O mês de agosto traz à tona a questão da amamentação. O "Agosto Dourado" simboliza a luta pelo incentivo à amamentação – a cor dourada está relacionada ao padrão ouro de qualidade do leite materno. De acordo com a OMS e o Unicef, cerca de 6 milhões de vidas são salvas anualmente por causa do aumento das taxas de amamentação exclusiva até o sexto mês de idade.
A médica Maria Raris fala da importância e dos benefícios, tanto para a criança quanto para mãe que amamenta, e como funciona para prevenir alguns problemas futuros.
“Os benefícios da amamentação natural são inúmeros, e se estendem também à mãe. A amamentação natural leva ao fortalecimento da musculatura da face, a construção do laço mãe/bebê, reduzindo assim a chance de desenvolver transtornos de ansiedade. O ato da sucção faz com o que o bebê não adote hábitos deletérios, como o uso de chupeta ou dedo, leva ao alinhamento da mordida, desenvolvimento de uma vida intestinal saudável, o que diminui a incidência de alergias respiratórias, gastroenterites, alergias alimentares, e, por ser o leite materno a maior fonte de ferro biodisponível, os bebês nutridos exclusivamente por ele têm menor chance de desenvolver anemia e, consequentemente, as patologias a ela relacionadas como a redução da incidência de diabetes, osteoporose, e obesidade na idade adulta", revela a profissional.
Quanto à mãe, foram constatados números menores de casos de depressão pós-parto devido à conexão criada entre ela e o bebê, liberação de ocitocina (hormônio produzido no cérebro, que tem papel importante para facilitar o parto e a amamentação) levando à sensação de bem-estar, retorno mais rápido ao peso pré-gestacional, ação contraceptiva da lactação ( LAM - métodos de amenorreia lactacional) , retorno à vida sexual mais precoce, entre outros.
"No Brasil, o engajamento ao aleitamento materno se deve às diversas campanhas do SUS, porém ainda existem alguns mitos como 'meu leite é fraco', 'não tenho leite' ou 'meu bebê não quis mais', desfecho que pode ser mudado com uma pegada correta por parte do bebê, que leva a maior liberação de hormônios responsáveis pela produção de leite", conta Raris.
Prevenção como premissa
Raris, há 16 anos, trabalha na área de clínica geral. Graduada em medicina pela Universidade Gama Filho, com especialização em clínica médica pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, e mestrado em ciência forense pela National University, Califórnia, o foco principal do trabalho dela é a prevenção. A rotina da profissional no Rio de Janeiro conta com o trabalho como professora de clínica médica e fisiopatologia da Faculdade de Medicina Estácio de Sá (ministra aulas de gastroenterologia, cardiologia e pneumologia), além de atuar na clínica médica da enfermaria do hospital Casa de Saúde São João de Deus e na clínica geral da Med Rio Check-up, sendo também parecerista do hospital Rio’s Dor.
O tema central do seu trabalho é a prevenção. A medicina preventiva - como exemplo os efeitos do sedentarismo (dislipidemias, hipertensão primária sistêmica, diabetes, esteatose hepática) -, funciona como um combate imediato aos problemas que não estamos imunes no decorrer da vida. Lidando no dia a dia com patologias de todas especialidades, ela ratifica que, muitas vezes, um diagnóstico imediato pode salvar vidas.
“Todos nós deveríamos fazer acompanhamento periódico com um clínico geral para realização de um bom exame físico e anamnese, além de, eventualmente, exames complementares para que possamos nos prevenir e até mesmo tratar doenças em fase precoce, o que torna o prognóstico sempre mais favorável. A principal causa de morte no mundo são as doenças cardiovasculares que, em sua grande maioria, podem ser evitadas através de um estilo de vida saudável”, observa.
Seguir a boa e velha cartilha é a melhor opção para manter-se saudável. A médica recomenda, para ter uma saúde estável, fazer atividade físicas pelo menos quatro vezes por semana, por no mínimo 40 minutos; alimentação rica em fibras, legumes e verduras; redução da ingestão de gorduras saturadas, açúcares e alimentos refinados; beber a quantidade certa de água; não fumar; não beber; e praticar o lazer para redução do estresse. “Mas, mesmo assim, manter visitas periódicas ao clínico geral, mesmo na ausência de sintomas ou sinais , é importante para que seja realizado um exame físico apurado e um possível diagnóstico precoce, o que torna o desfecho de qualquer doença mais favorável'', conclui.
Sobre o assunto Covid, Maria Raris tem experiência de quem trabalhou in loco quando foi chefe de uma enfermaria da doença. Por um ano, viu muitas pessoas morrerem antes da vacina. Mas observa que o momento atual é bom. “Avalio o retorno como algo benéfico para economia e desenvolvimento da sociedade. Principalmente quando se trata de crianças na primeira infância, é necessário. Apesar da mortalidade ter aumentado nos últimos dois meses e 93% dos casos hoje serem pela variante BA5, o qual é altamente transmissível, temos visto casos leves com baixa morbidade”, ressalta.