Em pessoas que receberam duas doses de Coronavac, de vírus inativado, o reforço com vacina à base de mRNA oferece uma proteção consideravelmente maior contra a Covid-19 leve e grave do que o reforço com a mesma vacina. A conclusão faz parte de um estudo realizado no Brasil, co-liderado pela Fiocruz e pelo Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal). As descobertas, publicadas na Nature Communications, têm importantes implicações na orientação de estratégias de reforço em países onde a maior parte da população recebeu vacinas de vírus inativados.
A vacinação contra a Covid-19 provou ser altamente efetiva na proteção contra casos graves e morte. No entanto, a efetividade da vacinação com as duas doses iniciais diminuiu com a chegada de novas variantes de preocupação, particularmente a Ômicron, justificando a aplicação da dose de reforço.
A maior parte dos estudos sobre efetividade das vacinas tem se concentrado naquelas de mRNA e adenovírus, embora os imunizantes de vírus inativado tenham sido amplamente usados particularmente nos países de baixa e média rendas – em janeiro de 2022, eles representavam metade das doses aplicadas no mundo.
Reforçar com a mesma vacina ou com uma diferente?
No estudo, os pesquisadores avaliaram a efetividade do reforço com uma vacina de vírus inativado (Coronavac) e com uma de mRNA (Pfizer) em adultos brasileiros que inicialmente haviam recebido duas doses de Coronavac. A análise, que incluiu quase 1,4 milhão de pares de casos-controles, foi realizada entre dezembro de 2021 e abril de 2022, período em que a Ômicron BA.1 era predominante, e comparada ao período em a dominante era a Delta.
“O ponto forte do nosso estudo observacional é o grande tamanho da amostragem e da amplitude geográfica, cobrindo cada um dos 5.570 municípios no país”, explica Julio Croda, pesquisador da Fiocruz e da Yale School of Public Health, co-autor sênior do estudo.
Ouça no podcast do Eu, Rio! o depoimento de Júlio Croda sobre a recomendação do Ministério da Saúde quanto às doses de reforço na vacinação contra a Covid-19 e o desempenho de cada combinação de imunizantes.
Os resultados mostram que a vacinação inicial com duas doses da Coronavac quase não forneceu proteção contra a Covid-19 leve causada pela Ômicron, e uma proteção de 40-50% contra a formas graves da doença. O reforço com a Coronavac não ofereceu proteção adicional contra a forma sintomática da Covid-19, e uma proteção moderada adicional contra a forma grave (74% e até 40-50% para pessoas acima dos 75 anos). Além disso, essa proteção pareceu diminuir nos quatro meses seguintes. Em contraste, o reforço com a vacina de mRNA forneceu uma proteção adicional maior tanto contra a forma sintomática quanto a grave da doença (56,8% e 86%, respectivamente), e pareceu perdurar por pelo menos quatro meses.
“Nossas descobertas têm implicações imediatas nas estratégias de aplicação de reforço no contexto da variante Ômicron”, observou Otavio Ranzani, pesquisador do ISGlobal e primeiro autor do estudo. Elas mostram que, em indivíduos que receberam inicialmente vacinas de vírus inativado, o reforço heterólogo (no caso com a vacina de mRNA) ofereceu um aumento substancial na proteção, mesmo em idosos.
ISGlobal
O Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal) é fruto de uma aliança entre a Fundação La Caixa e instituições acadêmicas e governamentais para contribuir com os esforços empreendidos pela comunidade internacional para enfrentar os desafios da saúde global.
Fonte: Agência Fiocruz de Notícias