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Salgueiro desfila na avenida os diversos tons do legado africano no Rio

'Resistência', enredo de Alex de Souza, louva de irmandades negras dos santos a terreiros de orixás, como Xangô e Exú

Por Portal Eu, Rio! em 23/04/2022 às 05:32:34

Estampas de inspiração africana predominaram nas alegorias e fantasias do Salgueiro, que desfilou a Resistência negra no Sambódromo. Fotos: Edison Corrêa

"O Acadêmicos do Salgueiro e “Resistência”! Reverbera a luta, a coragem da população negra para garantir a preservação de sua cultura, de sua fé e do seu lugar de fala". Na apresentação do enredo, apresentado pela professora doutora Helena Theodoro e desenvolvido pelo carnavalesco Alex de Souza, o Salgueiro destaca seu papel histórico na afirmação da negritude e na valorização do legado cultural africano. O desfile, que credencia a escola da Tijuca a tentar impedir o bicampeonato da Viradouro, combinou a trajetória da escola com o roteiro da luta negra por dignidade, desde os tempos da escravidão, contada pela geografia carioca, da Pedra do Sal e da Pequena África aos morros do subúrbio e da Zona Sul.


A aposta do enredo em uma mensagem forte, guerreira como Xangô, orixá da escola, ficou explícita logo na Comissão de Frente. Os personagens negros exaltados nos carnavais do Salgueiro promovem na Avenida a “Dança dos Heróis” - Akikanju Ijó em iorubá. Fincam os pés no torrão amado - a terra salgueirense -,erguem o punho e gritam por justiça, resistência e liberdade, na coreografia criada por Patrick Carvalho.


Com uma estética voltada para cultura africana e a paleta de cores harmonizando o vermelho e branco de Xangô com laranjas, amarelos e ocres evocando o sol e a terra ancestral, o Salgueiro cantou as diversas facetas da luta negra, em uma resistência marcada pela pluralidade. A herança negra teve uma abordagem abrangente, marcada pela comovida lembrança de Djalma Sábia, presidente de honra da escola. Dos quilombos abordados de forma pioneira no enredo de Fernando Pamplona na década de 60 com Zumbi dos Palmares, das irmandades católicas que pagavam alforrias e criaram estruturas de devoção religiosa e atendimento médico-hospitalar que sobrevivem até hoje, das camélias do Leblon vendidas para financiar a campanha da Abolição à capoeira, nenhum aspecto relevante foi deixado de fora. O futebol, por muito tempo um dos poucos caminhos para a ascensão social dos negros no Brasil, foi lembrado pela luta do Vasco da Gama e do Bangu contra o preconceito racial.


Mercedes Batista, primeira bailarina negra do Teatro Municipal, os blocos afro, o sincretismo da umbanda e dos diferentes cultos afro-brasileiros, o encontro com outros povos oprimidos, como os ciganos e os indígenas, nada da busca dos afrodescendentes por dignidade e a afirmação de sua voz, valores e crenças ficou de fora do painel pintado pelo Salgueiro, forte candidato a retornar no Desfile das Campeãs, no sábado 30 de abril. Pregando o respeito às diferenças e se apresentando como quilombo do samba, o Salgueiro buscou fidelidade ao lema: 'Nem melhor, nem pior, uma escola diferente'.





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