No último dia 24, o brasileiro Kesley Bial, de 23 anos de idade, morreu sob custódia do ICE (Agência Policial de Imigração). Ele foi detido na cidade de El Paso, no Texas, após ter cruzado o deserto mexicano na tentativa de reencontrar a mãe, que mora nos EUA. O motivo da morte ainda não foi esclarecido.
A história de Kesley é apenas mais uma no meio de uma multidão de casos que compõem a mais grave crise humanitária da história dos Estados Unidos. Neste mês, a Casa Branca voltou a alertar sobre um eminente colapso na fronteira e pressionou publicamente as autoridades a acelerarem as deportações de imigrantes que se encontram presos. O principal argumento é a falta de infraestrutura e superlotação dos Centros de Detenção de Imigração. Em muitos destes Centros, é comum haver relatos de maus tratos e ausência de alimentação adequada e material higiênico. A expectativa agora é a de que nas próximas semanas uma grande quantidade de imigrantes seja deportada e novas medidas de controle e repressão na fronteira sejam aprovadas pelo Congresso, fatos que, como praticamente tudo que envolve o assunto “imigração”, deve gerar polêmica. “A crise causada pela situação na fronteira também é política e vem sendo refletida na dificuldade da atual administração para aprovar diversas leis pró imigração. Se, por um lado, os democratas acreditam que regras mais brandas devam ser aplicadas para os imigrantes, por outro, os republicanos acreditam que medidas mais duras precisam ser implementadas, inclusive a proposta de Biden para permitir a legalização de quase 11 milhões de imigrantes indocumentados já foi vetada quase em sua totalidade. Enquanto isso, a situação na fronteira vai se agravando”, comenta Marcelo Gondim, advogado de imigração nos Estados Unidos.
Mas apesar da crise na fronteira estar diariamente em todos os noticiários, o movimento migratório rumo aos EUA segue aumentando drasticamente. Desde 2021, aproximadamente 200 mil pessoas tentam entrar ilegalmente no País todos os meses. No total, já são mais de 2 milhões de detenções na fronteira somente em 2022, com 268 mil pessoas deportadas para seus países de origem ou removidas para o México. “Muitas pessoas buscam entrar nos EUA pelo chamado Cai-Cai, nome dado ao ato de fazer a travessia pelo México, normalmente, com auxílio de um atravessador (coiote) e se entregar voluntariamente para as autoridades americanas ao mesmo tempo em que se solicita um processo de asilo no País. Trata-se de uma prática muito arriscada, seja pelas dificuldades do deserto, pela possibilidade de ser enganado pelo coiote ou, ainda, pelas punições que a pessoa pode sofrer por parte do Governo Americano, incluindo prisão e deportação. Infelizmente, existem muitos grupos no WhatsApp e redes sociais que espalham fake news e incentivam a prática ilegal do Cai-Cai, principalmente no Brasil”, declara Gondim.
A população de brasileiros apreendidos na fronteira e deportados de volta ao Brasil nunca foi tão grande. Em julho deste ano, o Departamento de Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos (CBP) divulgou que mais de 2.200 brasileiros foram deportados. Cerca de 2 a 3 voos lotados chegam todas as semanas ao Brasil trazendo imigrantes que se encontravam em situação irregular na América. “O mais triste é saber que muitos destes brasileiros presos e deportados possuem perfis profissionais e acadêmicos que poderiam qualificá-los pelo green card de forma legal. A desinformação ainda é a grande inimiga do brasileiro que sonha em morar nos Estados Unidos”, declara Marcelo, que também é fundador da Gondim Law Corp, escritório de Direito Imigratório em Los Angeles que já atendeu milhares de brasileiros em seus processos de imigração para os EUA.