Em 19 de novembro de 1996, 57 famílias camponesas retomaram o território tradicional de Barra de Antas, no município de Sapé (PB). Desde então vivendo na área, a maioria dessas famílias ainda espera a regularização do assentamento, que teve a desapropriação de 507 hectares garantida pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Hoje, 60 anos depois do assassinato, é um dos filhos do latifundiário, o fazendeiro Sebastião Figueiredo Coutinho, que continua ameaçando a permanência dos camponeses em Barra de Antas.
Essa continuidade foi lembrada durante ato em memória de João Pedro Teixeira, no sábado (02), que percorreu o caminho da comunidade até a antiga casa do líder camponês, que hoje abriga o Memorial das Ligas Camponesas. Organizado por movimentos populares de Sapé, a marcha terminou com uma apresentação artística e cultural no museu.
Camponeses enfrentam violência
A continuidade entre Pedro Coutinho, o mandante do crime que vitimou João Pedro, e o filho Sebastião não se dá apenas na posse das terras reivindicadas pelos camponeses de Barra de Antas. Em 09 de setembro de 2000, após relatar diversas ameaças, o líder comunitário Sandoval Alves de Lima foi assassinado por Rubens Rodrigues da Silva, funcionário de Sebastião.
Mais longa que a “fuga” do pistoleiro é a batalha judicial para conquistar o tão sonhado assentamento. “O processo vem se arrastando”, aponta o advogado Noaldo Meireles. “Desde 2017, espera-se uma manifestação da Advocacia Geral da União (AGU). Não há mais discussão do mérito, as terras são dos camponeses”.
A morosidade da AGU coincide com o golpe parlamentar que levou Michel Temer ao poder, em 2016, e a presidência de Jair Bolsonaro. “Se Deus quiser, e com a luta do povo, a gente vai tirar esse governo para poder colocar alguém que minimamente nos escute e que a gente possa ter uma imissão de posse dessas famílias”, afirma a presidente do Memorial das Ligas Camponesas, Alane Lima. “Até hoje elas esperam que esse sonho seja concretizado”.
Atualmente, o Estado da Paraíba possui mais de 300 assentamentos rurais e cerca de 20 mil famílias assentadas.
Funcionários acompanharam medição de barragem
Enquanto o processo não anda, outras ameaças rondam Barra de Antas. Em janeiro, moradores da comunidade encontraram topógrafos medindo o território para a possível construção de uma barragem. Segundo eles, funcionários de Sebastião acompanhavam o levantamento.
Segundo mapa fotografado por uma moradora, seriam atingidas cinco comunidades no entorno, incluindo o Memorial das Ligas Camponesas.
A denúncia foi tema de uma reportagem especial do De Olho nos Ruralistas: “Obra de barragem na Paraíba ameaça Memorial das Ligas Camponesas“.
A reportagem foi até Sapé conversar com os posseiros, destaque também no programa semanal De Olho na Resistência:
Fonte: De Olho nos Ruralistas