O Museu de Imagens do Inconsciente (MII), no Engenho de Dentro, inaugura no próximo sábado (10), às 11h, duas novas exposições simultâneas, marcando o retorno das atividades da instituição e os 70 anos de sua fundação. Uma delas será na própria sede do MII e foi batizada de “Do asilo ao parque: 70 anos de história”. Já a outra, que irá iniciar os trabalhos de exposição do prédio anexo, é intitulada “Ocupação Nise da Silveira”. Ambas tratam da história da saúde mental no Brasil e do instituto que leva o nome da psiquiatra que revolucionou os cuidados dos pacientes no país.
“Com espaços destinados à exposição de trabalhos artísticos, o Instituto entra no circuito cultural da cidade, sendo possível apreciar galerias de arte em diversos serviços. O Museu Imagens do Inconsciente comemora 70 anos de existência, oferecendo ao público obras que dialogam com o atual momento, e com processo de transformação do Instituto. As exposições ‘Do asilo ao parque’ e ‘Ocupação Nise da Silveira’ representam um marco importante na reabertura do museu, que precisou fechar durante a pandemia. Os nossos espaços são destinados à arte e cultura, e enchem de vida um local que já foi de muito sofrimento!”, diz Érika Pontes, diretora do Instituto Municipal Nise da Silveira, ao qual o MII está ligado.
A primeira mostra, “Do asilo ao parque: 70 anos de história”, abrange pinturas, desenhos e esculturas produzidas pelos usuários de saúde mental em toda a história do Museu de Imagens do Inconsciente, desde a década de 40 até os dias atuais. As obras foram selecionadas pela curadoria a partir da temática de transformação do espaço do instituto no Parque Urbano Nise da Silveira.
Já a “Ocupação Nise da Silveira”, que é patrocinada pelo Itaú Cultural, traz uma homenagem à trajetória da psiquiatra, que enxergou novas formas de tratamento de saúde mental no Brasil, apresentando os métodos, as referências e os principais conceitos mobilizados por ela.
Para celebrar a data, além das exposições, haverá também uma solenidade, aliada às atividades culturais que incluem apresentação de balé, música e teatro, encerrando a festividade com uma roda de samba do Loucura Suburbana, que terá como convidado especial o compositor Mestre Siqueira.
O acervo MII constitui parte do conjunto museológico do Instituto Nise da Silveira e é atualmente formado por cerca de 400 mil obras, tendo coleções tombadas como patrimônio nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Os ateliês terapêuticos permanecem em funcionamento, de forma que a coleção do museu é diariamente acrescida de novos itens.
A exposição é aberta à visitação de terça a sábado, das 10h às 16h, e o acesso é gratuito. O Museu de Imagens do Inconsciente está localizado na Rua Ramiro Magalhães, n° 521 - Engenho de Dentro.
Brasil Delivery, mostra paralela, ocorre nos antigos quartos de enfermaria
O Espaço Travessia, que também faz parte do Instituto Municipal Nise da Silveira, apresenta até o dia 20 de setembro a ocupação artística “Brasil Delivery [a gente só não precariza o sonho]”, que reúne obras de cerca de noventa artistas convidados do subúrbio, da Baixada Fluminense e da América Latina, além de usuários e profissionais da saúde mental. A exposição ocorre nos antigos quartos de enfermarias e está aberta à visitação de segunda a sexta-feira das 10h às 17h.
No Ponto de Cultura Loucura Suburbana: Engenho, Arte e Folia, que também é a sede do Bloco Carnavalesco Loucura Suburbana, há a exposição permanente de fotos: Fissura no Real, com imagens de desfile da agremiação e dos Bonecos do Germano -- bonecos gigantes de um bloco típico do Engenho de Dentro que existiu durante décadas, e que mobilizava moradores da região. A mostra está aberta de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h.
O Memorial da Loucura do Engenho de Dentro foi inaugurado em 2021, somando-se aos demais espaços de produção e preservação da memória do Instituto Nise da Silveira. O local possui uma exposição permanente com acervo que revela as práticas da psiquiatria até a chegada das mudanças que começaram a ser implantadas pela doutora Nise da Silveira, com peças, documentos e instrumentos sobre a história do Instituto. O local funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h.
O Ateliê de Adereços e Fantasias e o Barracão possuem um grande acervo de fantasias doadas por foliões de escolas de samba, e abrem para visitação diariamente, de acordo com a demanda. Nos dois meses que antecedem os desfiles do bloco carnavalesco Loucura Suburbana, que normalmente acontece na quinta-feira anterior ao Carnaval, o espaço funciona para empréstimo de fantasias. No local também tem uma oficina permanente de geração de trabalho e renda para confecção e reciclagem de adereços, fantasias e peças utilitárias, que funciona as terças e quintas-feiras, das 9h às 17h.
A Encantarte Editora oferece uma oficina de geração de trabalho e renda, com publicação de livros e peças gráficas em geral. Todas as terças, quartas e quintas-feiras, das 10h às 16h.
O Centro de Convivência e Cultura Trilhos do Engenho funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h, oferecendo aos usuários oficinas de artesanato, rodas de conversa, oficinas de teatro, atividades lúdicas e de contação de histórias. Cada uma organizada em dias e horários diferentes durante a semana.
Há também uma oficina de percussão, as terças e quintas-feiras, das 10h às 11h30 e as quintas, das 14h às 15h30, para iniciantes e para os ensaios da bateria “A Insandecida”. Além de uma oficina de música, todas as quintas-feiras, das 13 às 15h.
Instituto Municipal Nise da Silveira segue preceitos da Reforma Psiquiátrica Brasileira
O Instituto Municipal Nise da Silveira faz parte da rede municipal de saúde do Rio de Janeiro e segue os preceitos da Reforma Psiquiátrica Brasileira. Nas últimas três décadas, o foco do trabalho esteve na desconstrução do aparato manicomial, tendo como base as ações de desinstitucionalização e o incremento e incentivo às atividades culturais. O trabalho foca na desconstrução da lógica asilar, que vem sendo gradativamente substituída pela rede de cuidados dos Centros de Atenção Psicossociais (CAPSs). Além de acompanhar a transformação de antigos espaços destinados às práticas manicomiais em um parque urbano.
Atualmente, o Instituto oferece atendimento ambulatorial em saúde mental, assim como, atividades no campo da arte, cultura, esporte, lazer, geração de renda, e preservação da memória e acervo histórico.