Uma das pessoas mais ativas na cobrança de investigações sobre os desaparecidos políticos durante o regime militar no Brasil, a advogada Eunice Paiva morreu nesta quinta-feira (13), aos 86 anos, em consequência do Mal de Alzheimer. O velório de Eunice ocorre também nesta quinta, em São Paulo, e o enterro está marcado para a sexta-feira (13), no Cemitério do Araçá.
Eunice era casada com o deputado Rubens Paiva, assassinado em 1971 pela ditadura militar. O casal tinha cinco filhos, entre os quais o escritor Marcelo Rubens Paiva, autor, entre outras obras, de Feliz ano velho e Ainda estou aqui, no qual conta a história da mãe e as dificuldades que ela enfrentou para manter a família após o desaparecimento do marido.
O corpo de Rubens Paiva nunca foi encontrado. Ele foi levado por militares em 20 de janeiro de 1971 da casa onde morava com a esposa e os filhos, no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro.
Eunice teve papel central na busca por informações sobre o paradeiro de Rubens Paiva, ex-deputado desaparecido depois de ser preso, torturado e assassinado pela ditadura militar nos porões do DOI-CODI no Rio de Janeiro entre os dias 20 e 22 de janeiro de 1971.
Estudou Direito na tradicional universidade Mackenzie, já depois da viuvez. Conciliava a vida de mãe e de pai de cinco filhos com a rotina estudantil. Tornou-se advogada e se engajou em lutas sociais e políticas, como as causas indígenas, nos anos 80 e 90.
No livro Ainda Estou Aqui, da Editora Alfaguara, o filho Marcelo Rubem Paiva conta a dolorosa passagem da interdição temporária da mãe, ja neste século, para que pudesse seguir seu curso o processo que a família movia contra a União. Num raro momento de lucidez, Eunice admite a interdição e a passagem da procuradoria para o filho Marcelo: Estou velha, preciso que cuidem de mim. A presidente do Comitê pela Anistia, a mulher que sustentou sozinha a família e empregou todas as forças, por mais de quarenta anos, para que histórias como a do marido não caisse no esquecimento, cedia a perda de memória.
Eunice Paiva morre num 13 de dezembro, exatos 50 anos depois da edição do AI 5. A mulher que perdeu a memória, numa demência de causas jamais esclarecidas, sai de cena numa data que trabalhou para que o Pais não esquecesse. O AI- 5 agilizou a cassação de mandatos, fechou o Congresso, mudou na marra a composição do Supremo, dificultou os habeas corpus e estendeu as prisões por tempo indefinido, abrindo a fase mais dura do regime militar.