Desde junho de 2018, a passagem de ônibus ficou mais cara. Depois de dois anos sem aumento e dos inúmeros impasses entre o Ministério Público e as empresas, o valor mínimo cobrado na capital subiu de R$ 3,60 para R$ 3,95. Na época, o reajuste foi confirmado pelo decreto N° 44.600/2018 e assinado pelo prefeito Marcelo Crivella.
No entanto, a decisão que anulou as ressalvas judiciais do MP previa o cumprimento de algumas metas até setembro de 2020. Tudo, obedecendo um cronograma que, além da renovação da frota, estabelecia o melhoramento do serviço oferecido aos usuários. Entre as principais medidas, estava a disponibilização de uma maior circulação dos ônibus com ar-condicionado.
No dia 30 de agosto, Crivella apresentou os primeiros 150 veículos da nova frota municipal. Os carros que chegaram possuem uma padronização diferente de cores, além de ar-condicionado, câmeras, Wi-Fi e entrada USB para carregar aparelho celulares. A partir do dia 3 de setembro, eles passaram a circular na zona oeste e na zona norte da cidade. Desse modo, a ação cumpriu apenas a primeira fase do Termo de Ajuste de Conduta (TAC) assumido entre a prefeitura e o Sindicato das Empresas de Onibus do Rio de Janeiro (Rio Onibus).
Contudo, diariamente, muitos passageiros não têm percebido uma mudança significante no serviço de viação da capital. Pelo contrário, são inúmeras reclamações e relatos de descaso e desrespeito com a população. As histórias revelam casos de veículos em péssimo estado de conservação, problemas com o troco e ainda a existência de ônibus com o ar-condicionado que não funciona.
De acordo com uma grande quantidade de pessoas que usam esses coletivos, são várias linhas com discrepâncias. Entre elas estão: 435, 422, 484, 583, 584, 581, 582, 432, 538, Troncal 2, 464, 217, 457.
Numa pesquisa realizada pelo portal Eu,Rio! junto aos clientes da zona norte e sul, essas foram as recordistas de observações negativas. Isso sem incluir as empresas que operam em outras regiões do município. Já sobre as linhas que tem apresentado modificações significativas, a 232 foi a mais elogiada.
A jornalista Paula Kotou é moradora do bairro de Copacabana e afirma que não tem percebido as mudanças. Ela conta que eventualmente tem entrado em carros velhos, alguns com assentos soltos e até baratas.
"A maioria dos que pego seguem ser ar-condicionado e indicando que também são antigos. De uns dias para cá, tenho visto até muitos circulando com a pintura antiga, anterior a da racionalização proposta pelo ex-prefeito Eduardo Paes. Para ser realista, a última vez que notei grande quantidade de carros novos foi quando aqueles rebaixados foram implementados. Lembro que havia a proposta de colocar todos naquele modelo", alertou Paula.
Procurada pela reportagem, em nota, a Rio Onibus informou que as empresas estão trabalhando para cumprir o acordo e oferecer melhores condições aos clientes. Confira:
"O Rio Onibus informa que as empresas consorciadas estão empenhando todos os esforços para normalizar o sistema de transporte por ônibus o mais rápido possível, fazendo a compra de novos ônibus e melhorando a frota da cidade como um todo.
Após o acordo assinado com a Prefeitura, o Rio Onibus já entregou mais de 150 novos veículos para a cidade, superando a quantidade prometida no contrato. Além disso, normalizou a operação de algumas linhas e já tem cerca de 150 coletivos em processo de montagem e liberação, totalizando mais de 300 novos veículos climatizados circulando até o fim do ano."
Secretaria Municipal de transporte realiza fiscalização
Em nota ao portal, a SMTR informou sobre as autuações realizadas pela Secretaria. Veja a seguir:
"A Secretaria Municipal de Transportes informa que os consórcios de ônibus atuantes na cidade (Internorte, Intersul, Transcarioca, Santa Cruz e BRT), já foram autuados mais de 1.130 vezes somente este ano por má conservação da frota, o que inclui para-brisa rachado, banco rasgado, mau estado da carroceria, defeito no equipamento de acessibilidade, mau funcionamento do ar condicionado, entre outras irregularidades.
Além dessas, mais de 3.400 multas foram aplicadas aos consórcios por inoperância de linhas e operação com frota abaixo do determinado, no mesmo período.
Vale destacar que a SMTR mantém monitoramento permanente das linhas de ônibus e realiza ações de fiscalização frequentes em garagens, terminais e nas ruas. Em caso de irregularidades, o consórcio responsável é multado e notificado a fim de aprimorar os serviços ofertados à população."
Sem troco
Além das diversas reclamações, o valor da passagem também virou um problema para motoristas e passageiros. Isso porque, é comum que os usuários relatem que nunca há o troco de R$ 0,05 centavos. Por isso, quase sempre, quem sai perdendo é o cliente.
A situação levou o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Onibus da Cidade do Rio (Sintraturb) a denunciar o fato. Segundo a entidade, os motoristas são obrigados a trabalhar sem dinheiro suficiente para passar o troco e, caso os consumidores exijam, eles acabam tendo que tirar do próprio bolso para repor a diferença. O Procon informa que, se houver descumprimento da lei, o passageiro pode chamar a polícia.
Legalmente, nem os motoristas e nem os clientes devem arcar com os prejuízos. Nestes casos, quando não houver troco suficiente, o valor deve ser reduzido para que possa haja a retribuição. A Secretaria Municipal de Transportes orienta que qualquer arbitrariedade seja informada ao órgão.