Você sairia de um emprego para ganhar mais em outro, desempenhando a mesma função? Sim, alguns médicos trocariam. É o que parece estar acontecendo no atual processo de seleção para o Mais Médicos. De olho nos salários maiores oferecidos pelo programa federal, médicos que já atuam em municípios estão se desligando de seus postos de trabalho para se candidatarem a uma das vagas deixadas pelos cubanos. O resultado dessa transição pode ser um enorme déficit de profissionais nas redes municipais.
Os números são preocupantes. Em Roraima, por exemplo, 36 profissionais inscritos para vagas do Mais Médicos já atuavam no Sistema Único de Saúde (SUS). No Acre, dos 79 médicos que se inscreveram, 57 já atuam na saúde pública daquele estado. Na Bahia, são mais de 400 médicos migrando de outros programas do SUS para o Mais Médicos. Depois de aderirem ao programa federal, esses e tantos outros médicos que estão fazendo a opção de troca deixarão de atuar em seus atuais postos de trabalho. Alguns, inclusive, já solicitaram o desligamento.
Atraídos por salários maiores
O alerta da migração de profissionais para o Mais Médicos foi feito pelo CONASEMS, Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde. Para o órgão, a motivação da mudança é financeira. No Mais Médicos, o salário é de R$ 11.800,00 mais uma ajuda de custo, que varia entre R$ 1 mil e R$ 3 mil. Esses valores são bem maiores que os oferecidos nos programas de saúde desenvolvidos por municípios das regiões Norte e Nordeste.
Considerando esse cenário, o presidente do CONASEMS, Mauro Junqueira, acha que o novo edital do Mais Médicos está descobrindo um santo para cobrir o outro: " ao invés de somar profissionais, esse novo edital está trocando o problema de lugar. Se o médico sai de um serviço do SUS para atender em outro, o município de origem fica desassistido, independente se esse médico se desloca da atenção básica ou da especializada, principalmente em relação ao norte e nordeste onde todos os estados têm municípios com perfil de extrema pobreza e necessitam da dedicação desses profissionais que já estão trabalhando", declarou Mauro Junqueira.
As inscrições para o programa Mais Médicos permanecem abertas. Nesta sexta-feira (7), o Ministério da Saúde deve divulgar um balanço do preenchimento das vagas deixadas pelos cubanos. A primeira etapa das inscrições se encerraria nesta sexta, mas com a desistência de cerca de 300 médicos que já haviam sido aprovados no processo de seleção e direcionados aos respectivos postos de trabalho, as inscrições foram prorrogadas. Até o dia 14 de dezembro, todos os médicos selecionados nesta etapa do processo já terão de estar trabalhando.