices de demência estão prestes a explodir e o mundo ainda enfrenta a pandemia da Covid-19.