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Cais do Valongo receberá US$ 500 mil para obras

O aporte virá do Fundo dos Embaixadores dos EUA para Preservação Cultural

Por Alexandra Silva em 21/11/2018 às 19:16:30

Consulado dos EUA anuncia patrocínio para conservação e consolidação do sítio arqueológico do Cais do Valongo, na zona portuária do Rio de Janeiro. Foto: Unic Rio

Na manhã desta quarta-feira (21), o cônsul-geral dos EUA no Rio de Janeiro, Scott Hamilton, representando a missão diplomática no Brasil, anunciou o aporte de US$ 500 mil (cerca de R$ 2 milhões) para o projeto de ações para a conservação e consolidação do sítio arqueológico do Cais do Valongo, na região portuária do Rio.

Na cerimônia esteve presente a secretária Municipal de Cultura, Nilcemar Nogueira; o presidente do Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), Ricardo Piquet e Monica Costa, superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN); além de representantes das entidades que trabalharam em conjunto para a elaboração e construção do projeto inicial desenvolvimento da região.

O objetivo é que as ruínas do Cais do Valongo funcionem como um museu a céu aberto. A doação foi concedida pela Missão Diplomática, com recursos do Embaixadores dos Estados Unidos para Preservação Cultural que trabalha em conjunto com o Brasil, na promoção de inclusão racial e destaca a herança africana compartilhada entre os dois países.

"O Brasil e os Estados Unidos são os países com maior patrimônio da cultura africana no continente americano. Este ato compreende a cooperação entre os dois países, na preservação dos vestígios desta tragédia com o povo negro. Este é o segundo maior valor doado pelo Fundo, pela importância simbólica do Cais do Valongo. Estou muito satisfeito em fazer parte desta política de inclusão e na construção da memória dos afrodescendentes no Brasil", disse Scott Hamilton, cônsul-geral dos EUA no Rio de Janeiro.

No primeiro momento, serão realizadas a restauração do pavimento original de pedras, drenagem das águas da chuva e reforço na estrutura das paredes e fundações. O trabalho é resultado de um projeto da Prefeitura, via Secretaria Municipal de Cultura, orientado pelo IPHAN.

"Agora cabe ao IPHAN fiscalizar o andamento dessas obras, para verificar se estão de acordo com o projeto, que foi resultado do edital, onde iniciamos o diálogo entre a Prefeitura e o consulado dos EUA. Esta é mais uma etapa de valorização do sítio arqueológico como memória. Para que ações escravagistas não se repitam", declarou Monica Costa , superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Os US$ 500 mil, que equivalem hoje, um pouco mais de R$ 1,9 milhão, serão geridos pelo IDG que administrará as obras como limpeza, recuperação e instalação de um projeto de iluminação e educação previstos no projeto. Além do treinamento de pessoal que trabalhará na recepção do Cais do Valongo.

"Nós do IDG estamos muito felizes com esta parceria, que nos permitirá contar a história do Sítio Arqueológico do Cias do Valongo, ressignificando um momento doloroso do nosso passado recente, num ambiente de reflexão e valorização da cultura de matriz africana", revelou Ricardo Piquet, presidente do IDG.

Projeto ainda não é o ideal

O anúncio do aporte não foi recebido com unanimidade entre alguns participantes do evento que contestaram o destino da quantia. Para Mercedes Guimarães, presidente do Instituto de Pesquisa e Memória dos Pretos Novos, a iniciativa é importante, mas não é a solução para a preservação de espaços como o IPN, Casa da Tia Ciata, Pedra do Sal e Museu da Escravidão e da Liberdade, entre outros na região.

"Espero que o Cais do Valongo seja realmente preservado e vire um museu a céu aberto. Mas é importante que se preserve locais como IPN. Que se não fosse o achado do IPN, não se teria conhecimento sobre sítio arqueológico do Cais do Valongo", ressaltou Mercedes.

Quem também não concordou com o encaminhamento do projeto foi Damião Braga, presidente da Associação da Comunidade Remanescente do Quilombo Pedra do Sal, que fez críticas a iniciativa.

"Nosso comitê gestor nem foi convidado para este evento. O Cais do Valongo não é sozinho. Temos o Quilombo da Pedra do Sal e o Cemitério dos Pretos Novos que formam a Pequena África. Precisamos de mais políticas de inclusão, de mais investimentos do poder público. Há muito trabalho a ser feito", protestou Damião.

Em resposta aos protestos direcionados à administração pública, a Secretária Municipal de Cultura, Nilcemar Nogueira explicou que este aporte é parte de uma gama de projetos que estão previstos e contemplarão toda região.

"O desafio é tornar a Secretaria Municipal de Cultura em banco de investimentos e não de financiamentos. Onde realizaremos um trabalho de elaboração de projetos executivos e busca de parcerias que possam consolidar nossos objetivos de preservação e conservação de patrimônio afro-brasileiro. Nosso objetivo é em 2020, inaugurar o Centro de Interpretação do sítio arqueológico. Quem viver, verá!", declarou Nilcemar.

Importância Histórica

O Cais do Valongo foi considerado Patrimônio Mundial da UNESCO, em 2017, por ser o único vestígio material de desembarque de cerca de 1 milhão de africanos escravizados nas Américas. Esta será a primeira grande intervenção no local desde a obtenção do título.

O projeto conta ainda com o apoio do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH) e foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC), do estado do Rio de Janeiro.

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