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Sífilis, mal em gestação

Quatro em cada dez casos da doença em grávidas só são detectados no parto ou logo após

Por Cesar Faccioli em 29/06/2018 às 15:41:34

Risco para bebês inclui surdez, cegueira, problemas mentais e ósseos. No limite, a morte. (Divulgação)

Quatro em cada dez casos de sífilis só são detectados no parto ou no puerpério, nos cuidados logo após o nascimento do bebê. Em 2015, último levantamento completo disponível, os casos somaram 3581 no Estado. O grande desafio no tratamento da sífilis, que parecia erradicada em meados do século passado pelo advento da penicilina, é ser um mal silencioso. Na maioria das vezes, as vítimas não apresentam sintomas e só se descobre a doença após o exame. Discrição não representa falta de perigo. A sífilis pode ser fatal.

Nas gestantes, o risco se transmite, literalmente, para a geração seguinte, amplificado pelo fato de o sistema de defesa do feto contra infecções ainda ser, como a própria condição indica, embrionário. Ao nascer, a criança pode ter pneumonia, feridas no corpo, cegueira, problemas ósseos, surdez ou deficiência mental. Em alguns casos, como acontece com as mães, a sífilis pode ser fatal para os recém-nascidos.

Os dados vieram a público na XXª Reunião do Fórum Perinatal da Região Metropolitana I do Rio de Janeiro, no dia 27 de junho de 2018. O tema principal foi  "O Contexto da Sífilis e HIV/AIDS na Rede Cegonha e no Estado do Rio de Janeiro A Secretaria Estadual de Saúde apresentou o perfil epidemiológico da população nacional e fluminense em relação à sífilis e HIV e o protocolo clínico da Subsecretaria de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde.

O perfil indica a evolução do número de casos e os tipos de pessoa mais afetados pela doença. O Protocolo clínico estabelece o procedimento-padrão para o tratamento dos casos. Nele, estão normas os testes obrigatórios de HIV/AIDS, sífilis e mononucleose, o hemograma completo para detectar anemia ou diabetes, fatores de risco para a gestação, e assim por diante.

A Secretaria Municipal de Saúde apresentou no encontro o cronograma e a estratégia de implantação da Linha de Cuidado das Infecções Sexualmente Transmissíveis no Rio de Janeiro. Uma das principais metas é a descentralização para a atenção primária do diagnóstico e tratamento das gestantes com doenças sexualmente transmissíveis, em curso desde 2015. A previsão é de alocar infectologistas dentro de cada CAP(Coordenadorias de Atenção Primária), de forma a desafogar os hospitais de referência.

A entidade “Mulheres Vivendo com HIV/Aids” representou a sociedade civil na reunião. Nos depoimentos, as representantes da ONG deixaram claro a dificuldade para as mulheres de conviver com as doenças sexualmente transmissíveis e levar o companheiro a fazer tratamento. O combate a DST e AIDS deve abranger os parceiros, adesão indispensável para o tratamento da mulher e para evitar a transmissão das doenças ao feto.

No próximo encontro bimestral do Fórum Perinatal será discutida a devolutiva do Ministério da Saúde sobre o Monitoramento feito nas 28 maternidades da Região Metropolitana I. O documento em debate trata das respostas do governo federal aos pleitos de atenção materno-infantil do Rio de Janeiro.

 

Uma em cada quatro gestantes não recebe o Pré-Natal

Um dado é particularmente preocupante, dentre os levantados pelo Fórum Perinatal: uma em cada quatro grávidas não recebe atendimento pré-natal. Isso com o encaminhamento para Pré-Natal sendo protocolo obrigatório diante da constatação de gravidez. O que conduz para outro paradoxo inquietante: se 75% (três em cada quatro) recebem atendimento pré-natal, como nada menos de 42% (quatro em cada dez) das infectadas por sífilis só recebem o diagnóstico no Parto ou no puerpério?

 O abandono às gestantes, submetidas a um enorme risco pela falta de prevenção, se estende à atitude dos companheiros ou parceiros sexuais eventuais. Apenas um em cada dez se submete ao mesmo tratamento, como as consultas regulares, os antibióticos e antivirais, ou o coquetel antiaids. Com esse tipo de atitude, não é difícil explicar o crescimento da sífilis no Estado e no País. Para as crianças, as consequências podem ser dramáticas: doenças mentais, cegueira, surdez, complicações neurológicas, doenças crônicas de pele, esterilidade. Tudo consequência de um mal curável com antibióticos relativamente baratos, disponíveis na rede pública e com efeitos colaterais controláveis.

Um dado é particularmente preocupante, dentre os levantados pelo Fórum Perinatal: uma em cada quatro grávidas não recebe atendimento pré-natal. Isso com o encaminhamento para Pré-Natal sendo protocolo obrigatório diante da constatação de gravidez. O que conduz para outro paradoxo inquietante: se 75% (três em cada quatro) recebem atendimento pré-natal, como nada menos de 42% (quatro em cada dez) das infectadas por sífilis só recebem o diagnóstico no Parto ou no puerpério? Para superar esses desafios, é que se propôs, no modelo da Constituição de 1988, mecanismos como o Fórum Perinatal.

 

Rede Cegonha prevê participação popular no planejamento das ações

No caso da Região Metropolitana I do RJ, o Fórum Perinatal teve seu lançamento em maio de 2015. A Portaria GM/MS 1.459/2011 do Ministério da Saúde institui a Rede Cegonha, de atendimento coordenado a gestantes. O Fórum foi planejado como um espaço includente, democrático e participativo. Seu objetivo é a construção de consensos e referenciais ético-políticos para planejamento, avaliação e coordenação da Política de Atenção Perinatal, aberto a todos os cidadãos. Sua concepção é de um espaço também formativo, de troca de saberes e experiências. Assim, ainda de acordo com os documentos de sua criação, se tornaria capaz de contribuir com a construção, organização e fortalecimento da rede perinatal, com o estabelecimento claro de uma linha de cuidado integral materno-infantil na região.

Diante disso, o Fórum Perinatal se propõe a discutir as garantias dos direitos da mulher e da criança. Suas tarefas para isso são abrangentes:

—adotar medidas e estratégias para a redução da mortalidade materna e neonatal, por meio de atividades que contribuam para a melhoria técnica e acadêmica dos profissionais envolvidos na atenção e assistência perinatal, além da atuação junto aos gestores e serviços de saúde;

—estabelecer um modelo de atenção adequado ao pré-natal, parto e nascimento que favoreça a fisiologia do nascimento promovendo a saúde da gestação à vida adulta; e

—promover ações de divulgação sobre a atenção à saúde da mulher e do recém-nascido e seus principais indicadores, em articulação com a sociedade civil organizada e instituições de saúde.

Com vista a esses objetivos, o Fórum Perinatal desenvolve ações amplas:

—avaliar a assistência dada à mulher no pré-natal, aborto, parto, puerpério e ao recém-nascido e à criança menor de dois anos, nos municípios da região, relacionadas com as causas de morbo mortalidade materna, perinatal e infantil; - elaborar propostas e orienta as ações de organização de atenção qualificada à mulher no pré-natal, aborto, parto, puerpério e ao recém-nascido e à criança menor de dois anos, com o objetivo de reduzir a mortalidade materna, perinatal e infantil por causas evitáveis;

-monitorar a assistência oferecida à mulher no pré-natal, aborto, parto, puerpério e ao recém-nascido e à criança menor de dois anos nos municípios da citada região, relacionadas com as causas de mortalidade materna, perinatal e infantil;

 – articular os órgãos da rede perinatal para informá-los e sensibilizá-los sobre as discussões e proposições do Fórum Perinatal; e

— divulgar os dados e propostas elaboradas pelo Fórum para os órgãos competentes e a sociedade em geral com o objetivo de orientar sobre as intervenções necessárias à qualificação da Rede Perinatal. 

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