Na ala feminina, uma voz se eleva cantando junto ao coro de artistas. As pacientes se entusiasmam e se unem aos Doutores da Alegria, de volta às unidades de saúde do estado depois de dois anos sem atividades presenciais no Rio de Janeiro devido à pandemia. Eles retornam com suas atrações de artes cênicas, música e dança, emocionando pacientes, acompanhantes e profissionais. A reestreia foi no Hospital Estadual Azevedo Lima (HEAL), em Niterói, com a apresentação da Banda Bagunço, que encenou o espetáculo “Pílulas sonoras, o Cortejo hospitalar do Bagunço”, na tarde da última quarta-feira (13.04). A paciente Débora Silva não conteve as lágrimas:
– Gostei muito. Seria bom se tivesse todos os dias. Sorrir ajuda qualquer recuperação – afirmou.
Além de fazer a curadoria do projeto Plateias Hospitalares, os Doutores da Alegria oferecem formação aos artistas, orientando e adaptando os espetáculos para o ambiente hospitalar, incluindo o cumprimento do protocolo de segurança sanitária de prevenção e controle da Covid-19. Na última quinta-feira (14.04), foi a vez dos pacientes do Hospital Estadual Alberto Torres, em São Gonçalo, receberem o cortejo. Também receberão visitas dos Doutores da Alegria os hospitais estaduais Eduardo Rabello, em Campo Grande; e o Hospital Estadual da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti.
– A parceria da Secretaria de Estado de Saúde com os Doutores da Alegria é bem-sucedida há mais de uma década, e este retorno é muito significativo para a nossa rede. Possibilita momentos de descontração para toda a comunidade hospitalar, trazendo leveza em uma fase em que as pessoas estão enfrentando desafios diversos – celebra o secretário de Estado de Saúde, Alexandre Chieppe.
Muito além do cuidado
O projeto Plateias Hospitalares foi criado em 2009, com o objetivo de promover o acesso à cultura, por meio de uma programação voltada a pacientes adultos e idosos, crianças e comunidades do entorno de hospitais públicos do estado do Rio de Janeiro. A ideia é trabalhar para que, cada vez mais, o hospital seja um espaço não somente de cuidado, mas de promoção da saúde, em que a arte é coadjuvante.
– A presença deles faz muita diferença. Traz alegria para a gente, que está doente. É diferente. Anima e levanta o astral – disse a paciente Hellen Vaz Russell, que presenciou a retomada.
Em 13 anos de existência do projeto, já foram realizadas mais de 500 apresentações, envolvendo mais de 300 artistas, e plateias com mais de 100 mil pessoas. A organização Doutores da Alegria introduziu a arte do palhaço no universo da saúde, intervindo há 30 anos junto a crianças, adolescentes e outros públicos em situação de vulnerabilidade e risco social em hospitais públicos. O trabalho é gratuito para os hospitais e mantido por doações.
– Depois de toda dificuldade que enfrentamos nos últimos dois anos, reabrir as portas das nossas unidades para os Doutores da Alegria é uma felicidade imensa. A presença deles nos nossos hospitais faz a diferença para os pacientes, pois diminui o estresse da internação. Além disso, essas apresentações lúdicas ajudam a integrar e suavizar o cotidiano dos profissionais que estiveram e estão na linha de frente – diz Rafael Fornerolli, assessor de Humanização da SES.
Diretor técnico do HEAL, o médico Dilson da Silva Pereira exalta a contribuição terapêutica do trabalho dos Doutores da Alegria:
– É com satisfação que recebemos novamente os Doutores, que sempre fizeram parte da rotina do hospital. A alegria contagia pacientes e colaboradores. Estudos comprovam que este é um método eficaz para o tratamento dos pacientes, diminuindo o tempo médio de internação.
A equipe de artistas definiu o retorno como um momento "mágico". No elenco da reestreia, o ator Daniel Pimenta fala sobre o desafio de atuar nesse momento, ainda com máscaras e muita cautela:
– Precisamos reagir de acordo com o olhar de cada um, porque é muito delicado, não só o paciente, mas todo o ambiente. É necessário ter sensibilidade para perceber as reações na hora e respeitar o momento de cada um. O que vemos é a história viva acontecendo.
A enfermeira Fernanda Nunes, que trabalha há mais de dez anos no HEAL, comemora o regresso dos parceiros de trabalho:
– Geralmente o hospital é um ambiente mais sério, um clima tenso. Os pacientes que já conheciam o trabalho estavam sentindo falta e nós, profissionais, também. Quando houve a interrupção das apresentações, o retorno era algo distante. Hoje, eles trazem a esperança de dias melhores. Isso faz toda diferença. Sorrir é remédio.