Cansados de esperar o cumprimento da promessa do governo estadual, de retomar com o bonde no ramal Paula Mattos, os moradores do bairro Santa Teresa, zona sul do Rio de Janeiro, farão um protesto pelas ruas da região neste sábado, 27, das 11h às 13h, no Largo das Neves, onde há 11 anos, ocorreu um acidente, com a queda de um bonde, que causou a morte de sete pessoas, ferindo mais de 50. A concentração será em frente à Oficina dos Bondes, na Rua Carlos Brandt, no Largo do Guimarães. Na programação consta ainda outro ato público às 18h e no domingo, às 11h, missa na Igreja Anglicana.
Os moradores reivindicam a restauração do sistema de bondes do bairro e, prioritariamente, a reativação do ramal Paula Mattos. Esse é o caráter do "Marco 27 de agosto", ato criado por moradores e admiradores do bonde para homenagear as vítimas do acidente em 2011, e cobrar melhorias no sistema. O protesto está sendo organizado pela Amast - Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa - , e demais coletivos representativos dos moradores. Estes consideram o bonde o meio de transporte mais apropriado devido a geografia e identidade cultural de Santa Teresa. As linhas que há hoje cobram R$ 20 de passagem e são mais voltadas aos turistas.
“Sem o ramal Paula Mattos, sem o bonde até o Largo das Neves, cerca de um terço do bairro fica sem qualquer transporte. Há onze anos que o Governo do Estado não consegue operar uma obra de um quilômetro e pouco de trilhos. Isso é muito atraso. De três anos para cá, com a pandemia, nós estamos vivendo pior ainda. Sem ônibus. Ou recentemente, uma melhoria pequena, que traz o ônibus em pequena parte do dia. A falta que faz é a falta de transporte. É a falta de uma cultura tradicional de 120 anos, das pessoas andarem com transporte público, que passa de dez em dez minutos. Nós não temos isso e portanto, não dá nem para medir, são todos os sentimentos de abandono, de descaso, porque é um limite que nunca se imaginava possível. Então, essa é uma das nossas reivindicações principais. A prioridade é a obra da via Paula Mattos”, explica Paulo Saadi, presidente da Amast.
Para Saadi, a volta do bonde precisa ser agilizada.
“O governo disse que vai fazer. O governador disse que ia fazer e disse que tinha recursos para isso. O presidente da Central, que é a empresa que toma conta dos bondes, opera os bondes, disse que vão fazer. Que é um problema contratual. O problema é que esse contrato, essa continuação do contrato, melhor dizendo, está para acontecer há meses. E até agora não aconteceu. Nós precisamos fazer isso com mais rapidez. Precisa ter essa decisão imediata sobre o contrato.
Precisam ser recontratados se for o caso, ou ser dada continuidade ao contrato, de obra na via. O governo não garante nada. Ele apenas diz que vai fazer, mas, não começa a obra. E não garante que teremos novos bondes. Não garante que a gente tenha uma tarifação universal. Todos os argumentos do governo são de que estão estudando e tal e nós acreditamos que estejam estudando. Mas, esse estudo está demorando muito. Que dá na verdade uma ideia de que a vontade política é dificultada pela burocracia. Ou não há vontade política. Mas, estamos aguardando que se cumpra a promessa. Que a palavra do governador, a do presidente da Central sejam verdadeiras e que eles tenham de fato, uma postura daqui para frente, que seja uma postura de agilização dessa obra. De agilização da contratação desse restauro desses bondes e que a gente possa ter um sistema que funcione e comece a funcionar antes do final do ano”, afirma o presidente da Amast.
“Nós estamos com problemas sérios na operação, mesmo no trecho em que o bonde está funcionando. Porque a jornada é muito pequena. Começa às 6h e termina às 17 horas. E tem intervalo de 20 em 20 minutos para o bonde. Isso significa muito pouco. Nós precisamos de uma jornada que comece antes, para levar as pessoas para o trabalho e depois traga as pessoas do trabalho para o bairro. Então, tem que terminar no mínimo umas dez horas da noite, que o sistema ainda está precário. Tem que ter seis bondes rodando, de dez em dez minutos. Nós temos oito bondes novos. E não tem justificativa para não ter os seis bondes funcionando. O intervalo de dez minutos é razoável no trecho onde ele funciona. Para isso, tem que contratar motorneiros, gastar mais dinheiro com a manutenção, para que todos os bondes estejam funcionando bem, para seis deles estarem na rua. São 14 bondes que estão faltando. Contratação também de mecânicos, eletricistas, o que for necessário para fazer tocar a manutenção e a operação da maior importância para o bairro”, cita.
Procurada, a Companhia Estadual de Engenharia e Logística (Central), empresa responsável pelo serviço dos bondes, divulgou a seguinte nota:
"O contrato com a empresa responsável pelas obras de reforma e ampliação do Bonde de Santa Teresa está suspenso desde 2020, antes do governador Cláudio Castro assumir o cargo. Por determinação do governador, a Companhia Estadual de Engenharia e Logística (Central) retornará com as obras ainda esse ano. O reinicio dos serviços será pelo Ramal Paula Matos. Foi enviada para a PGE um parecer favorável de técnicos do órgão pela manutenção e continuação do contrato para que não atrase ainda mais a retomada da obra - visto que abrir um processo de licitação para a contratação de uma nova empresa seria mais demorado. A expectativa é que as obras do Ramal Paula Matos fiquem prontas em 7 meses e, em 10 meses, todo o sistema de Bondes esteja com a reforma concluída"."O contrato com a empresa responsável pelas obras de reforma e ampliação do Bonde de Santa Teresa está suspenso desde 2020, antes do governador Cláudio Castro assumir o cargo. Por determinação do governador, a Companhia Estadual de Engenharia e Logística (Central) retornará com as obras ainda esse ano. O reinicio dos serviços será pelo Ramal Paula Matos. Foi enviada para a PGE um parecer favorável de técnicos do órgão pela manutenção e continuação do contrato para que não atrase ainda mais a retomada da obra - visto que abrir um processo de licitação para a contratação de uma nova empresa seria mais demorado. A expectativa é que as obras do Ramal Paula Matos fiquem prontas em 7 meses e, em 10 meses, todo o sistema de Bondes esteja com a reforma concluída".
Histórico do caso
Em 27 de agosto de 2011, o bonde 10 sofreu uma pane nos freios e descarrilhou, matando sete passageiros e ferindo mais de 50. O total descaso pelo Governo do Estado com a manutenção dos bondes foi a única causa do acidente. Desde o ano de 2000, quando a oficina do Largo do Guimarães finalizou o restauro de 11 bondes, o projeto do sistema de bondes foi sendo destruído, passo a passo. Os bondes restaurados, sem nenhuma verba de manutenção e conservação, durante mais de uma década, foram sendo encostados, canibalizados, até sobrar só o bonde do acidente, circulando de forma precária. Como vemos, uma tragédia anunciada.
De lá para cá os moradores de Santa Teresa têm travado uma luta pela restauração do sistema de bondes do bairro e o retorno do ramal Paula Mattos. O bairro reúne uma população em torno de 10 mil pessoas.
A questão se arrasta apesar da justiça já ter dado ganho de causa aos moradores, com sentença transitada em julgado determinando ao estado que faça a recuperação total do sistema de bondes do bairro. A Setrans - Secretaria Estadual de Transportes, e a Central compraram14 novos bondes, deixando mais uma vez os originais abandonados.
Programação do ato:
Sábado - dia 27
11h às 13h – Ato no local do acidente
15 às 18h – Concentração em frente à Oficina dos Bondes, na Rua Carlos Brandt, no Largo do Guimarães, e cortejo em direção ao Largo das Neves
18h – Ato Público e encerramento com Batalha das Rimas com a Roda Cultural Canta Teresa e Folha Seca.
Domingo - dia 28
11h - Missa na igreja Anglicana em memória das vítimas do acidente