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Reaprendendo a conviver com o luto

Coach explica, através de sua própria experiência, como lidar com o sentimento

Por André Luiz Coutinho em 02/11/2018 às 12:30:13

Amanda Tinoco encontrou no seu luto, uma forma de ajudar outras pessoas. Foto: Divulgação

A perda de um ente querido impacta na vida de uma pessoa para sempre, mudando o seu comportamento, fazendo com que ela muitas vezes se recolha no luto, perdendo muitas vezes a vontade de viver, se afastando do trabalho, dos amigos e até da família. No entanto um acompanhamento profissional pode resgatar essa pessoa, fazendo com que ela encare esse sentimento de outra forma. É ai que entra o trabalho do Grief Coaching (Coaching de Luto), eles ajudam justamente na adaptação à nova vida após a morte de um ente querido.

“A morte de alguém que você ama pode te desestruturar e levantar várias questões, incluindo o seu propósito de vida e quem você se torna após essa separação indesejada. A busca pelo autoconhecimento e por suas verdadeiras crenças e valores é, portanto, um dos objetivos do Coaching de Luto. Assim, auxilio na elaboração de uma nova realidade através da reconexão dos meus enlutados com seus pontos fortes, suas estratégias de enfrentamento e atividades/ recursos internos que dão sentido à sua vida”, revela a coach Amanda Tinoco.

Ela ainda explica que uma das etapas mais importantes no processo é a validação do vínculo com esse ser amado que partiu. “Ele acontece através da construção de um legado e de uma nova forma de relacionamento, que transcende tempo e espaço. Já na primeira sessão, vamos descobrir juntos, como é possível fazer com que a dor e o amor dividam o mesmo espaço, o mesmo coração”, conta a profissional que antes de ser coach foi coachee, termo designado para as pessoas que passam pelo processo de coaching.

Tudo começou do próprio luto

Tudo começou em 2014 quando, como ela própria diz, conheceu “pessoalmente o impacto da morte” ao perder o seu único filho. Gabriel tinha 16 anos quando foi vítima de um acidente de trânsito. “Era um dia normal de nossas vidas em que eu havia saído para trabalhar e aproveitado a hora do almoço para leva-lo ao médico por causa de uma dorzinha de ouvido. Almoçamos juntos, rimos, brincamos e nos despedimos. Menos de quatro horas depois, eu estava diante dele em coma, em cima de uma maca de hospital, entre a vida e a morte. Depois de quatro dias, a morte venceu a batalha e o levou”, conta.

Sem saber como lidar com tamanha perda, ela procurou ajuda. “Não existem palavras que descrevam o meu desespero, desalento e desesperança. Foi surreal ver meu filho dentro de um caixão e conviver com o quarto dele completamente vazio, silencioso e intacto. Procurei ajuda profissional porque eu realmente não sabia como lidar com aquele momento de dor intensa. Gabriel era minha vida e, portanto, minha vida tinha acabado. Tive meu primeiro encontro com a terapeuta Adriana Thomaz (especialista em luto) e, em prantos, disse a ela que não sabia como conseguiria viver sem o meu filho. Ela me olhou no fundo dos olhos (e da alma) e respondeu: ‘Amanda, você não vai viver sem o seu filho. Isso é impossível. Você vai aprender a viver com ele de uma outra forma’. E assim aconteceu”.

Amanda criou a página Mães para Sempre para compartilhar sentimentos. Foto: Reprodução

Uma das formas que ela encontrou, justamente no primeiro dia das mães sem a presença física de seu filho, foi criar uma página no Facebook para compartilhar sentimentos e acolher outras mães que também viviam situação semelhante. Assim surgiu o Mães Para Sempre, que hoje conta com quase 22 mil seguidores.  “A descoberta de permanência do vínculo entre mim e meu filho e a validação da minha condição maternal permanente me proporcionaram outra perspectiva, a de que os mortos são apenas invisíveis, mas não ausentes”, diz citando o teólogo Leonardo Boff.

Através da página, Amanda acabou se tornando referência no assunto ao prestar assistência para outras mães que a procuravam por lá. “Assim como Adriana me ajudou, pude auxiliar muitas outras pessoas nos últimos quatro anos através desse apoio digital e no início deste ano, decidi assumir essa atividade como ocupação principal, devido a grande carência que observei em nossa sociedade. Estudo Psicologia e através da formação em Coaching, desenvolvi um programa específico para enlutados”, explica que teve também como fator decisivo para entrar na área a morte da Adriana em 2015, poucos meses depois de concluído o tratamento psicoterápico, ela quis de certa forma passar adiante o que a profissional tinha lhe proporcionado.

Atendimento até por Skype

Amanda costuma realizar os encontros com seus coachee em sessões semanais de uma ou duas horas de duração em um espaço na Tijuca, Zona Norte do Rio ou até mesmo na casa deles, em muitos casos também o acompanhamento pode ser feito por telefone ou Skype. “O primeiro encontro é totalmente gratuito e, caso haja interesse em iniciar o processo, fechamos um pacote inicial de 10 sessões, que poderá ser renovado de acordo com a necessidade singular de cada cliente. O investimento de cada sessão é R$120,00”, detalha.

Como lidar com o Dia de Finados?

Amanda conta que o Dia de Finados pode ser celebrado de outras formas, além daquela tradicional visita aos cemitérios na qual particularmente não aprecia muito e propõe assim um exercício. “Por um momento, pense naquela pessoa que você ama profundamente e descubra uma atividade que te proporcione um momento exclusivo com ela. Tenho certeza de que você possui um acervo de memórias especiais desse amor, que não merece e não precisa ser resumido a apenas um dos capítulos de sua existência, que foi o dia de sua morte”.

Gabriel faleceu em 2014 com apenas 16 anos. Foto: Arquivo Pessoal

Ela por fim da um exemplo de como isso pode ser feito, falando da sua própria experiência. “Adoro falar do meu filho e lembrar dele quando estava vivo e já que posso escolher a forma como vamos nos conectar nesse dia, não opto por aquele momento triste em que nos despedimos. Prefiro ouvir uma música que ele curtia, assistir um mangá ou um clipe no seu canal do YouTube, ler um de seus poemas ou tomar um sundae de caramelo, seu sabor preferido. Uma das lições mais lindas que o Gabriel me ensinou foi a transcendência do amor, através deste vínculo que não está mais aqui, mas ainda está. Sempre estará”.

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