As mudanças propostas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o Novo Ensino Médio continuam levantando dúvidas na comunidade escolar, responsáveis e estudantes. E não é para menos, afinal de contas, com todas as mudanças de carga horária e forma de organização, a preocupação é como as escolas vão se adaptar ao novo modelo e ofertar as disciplinas eletivas, em especial o Projeto de Vida, eletiva obrigatória para os estudantes.
Caren Adur de Souza, executiva pedagógica do SAE Digital, explica que a grande novidade para os estudantes é a autonomia para escolher quais itinerários eles querem participar. Segundo ela, cada escola tem autonomia para definir quais itinerários irá oferecer aos estudantes e quais professores poderão atuar nas disciplinas eletivas. Ainda segundo Caren, pais e responsáveis têm receio com a nova proposta pela mudança em relação ao modelo que vinha sendo oferecido e pela preocupação com a aprovação em vestibulares.
“A nova proposta veio para que os estudantes possam exercer mais o protagonismo, ter mais autonomia. O foco não é só a preparação para o vestibular ou a formação para o mercado de trabalho. A ideia é mostrar para os estudantes que eles também têm o papel de se colocar nesse lugar da busca, da troca, da experiência, da capacidade de argumentação. Alguns pais ainda estão nos questionando se seus filhos têm maturidade de escolher os itinerários, mas eles podem ficar tranquilos, porque o estudante poderá passar por diversos itinerários até o final do Ensino Médio, identificando as áreas de interesse. É importante lembrar que depois de ter escolhido as eletivas que quer estudar, o estudante precisa concluí-las, até porque há um planejamento da escola para ser seguido”, explica.
Projeto de Vida
O Projeto de Vida é a única eletiva obrigatória para as três séries do Ensino Médio. Tem como objetivos promover o autoconhecimento (quais atividades o estudante tem interesse) e o planejamento para o futuro. Como o nome sugere, esse é o início de uma longa jornada, o projeto pretende despertar no aluno o pensar sobre si mesmo, sobre a sociedade e sobre ele na sociedade.
Para a executiva pedagógica, o Projeto de Vida já era discutido em muitas escolas, mas de forma isolada, quando um estudante trazia esse tema para o professor ou quando a escola desenvolvia um projeto nesta direção. O novo modelo vai desafiar os estudantes a se reconhecerem na sociedade. Serão muitas discussões e questionamentos como: Quem eu sou? Quais são meus valores? Onde eu quero chegar e com quem eu quero chegar? Como farei isso?
“As escolas têm autonomia para definir quais eletivas vão oferecer, porém, o Projeto de Vida é obrigatório em todas as escolas e vai acompanhar os estudantes durante todo o Ensino Médio. Se um estudante que mora em Curitiba, mudar para outra cidade, deverá continuar a cursar essa eletiva na nova escola. Sobre essa eletiva, o que a BNCC orienta é que os estudantes se aproximem da realidade, facilitando as suas escolhas, através do autoconhecimento, levando-os a saberem mais sobre a sua identidade e seu lugar no mundo”, diz.
Mas como os alunos serão avaliados? Terão provas específicas?
Os itinerários não “valem nota”, mas o projeto prevê avaliações contínuas que identificam as aprendizagens dos assuntos abordados durante as aulas. No caso do Projeto de Vida, as avaliações terão que contar com índices de: cooperação, comunicação, ações direcionadas ao compartilhamento, atitudes, escuta, interação, participação, a própria definição do projeto de vida de cada estudante e demais critérios implícitos nos assuntos trabalhados.
Ainda dentro das orientações da BNCC, a eletiva obrigatória terá que ser abordada em três dimensões diferentes:
1. Pessoal: autoconhecimento, valores objetivos de vida e habilidades pessoais.
2. Social: relações interpessoais, o reconhecimento como cidadão e seu papel na sociedade.
3. Profissional: desenvolvimento teórico e prático, desenvolvendo competências e habilidades para o mercado de trabalho.
Formação do professor
Outra dúvida que ronda a comunidade escolar é sobre como os professores serão orientados para trabalhar esse e outros itinerários. De acordo com a executiva pedagógica, essa orientação só é possível se for cuidadosamente trabalhada na formação continuada dos professores. Por isso é importante que as escolas busquem parceiros que assessorem e atuem na formação continuada, para que os profissionais estejam preparados para atuar com as eletivas.
“A assessoria efetiva é um pilar do SAE Digital. A equipe vai até as escolas e realiza a formação dos professores de forma presencial e remota. Durante a pandemia, as escolas aprenderam que não se consegue fazer educação sozinha. A gestão de parcerias é necessária, porque a formação inicial do professor de hoje tem suas limitações. A escola sozinha não consegue dar conta de todas essas lacunas e de tudo que a BNCC propõe para o Ensino Médio. Temos conteúdo para o professor entender o objetivo de cada uma das eletivas que disponibilizamos às nossas escolas conveniadas e se preparar para atuar na mediação de cada uma delas. Se não houver um planejamento criterioso e muita pesquisa, as escolas terão dificuldade em ofertar uma diversidade de disciplinas eletivas”, finaliza.