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Freixo acusa milícia de ter ligações com grupos políticos

Deputado concedeu coletiva para falar sobre a descoberta de um plano de milicianos para mata-lo no sábado

Por Cezar Faccioli e André Luiz Coutinho em 14/12/2018 às 14:23:50

Foto: Reprodução/Facebook

O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) convocou uma entrevista coletiva no começo da tarde desta sexta-feira (14) Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) onde cobrou uma ação contra as milícias que de acordo com investigações da inteligência da Polícia Civil na última quarta-feira estariam planejando a sua morte em um evento que aconteceria em Campo Grande, Zona Norte do Rio para uma atividade do PSOL no Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro (Sinpro).

Reunido com a imprensa ele lembrou que o episódio acontece justamente na semana em que se completa dez anos da sua atuação na chamada CPI das Milícias.É inadmissível que no Rio de Janeiro uma vereadora seja assassinada sem que os autores sejam reconhecidos. É inadmissível que em pleno século XXI um grupo criminoso dominando uma quantidade tão grande de territórios, capaz de ameaçar, matar e explorar uma quantidade tão grande de gente", declarou Freixo, que disse não se arrepender da sua atuação contra esses criminosos que segundo ele teriam ligações eleitorais com partidos políticos.

Ele ainda voltou a lembrar da sua amiga e vereadora Marielle Franco, assassinada em março deste ano."Marielle não é mais importante do que ninguém e a minha vida não é mais importante do que ninguém, mas é uma ameaça a democracia. A morte dela precisa ser esclarecida", afirmou.

O deputado fez duras crítica as milicias, a qual combate há mais de dez anos e fez questão de rebater a acusação que os defensores dos direitos humanos protegem bandidos. "Isso tanto não é verdade que eles querem justamente matar nós que atuamos.

Morte planejada

Os milicianos que planejavam o ataque a Freixo, de acordo com o documento enviado pela Inteligência da Polícia Civil para a Divisão de Segurança da Alerj, seriam Amaro, Moisés de Guaratiba, que é policial militar, e Waguinho. A investigação partiu de um relato recebido pelo Disque-Denúncia. Não foi ainda aberto inquérito. Marcelo Freixo se encontra em Brasília, e deverá na sexta-feira, o mais cedo possível, se dirigir à Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco), na Cidade da Polícia.Em tese, caso se enquadre como crime de ameaça, mas diante de tentativas anteriores, em tese seria possível dispensar a queixa individual do deputado. Pela letra fria da lei, a trama, caso comprovada pode ser ir além do crime contra a ordem pública, ou até contra a segurança nacional, pelo mesmo artigo em que foi enquadrado o cidadão que postou ameaças de morte ao presidente eleito, Jair Bolsonaro, preso ontem em Pernambuco.

As ameaças coincidem com a intensificação dos rumores de que a Polícia Civil estaria prestes a prender suspeitos de terem participado do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em março deste ano. Quinta mais votada nas eleições para a Câmara Municipal do Rio em 2016, Marielle se destacou na política como assistente de Marcelo Freixo na CPI das Milícias. O trabalho da Comissão deu base a investigações da Polícia Civil que resultaram na prisão de vereadores, deputados e chefes de grupos de policiais e ex-policiais que cobravam para oferecer proteção a comerciantes e recorriam à violência contra quem se recusasse a pagar. Mesmo golpeado pelas prisões, o esquema ganhou força nesses dez anos, passando a controlar um número crescente de comunidades e diversificando as atividades para a venda ilegal, em bases monopolísticas, de água, gás, TV a cabo e acesso a internet. Além disso, alguns dos grupos passaram a controlar o jogo ilegal, em oposição ao tradicional jogo do bicho, e até disputar pontos de venda de droga, no lugar dos traficantes que expulsavam das favelas.

A força desses grupos, comparável ao 'poder paralelo' atribuído a grupos criminosos convencionais como o Comando Vermelho e o Terceiro Comando Puro, pode ser medido não apenas pela influência que seguem desfrutando no processo eleitoral, mesmo com líderes presos, ou a presença em mais de 60 comunidades, número inferior apenas ao do CV, mais antigo grupo organizado em atividade no País. Das 40 Unidades de Polícia Pacificadora (UPP's) instaladas em dez anos, apenas uma foi em área controlada pela milicia: Batan, em Realengo. A ocupação policial veio em resposta ao sequestro e tortura de uma equipe do jornal O Dia, com um motorista, um fotógrafo e uma repórter. O Batan é uma das quatro comunidades em que as UPP's foram desativadas, em novembro deste ano.

DH nega prisão iminente de assassinos de Marielle e Anderson

A intensidade dos rumores da detenção dos matadores da vereadora Marielle Franco e do motorista do mandato, Anderson Gomes, obrigou a Divisão de Homicídios da Política Civil a divulgar uma nota oficial de esclarecimento, reafirmando o sigilo das investigações e atribuindo a movimentação das equipes a investigações paralelas. Eis a nota:

Desde que iniciadas as investigações que apuram a materialidade e a autoria dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, a Delegacia de Homicídios da Capital vem realizando várias operações policiais para possibilitar a checagem e a qualificação de inúmeras informações de inteligência que são coletadas ou transmitidas anonimamente para a unidade.

A operação, realizada nesta quinta-feira (13/12) na capital, Angra dos Reis, Nova Iguaçu, Petrópolis e Juiz De Fora (MG), visava a cumprir mandados de prisões e buscas e apreensões referentes a inquéritos policiais instaurados na unidade e que transcorrem de forma paralela às investigações do Caso Marielle e Anderson. A medida é uma ferramenta voltada à inviolabilidade e ao sigilo das informações coletadas no bojo do inquérito policial principal.

A Delegacia de Homicídios da Capital renova a imprescindibilidade da manutenção do absoluto sigilo das apurações realizadas, sendo esta a maior garantia para chegar aos autores e mandantes dos crimes investigados.

Confira a entrevista coletiva na íntegra

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