Daniel Damas, "cria" do bairro de Cordovil, na Zona Norte do Rio, terá uma emoção diferente nesta sexta-feira (03). Ele apresentará, em Paris, capital da França, seu primeiro filme, "A verdade que me contaram".
A experiência é resultado da sua participação no Programa "Imagens em Movimento (PIM)", da ONG Raiar, de Ana Dillon. O PIM é destinado a oferecer, na rede pública de educação do Rio e de outros estados (em 2022, incluiu Várzea Paulista/SP e Camaçari/BA), oficinas de música, expressão e cinema. Nesta última, Daniel foi fundo. No contraturno do horário escolar, fez aulas com Ana Dillon e realizou, com os colegas do Colégio Estadual Professor José de Souza Marques, o trabalho. De cara, a decisão de abordar racismo e homofobia no roteiro. "É muita violência, do nada, seja verbal ou física, contra meninas e meninos. Tenho amigas e amigos gays e já tive que defendê-los de ofensas absurdas", conta.
Aos 18 anos, tem história de gente grande. Trabalha desde os 11 fazendo carreto na porta de supermercado e, depois, como ajudante de pedreiro. "Vou fazer Enem para Engenharia Civil e concurso para a Marinha do Brasil ", diz. A mãe de Daniel criou sozinha os sete filhos e ele sempre a ajudou. O futuro cineasta, três irmãos, a avó e a mãe moram numa casa de um cômodo. Cozinha e banheiro ficam num anexo no quintal. "Quando surgiu a oportunidade de viajar para a França, os colegas de turma incentivaram muito. Até me emocionei. Conhecer tudo o que estou conhecendo, é incrível! Quando os estrangeiros sabem que sou brasileiro e me veem jogando bola, brincam muito. Associam futebol e Brasil a Neymar!", diz. A vida não é filme, mas a do Daniel dá uma baita fita de cinema.
Os demais estudantes da representação brasileira no "Rencontres Internationales A nous le cinéma", em Paris, são Yasmim Pereira da Silva, de 15 anos, moradora de Várzea Paulista SP, aluna da Escola Estadual Armando Dias; Gabriella dos Santos de Magalhães, aluna do Colégio Estadual Adelina de Castro, de Duque de Caxias/RJ; Geovana Junior da Silva Pereira de Oliveira, 13, da Escola Municipal José Emydio; e Agatha Camila Santos da Silva, da Escola Municipal Frederico Trotta, na Barra da Tijuca. Da Bahia, Jannielly Santana Borges, de 17 anos, apresentou hoje, quinta-feira (02), o curta-metragem "Camaçari", em que assina roteiro e direção. Ela é aluna do Colégio Estadual José de Freitas Mascarenhas, da cidade mostrada em sua película.
O grupo embarcou para a França no dia 28 de maio e, desde lá, circulou por Paris participando de debates, assistiando a filmes, caminhando pela cidade e fazendo amizades com os outros estudantes de diversos países. O papo convergia para as funções da "Pedagogia do Cinema", em que a experiência do audiovisual é ferramenta agregadora ao ensino formal. O evento termina nesta sexta-feira (03).