Após falas misóginas, Arthur do Val desiste de concorrer ao Governo de São Paulo

No início da tarde deste sábado (5), o deputado estadual Arthur do Val (Podemos) abriu mão de sua pré-candidatura ao Governo de São Paulo. Em postagem no próprio perfil do Instagram, um dos integrantes da coordenação nacional do Movimento Brasil Livre (MBL) afirmou que "não tem compromisso com o erro".

"Faço isso por entender que é necessário preservar o árduo trabalho de todos aqueles que se dedicam na construção de uma terceira via. O projeto não merece que as minhas lamentáveis falas sejam utilizadas para atacá-lo", prosseguiu o parlamentar. Do Val referiu-se ao ex-juiz federal, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública (2019-2020) e atual pré-candidato à presidência da República pelo Podemos, Sérgio Moro.

Mais cedo, do Val, que tinha chegado horas após alguns dias entre Ucrânia e Eslováquia, publicou um vídeo tentando esclarecer as declarações machistas que havia feito na véspera.

"Eu aceito ser julgado pelo que falei, mas não pelo que não fiz", disse, recusando a pecha de ter feito turismo sexual. "Num grupo, que não tem a ver com política, ali eu tomei a liberdade de ser um moleque. E eu mandei áudios contando vantagem, exagerei. Foi machista? Foi".

O MBL também se pronunciou, por meio de nota, na qual "repudia o teor do áudio do seu integrante" e deixa "nossos sinceros pedidos de desculpas". "Não invalida o objetivo da viagem, que se cumpriu ao arrecadarmos mais de R$250 mil para os refugiados ucranianos", destacou a organização.

A Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) também se posicionou, mas para informar que a "atitude será tratada com rigor e seriedade pelas esferas de investigação do Parlamento". Em dezembro de 2020, já havia ocorrido um episódio de machismo com repercussão nacional envolvendo parlamentar paulista: então no Cidadania, Fernando Cury apalpou os seios da também deputada estadual Isa Penna (PSoL), durante sessão no plenário da Alesp. Foi expulso do Cidadania em novembro de 2021 e, no mês seguinte, se tornou réu no TJ-SP por importunação sexual.

O senador Humberto Costa (PT-PE), presidente da Comissão de Direitos Humanos, tuitou também neste sábado que apresentou requerimento para que Arthur do Val compareça ao Senado Federal para "explicar as declarações misóginas e atentatórias à dignidade humana que fez contra as ucranianas".

"É inadmissível que alguém com mandato parlamentar agrida vítimas de guerra de forma tão brutal, aumentando o horror da tragédia já vivida por elas. Ou tomamos uma atitude drástica ou essa violência praticada por um parlamentar pode ser encarada como uma agressão do próprio Brasil", complementou, na sequência da postagem.

Até a publicação desta matéria, a Embaixada da Ucrânia no Brasil não tinha feito qualquer pronunciamento a respeito das afirmações do deputado paulista.

Na última sexta-feira (4), começaram a circular áudios gravados por Arthur do Val, nos quais ele se refere de maneira depreciativa a mulheres ucranianas - refugiadas, policiais e uma recepcionista de hotel.

Do Val passou alguns dias entre Eslováquia e Ucrânia, na companhia de Renan Santos, outro membro da cúpula do MBL, e dois voluntários. Eles viajaram à região para divulgar a arrecadação de fundos em prol do país, invadido pela Rússia na quarta-feira (2).

Ainda ontem, a enfermeira Giulia Blagitz fez uma postagem no Instagram avisando a seus seguidores que estava terminando o namoro com o parlamentar. A profissional de saúde apagou a publicação em seguida.