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Vila Isabel saúda Martinho, que trocou o quartel pelo samba no bairro de Noel

Escola fecha Grupo Especial contando saga do mestre, do interior à busca das raízes na África

Por Portal Eu, Rio! em 24/04/2022 às 06:51:22

Martinho da Vila foi enredo da escola da qual é Presidente de Honra. Fotos: Jorge Hely/Agência Eu, Rio!

A Unidos de Vila Isabel encerrou a noite homenageando Martinho da Vila, sambista, cantor, compositor e presidente de honra da Agremiação, com o enredo “Canta, canta, minha gente! A Vila e de Martinho!" Enquanto um griô, contador de histórias e guardião de memória e da tradição nas aldeias africanas, junto a guerreiros negros, apresenta a ancestralidade do sambista, Martinho é coroado Rei Negro de Vila Isabel! Vida longa ao Rei Martinho!, no mote encenado pela Comissão de Frente. Cercado de filhas e netos, Martinho veio em um carro, sem economizar no sorriso, ao receber a homenagem em vida.

O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marcinho Siqueira e Cristiane Caldas, encarna a força de Zambi. O axé de Zambi, derramado a partir da dança,protege e resplandece a festa da raça preparada pela Vila Isabel para homenagear o seu Martinho, na descrição do enredo.

Os guardiões de mestre-sala e porta-bandeira fazem menção à Comissão de Frente do desfile campeão de 1988, “Kizomba, Festa da Raça”, do qual Martinho foi um dos idealizadores.


A Swingueira de Noel, bateria da Vila, se veste de farda, homenageando o Sargento Martinho, inspiração da canção “Pequeno Burguês”. Tocam o coração do Negro Rei, que largou a caserna para se formar, em Vila Isabel, como bacharel no samba. Condecorada com a “Ordem do Mérito do Samba”, Sabrina Sato comanda a tropa com o rigor de um sorriso e a disciplina sincopada do ritmo que ecoa pelas ruas de Vila Isabel. Na chegada, escoltada por PM's para evitar atrasos pois veio de outro desfile no Sambódromo paulista, Sabrina provocou tumulto e empurra-empurra, que não chegaram a prejudicar a entrada da escola na Sapucaí.


O enredo aborda a trajetória de Martinho, sambista e escritor, integrante da Academia Carioca de Letras, ressaltando a amplitude de sua obra. Sambas que renderam títulos à Vila, como o de 2013, ou clássicos que dispensaram o primeiro lugar para ficar na memória, como Iaiá do Cais Dourado e Negrinho do Pastoreio, estão na linha de frente. Mas a busca das raízes africanas e o uso de ritmos como o calango e o caxambu, reflexo das origens rurais do compositor, integram o perfil do 'Griô de Vila Isabel', que combina a divulgação das tradições com a antena ligada para a modernidade. Daí a ênfase no engajamento de Martinho na denúncia da ditadura, na crítica social, no combate ao preconceito e na valorização da cultura africana e da resistência dos escravizados.


Ficha Técnica

Presidente: Fernando Fernandes

Autor do Enredo: Edson Pereira, Clark Mangabeira e Victor Marques

Carnavalesco: Edson Pereira

Diretor de Carnaval: Moisés Carvalho

Diretor de Harmonia: Marcelinho Emoção

Rainha da Bateria: Sabrina Sato

1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Cristiane Caldas e Marcinho Siqueira

2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Bárbara Dionísio e Jackson Senhorinho

Coreógrafo da Comissão de Frente: Márcio Moura

Bateria: Mestre Macaco Branco


Cante com a Vila Isabel

ENREDO: CANTA, CANTA, MINHA GENTE! A VILA É DE MARTINHO

Compositores: Evandro Bocão, André Diniz, Dudu Nobre, Professor Wladimir, Wanderson Pinguim, Marcelo Valença, Leno Dias e/and Mauro Speranza.

Intérprete: Tinga

FERREIRA, CHEGA AÍ

ABRE LOGO UMA GELADA, VEM CURTIR

A AVENIDA ENGALANADA

NOSSA GENTE EMOCIONADA

VAI RELUZIR

OS SONHOS DE IAIÁ

SUAS GLÓRIAS E CIRANDAS RESGATAR

NÃO ACABA QUARTA-FEIRA

A SAIDEIRA

NEM O MEU LAIARAIÁ

RAÍZES DA ROÇA

PARA OS PRETOS FORROS

TANTO TALENTO NÃO GUARDA SEGREDO

O DONO DO PALCO, O ZUMBI LÁ DO MORRO

PELA 28, CHINELO DE DEDO

SE A PAZ EM ANGOLA

LHE PEDE SOCORRO

FILHO DE TERESA ENCARA SEM MEDO

SEGUIU ESCOLA DO PAI ARRAIA

REFORMA AGRÁRIA

E NA FESTA DO ARRAIÁ

EM CADA VERSO, MAIS UMA OBRA-PRIMA

OUSAR, MUDAR E FAZER SEM RIMA

(SÓ VOCÊ PRA FAZER SEM RIMA)

PROFETA, POETA, MESTRE DOS MESTRES

ÁFRICA EM PRECE, O GRIÔ, A REFERÊNCIA

O SENHOR DA SAPIÊNCIA,

ESCRITOR DA CONSCIÊNCIA

E A CADÊNCIA DE ANDAR, DE VIVER E SAMBAR

TÃO BOM CANTAROLAR

PORQUE O MUNDO RENASCEU

ME ABRAÇAR

COM ESSE POVO TODO SEU

EU VOU JUNTO DA FAMÍLIA DO PINDUCA

À ALEGRIA PRA BRINDAR

MODÉSTIA À PARTE,

O MARTINHO É DA VILA

PARTIDEIRO, PARTIDEIRO, Ó

NOSSA VILA ISABEL

BRILHA MAIS DO QUE O SOL

CANTA, NEGRO REI,

DEIXA A TRISTEZA PRA LÁ

CANTA FORTE,

MINHA VILA,

A VIDA VAI MELHORAR


Mais de meio século dando voz ao morro

Antônio Fernandes da Silveira, conhecido como Seu China por ter "olhos puxados", apesar não ter descendência oriental, foi o mentor da Unidos de Vila Isabel. Seu China era pintor e residia no Morro do Salgueiro, onde fundou o Bloco Verde e Branco, que mais tarde originou a escola de samba Depois Eu Digo. Também frequentava a escola Azul e Branco do Salgueiro, que depois deu origem à Acadêmicos do Salgueiro. Em 1945, Seu China se mudou para o Morro dos Macacos. Entrando em contato com o carnaval de Vila Isabel, era convidado a participar de blocos carnavalescos, porém, recusava os convites. Achava que o bairro de Noel Rosa merecia ter uma escola de samba.

No domingo de carnaval do ano de 1946, Seu China conversava com um grupo de amigos em um bar, situado na Praça Barão de Drummond, na esquina com a Rua Barão de São Francisco, enquanto desfilava por ali o Bloco Acadêmicos da Vila, agremiação do Morro do Pau da Bandeira, de cores vermelho e branco. Chamou a atenção de Seu China a maneira organizada do bloco desfilar, com os componentes fantasiados e cercados por uma corda, parecendo uma "mini escola de samba". A partir de então, teve a ideia de fundar a primeira escola de samba de Vila Isabel. China solicitou ao menino José Ferreira Leite, de então 15 anos, que verificasse qual documentação era necessária para o registro da nova agremiação. Também levou os foliões de Vila Isabel para assistir ao desfile da Azul e Branco do Salgueiro, na Praça Onze.

Após o carnaval de 1946, Seu China se reuniu com os componentes do Acadêmicos da Vila, que aceitaram a ideia de fundar uma escola de samba. O grupo também recebeu o apoio do bloco de Dona Maria Tataia, e dos times de futebol Unidos da Vila e Vila Isabel Futebol Clube.

A Unidos de Vila Isabel foi fundada em 04 de abril de 1946, no quintal da casa de Seu China, na Rua Senador Nabuco, número 248, casa 3, na subida do Morro dos Macacos, onde funcionou a primeira sede da agremiação. A escola foi fundada por Antônio Fernandes da Silveira (Seu China); Aílton Cléber da Silva; Antonio Rodrigues (Tuninho Carpinteiro); Ari Barbosa; Cesso da Silva; Joaquim José Rodrigues (Quinzinho); Osmar Mariano; Paulo Gomes de Aquino (Paulo Brazão); e Servan Heitor de Carvalho. Também participaram da fundação: José Ferreira Leite; Djalma Fernandes da Silveira (Filho de Seu China; também conhecido como Djalma Sapo); Dulcinéia Gomes de Aquino (irmã de Paulo Brazão, foi a primeira diretora da Ala das Baianas); Peti (uma das primeiras baianas da escola); Enock (conhecido como carioca); entre outros sambistas e foliões da região.

Cada um dos fundadores foi escolhido para exercer uma função na diretoria da nova agremiação: Seu China foi o primeiro presidente; Paulo Brazão foi diretor de harmonia, diretor geral, e compositor dos primeiros sambas da escola; Osmar Mariano era diretor de bateria; Antonio Rodrigues, o tesoureiro; Ari Barbosa, o secretário; Joaquim José Rodrigues, o procurador; e José Ferreira Leite era o representante da agremiação na União Geral das Escolas de Samba do Brasil. Tião Arroz foi o primeiro mestre-sala; Raquel Amaral foi a primeira porta-bandeira; e Célia Fernandes de Souza, a primeira rainha da agremiação.

No dia 27 de dezembro de 1946, a Unidos de Vila Isabel foi filiada à União Geral das Escolas de Samba do Brasil, conquistando o direito de disputar o campeonato do carnaval do ano seguinte. Desde então já são 72 anos de grandes histórias que se imortalizaram em grandes sambas nos levando a conquistar três campeonatos incontestáveis no Grupo Especial das Escolas de Samba do Rio de Janeiro.

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