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As forças federais estão indo embora, mas sensação de insegurança continua

Tiroteios ainda amedrontam a população fluminense

Por Sérgio Meirelles em 20/12/2018 às 14:45:25

Foto: Comando Militar do Leste

A intervenção federal no Rio de Janeiro termina no fim deste ano. Passados pouco mais de dez meses da chegada das Forças Armadas no estado, a pergunta que todos se fazem é: Melhorou ou não a percepção de segurança do cidadão fluminense? O Instituto de Segurança Pública (ISP) divulgou recentemente uma estatística que aponta quedas nos principais indicadores da criminalidade. Quase que simultaneamente a essa divulgação, o Fogo Cruzado - um laboratório que registra diariamente os dados da violência na Região Metropolitana - apontou um aumento acentuado das mortes causadas por tiroteios diversos.

Viver no Rio de Janeiro não tem sido fácil há alguns anos. Isso é um fato. Os assaltos, roubos e tiroteios entrincheiraram os cidadãos de bem em suas próprias casas. A situação chegou a um ponto tão crítico que em 16 de fevereiro deste ano o governo federal determinou que as Forças Armadas assumissem o controle da Segurança Pública no Estado. A ideia era devolver ao fluminense a tranqüilidade que há muito tempo ele havia perdido.

Na visão do laboratório Fogo Cruzado, porém, o morador do estado continua sentindo a sensação de estar desprotegido por causa do aumento dos disparos de arma de fogo em vários pontos da Região Metropolitana, após a intervenção federal (veja o relatório completo no site https://fogocruzado.org.br/balanco-de-10-meses-de-intervencao/).

De acordo com o Fogo Cruzado, de 16 de fevereiro a 15 de dezembro deste ano, ocorreram 8.237 tiroteios. Enquanto que, no mesmo período de 2017, houve 5.238 eventos envolvendo tiros disparados por bandidos ou policiais. A participação de agentes de segurança do Estado nesses conflitos também aumentou, passando de 906 (2017) para 1.698, após o Exército assumir o comando do patrulhamento das ruas.

As mortes ocorridas em conseqüência desses confrontos diminuíram, mas os números continuam assustadores. Em 2017, 1.221 pessoas, incluindo policiais, perderam a vida nesses tiroteios. De fevereiro a dezembro de 2018, 1.212 cidadãos morreram após serem atingidas por tiros.

"A intervenção federal não foi capaz de resolver essa questão da segurança pública no Rio. O aumento do número de tiroteios é a prova de que faltou às Forças Armadas um planejamento de prevenção e inteligência em suas ações de combate ao crime", lamentou Maria Isabel Couto, gestora de dados do Fogo Cruzado.

Violência cai, segundo o ISP

A estatística elaborada mensalmente pelo ISP não mensura em seus estudos os tiroteios ocorridos no estado. O órgão trabalha exclusivamente com os dados registrados nas delegacias distritais do estado. Segundo o último relatório divulgado, o indicador "letalidade violenta", que mede as mortes causadas por homicídios dolosos (quando há intenção de matar), latrocínio e lesão corporal seguida de morte, registrou 521 casos no mês de novembro deste ano. Enquanto que, no mesmo período de 2017, 602 pessoas foram assassinadas, uma queda de 13%.

Mas no mesmo levantamento, o ISP constata que houve um aumento de mortes causadas por intervenção de agentes do Estado, os conhecidos conflitos entre bandidos e policiais. Em novembro deste ano, 134 pessoas morreram nesses confrontos, um número 7,2% maior que o mesmo mês de 2017, quando 125 pessoas perderam a vida (ver estatística completa em www.isp.rj.gov.br ).

Especialistas analisam

Para Robson Rodrigues, pesquisador do Laboratório de Análise da Violência, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), apesar da queda de alguns indicadores da criminalidade, a intervenção federal no estado ficou aquém do esperado. Rodrigues atribui a isso a falta de planejamento das Forças Armadas nas ações desenvolvidas em todo estado.

"A intervenção federal demorou muito para surtir o efeito esperado. Essa redução nos índices de criminalidade foi conseguida de forma atabalhoada. Nada foi feito de forma planejada. Essa ineficiência fez com que as tropas federais fizessem uso de mais força para conter a violência, o que perpetuou a sensação de insegurança na sociedade", disse Rodrigues.

A mesma avaliação foi feita pelo professor e ex-policial militar Newton Oliveira, do Centro Estadual de Estatísticas Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio de Janeiro. (Ceperj). Segundo ele, segurança pública é feita com a combinação de dois fatores essenciais: inteligência e planejamento.

"Os dados do ISP mostram queda da violência no estado. A pergunta que fica é "será que todo esse investimento valeu à pena? Eu acho que não. Depois de dez meses de intervenção, os resultados obtidos são muito tímidos", opinou Oliveira.

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