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Átila Nunes aciona MP contra pastor que falou em "fechar terreiros" de Itaboraí

Procurado pela reportagem, Felippe Valadão não se manifestou, limitando-se a divulgar apoio recebido de fãs nas redes sociais; Prefeitura celebrou aniversário da cidade pagando R$ 145 mil por três shows gospel

Por Anderson Madeira em 23/05/2022 às 20:30:04

Caso de polícia: pastor recebeu recurso público para proferir discurso de ódio. Imagem: Reprodução/YouTube (Canal Historiando Axé com Tom Olooré)

O deputado estadual Átila Nunes (PSD) deu entrada nesta segunda-feira, 23, no Ministério Público estadual (MPRJ), contra o pastor Felippe Valadão por disseminação de ódio religioso durante show gospel no último dia 19, no município de Itaboraí, Região Metropolitana do Rio, em comemoração ao aniversário de 189 anos da cidade. O religioso proferiu discurso contra religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé. Átila também entrou com representação contra o prefeito Marcelo Delaroli por uso de dinheiro público privilegiando uma religião no evento, ao qual ele estava presente, no palco.

“Esse absurdo que aconteceu em Itaboraí é o reflexo da política do 'terrivelmente evangélico'. Muitos prefeitos pelo país usam recursos públicos para promover shows gospels para atender aos vereadores da bancada religiosa. Assim também tem sido no Congresso e nas assembleias legislativas”, afirma Nunes, que assina a representação junto com o filho, o vereador Átila Alexandre (PSD). O parlamentar também entrou com uma denúncia junto à Delegacia de Crimes Raciais e de Crimes de Intolerância (Decradi) contra Valadão. Em 2021, o parlamentar carioca foi o primeiro secretário municipal de Cidadania, tendo, quatro anos antes, sido nomeado secretário estadual de Direitos Humanos.

“Peço o ressarcimento de R$ 145 mil gastos no show gospel, bem como a condenação do prefeito no mesmo valor a ser destinado às vítimas de intolerância religiosa”, acrescentou Átila. Na tarde desta segunda-feira (23), o deputado se reuniu com o comandante do 35º BPM (Itaboraí), Coronel Luiz Henrique Marinho Pires, solicitando reforço no policiamento nos bairros de Itaboraí com concentração de terreiros de umbanda e candomblé.

Nas representações, o deputado solicita instauração de procedimento administrativo para apurar eventual responsabilidade criminal do pastor; aplicação das penalidades devidas, de acordo com o grau de violação apurado; e notificação da Prefeitura de Itaboraí, bem como da Secretaria de Turismo e Eventos para se manifestar a respeito.

No último dia 20, membros da Comissão de Matrizes Afro Brasileiras de Itaboraí foram até a 71ª DP (Itaboraí) registrar boletim de ocorrência contra o pastor. A denúncia já foi encaminhada para a delegada Débora Rodrigues, titular da Decradi. O pastor é líder da Igreja Batista da Lagoinha de Niterói. A Comissão divulgou na última sexta-feira a seguinte nota de repúdio:

“Em sua fala, o pastor agride de maneira vil, desrespeitosa e ameaçadora à comunidade religiosa do candomblé e da umbanda nesta cidade”, disse em comunicado, que ainda questiona “o motivo de uma manifestação festiva, popular e laica ter em sua programação discursos de cunho religioso". "O Deus que conhecemos não compactua com sua megalomania, loucura e arrogância”, concluiu.

No show em Itaboraí se apresentaram três atrações musicais, todas evangélicas, pelo que a prefeitura pagou R$ 145 mil, segundo o Diário Oficial do Município publicado no último dia 23 de abril. A prefeitura se pronunciou e informou que as declarações dos artistas são de inteira responsabilidade deles. "A Prefeitura destaca ainda que o governo é para todos e reitera que não apoia nenhum tipo de intolerância religiosa", disse, em nota.

Átila Nunes entrou com queixa no MP fluminense. Foto: Divulgação

Citado

Valadão foi procurado, mas ainda não se manifestou. Em seu perfil numa rede social, declarou: “Não cheguei agora. Não comecei ontem, por isso milhares de pessoas vindo aqui me abençoar e escrever mensagens de carinho. Amamos pessoas e continuaremos [a] amar independente de qualquer classe social, religião, cor, eu não estou nem aí para nada, eu amo as pessoas”.

Apesar do sobrenome em comum, Felippe é cunhado de Ana Paula Valadão, uma das principais cantoras de música gospel do Brasil e também autora de discursos de ódio contra religiões afro-brasileiras. Eis o discurso do pastor durante o show gospel:

“Avisa aí, ó... Esses endemoniados de Itaboraí, o tempo da bagunça espiritual acabou, meu filho. A Igreja está na rua, a igreja está de pé, a Igreja está de pé. Pode matar galinha, pode fazer farofa, pode fazer o que você quiser. E ainda digo mais, prepara pra ver muito centro de umbanda sendo fechado na cidade. Eu declaro, vem um tempo aí, ó, Deus vai começar a salvar esses pais-de-santo que têm aqui na cidade. Você vai ver coisa que nunca viu na vida. Chegou o tempo, Itaboraí. Aquele espírito maligno de roubalheira na política acabou”.

Assista, no vídeo a seguir, às declarações do pastor Felippe Valadão. As imagens foram postadas no canal do YouTube Historiando Axé com Tom Olooré.

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