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Diagnósticos em pets são essenciais para deter expansão da doença de Chagas

Cães (49%) e gatos (39%) são fontes mais comum de sangue para o inseto transmissor, o barbeiro, do que os humenos (38%)

Por Portal Eu, Rio! em 13/10/2022 às 12:07:49

Barbeiros, insetos transmissores da doença de Chagas, são encontrados com mais facilidade nas zonas rurais, mas já foram detectados, por exemplo, em Niterói, no Grande Rio. Foto: Ascom UFBA

Cães e gatos fazem parte do ciclo de transmissão do Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas. O quadro grave da doença é caracterizado por febre de intensidade variável, mal-estar, inflamação dos gânglios linfáticos e inchaço do fígado e do baço. Pode ocorrer e persistir durante até oito semanas uma reação inflamatória no local da penetração do parasito (inchação, edema), conhecida como chagoma.

Por causa da relevância dos animais domésticos para o ciclo da doença, pesquisadores da Fiocruz Bahia realizaram uma revisão sistemática da literatura sobre a epidemiologia, os fatores clínicos, diagnóstico e tratamento da enfermidade em animais domésticos. A conclusão, baseada nos métodos de diagnósticos dos estudos revisados, aponta para a necessidade de uma ferramenta diagnóstica comercial para detecção da doença de Chagas nesses animais. O trabalho foi publicado na revista Parasite & Vectors.

O estudo, sob a coordenação do pesquisador Fred Luciano Neves Santos, baseou-se na literatura produzida nos últimos 54 anos (1968 – 2022). Foram recuperadas 436 publicações acerca da doença, entre as quais foram considerados 84 estudos, obtidas por meio das plataformas PubMed, Lilacs e do Scielo Brazil. Os resultados apontaram que os diferentes métodos de testes adotados fazem com que as prevalências de dados sorológicos variem em cada país, o que pode ser motivado às distintas taxas de risco de transmissão em cada período, ao tamanho da amostra usada nos testes ou até a variabilidade genética das cepas em circulação. Um dos estudos conduzidos no Brasil, por exemplo, teve variação da soroprevalecência de 0 a 53%, a depender da região analisada.

Os sinais clínicos da doença nos cães mudam de acordo com a idade do animal. Em filhotes, é mais comum a manifestação de letargia, linfadenopatia, de maior demora na troca do pelo, palidez nas mucosas, e, em alguns casos, apresentam-se esplenomegalia e hepatomegalia. A partir dos seis meses de idade, no entanto, um dos sintomas mais comuns é a depressão leve. Já a infecção da doença em gatos não é tão amplamente estudada como em cachorros, permanecendo indistintos os fatores de risco de desenvolvimento da doença de Chagas nestes animais. No entanto, entre os achados da pesquisa, encontra-se uma maior suscetibilidade à infecção em felinos não domiciliados.

Nos estudos revisados, os testes usados foram produzidos com o fim de serem aplicados em humanos, e, posteriormente, adotados nos animais. Por vezes, esses exames não diagnosticam apropriadamente a doença por não atender às especificidades desses animais. De acordo com a pesquisa, estudos que empregaram proteínas quiméricas recombinantes demonstraram 100% de sensibilidade e 90,5% de especificidade no diagnóstico da Chagas crônica, independente da cepa ou expressão genética do parasita. Destaca-se o uso dos antígenos IBMP, desenvolvidos pelo Instituto de Biologia Molecular do Paraná, da Fiocruz, que demonstraram alta performance de aplicação em cães e baixa reatividade cruzada a outros anticorpos que podem estar presentes nos animais.

Para os pesquisadores, essa tecnologia pode ser a base de desenvolvimento de um teste comercial de detecção da exposição ao T. cruzi em cães e gatos, independentemente de sua localização geográfica. O desenvolvimento dessa ferramenta seria de grande importância para a saúde pública e a atuação veterinária.

Na América Latina e em algumas regiões dos Estados Unidos, animais domésticos são considerados os principais reservatórios do parasita T. cruzi. A infecção em animais ocorre por meio de contato com as fezes do inseto conhecido como barbeiro, de forma congênita ou através da ingestão de insetos infectados. Um levantamento, feito em 1996, estimou que cães contribuem 13,9 vezes mais do que humanos para a infestação do inseto em ambientes domésticos. Em outro estudo, os cães foram determinados como a fonte mais comum de sangue para o inseto transmissor (49% dos casos), seguido por gatos (39%), humanos (38%) e galinhas (29%).

Mal de Chagas não tem vacina e incidência do vetor é maior em casas de pau-a-pique e sapê

Na fase aguda, os sintomas duram de três a oito semanas. Na crônica, os sintomas estão relacionados a distúrbios no coração e/ou no esôfago e no intestino. Cerca de 70% dos portadores permanece de duas a três décadas na chamada forma assintomática ou indeterminada da doença.

Transmissão

A transmissão acontece pelas fezes do "barbeiro" depositadas sobre a pele da pessoa, enquanto o inseto suga o sangue. A picada provoca coceira, facilitando a entrada do tripanossomo no organismo, o que também pode ocorrer pela mucosa dos olhos, do nariz e da boca ou por feridas e cortes recentes na pele. Outros mecanismos de transmissão são a transfusão de sangue de doador portador da doença, a transmissão vertical via placenta (mãe para filho), a ingestão de carne contaminada ou acidentalmente em laboratórios.

Prevenção

Ainda não há vacina contra a doença de Chagas e sua incidência está diretamente relacionada às condições habitacionais (casas de pau-a-pique, sapê, etc). Cuidados com a conservação das casas, aplicação sistemática de inseticidas e utilização de telas em portas e janelas são algumas das medidas preventivas que devem ser adotadas, principalmente em ambientes rurais. A melhor forma de prevenção é o combate ao inseto transmissor.

Fonte: Agência Fiocruz de Notícias

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