Rio de Janeiro/RJ. Na noite de ontem, 19/10, a Polícia Federal deflagrou a Operação Flanelinha – sexta fase da Operação Kryptos – com objetivo de desarticular organização criminosa responsável por fraudes bilionárias envolvendo criptomoedas. Na ação, cerca de 10 policiais federais cumpriram um mandado de prisão preventiva e um mandado de busca e apreensão no estado do Rio de Janeiro/RJ. Os mandados foram expedidos pela 3ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro e decorreram de um esforço conjunto entre a Polícia Federal e Ministério Público Federal.
A prisão ocorreu, na noite de ontem, na Rodovia Niterói-Manilha, no momento em que o foragido se deslocava em direção à Região dos Lagos, e o mandado de busca e apreensão foi cumprido, na manhã de hoje (20/10), na residência do alvo, em Cabo Frio/RJ.
O trabalho investigativo revelou que um dos operadores do esquema criminoso foi o responsável por dissipar parte da frota de veículos que estavam em nome de laranjas após à deflagração da Operação Kryptos, em agosto de 2021. Os veículos, que foram avaliados em aproximadamente R$ 4 milhões de reais, estão sendo recuperados pela Polícia Federal, com o apoio da Polícia Rodoviária Federal, e ficarão à disposição do Poder Judiciário.
O investigado responderá pela prática dos crimes de operação sem autorização de instituição financeira, gestão fraudulenta, organização criminosa e apropriação indébita. Se condenado, poderá cumprir pena de até 40 anos de reclusão.
O nome da Operação Flanelinha faz referência ao o apelido dado a um indivíduo que pede remuneração pelos serviços prestados no parqueamento de veículos.
Operação Kryptos revelou esquema criminoso de mais de R$ 38 bilhões
O Ministério Público Federal (MPF) denunciou dia 11 de agosto o empresário Glaidson dos Santos, a esposa dele Mirelis Zerpa e mais 15 pessoas pelos crimes de organização criminosa; operação de instituição financeira sem autorização; gestão fraudulenta; e emissão, oferecimento ou negociação irregular de valores mobiliários. Glaidson é acusado de comandar um esquema de fraudes bilionárias a partir de sistema de pirâmide financeira envolvendo criptomoedas.
As investigações, realizadas no escopo da operação Kryptos, revelaram a magnitude do esquema criminoso. Pelo menos R$ 38,2 bilhões foram movimentados entre os anos de 2015 e 2021 no Brasil e no exterior. Um relatório de inteligência financeira identificou operações com ao menos 6.249 pessoas físicas e 2.727 pessoas jurídicas. Aproximadamente R$ 16,7 bilhões, 44% do total, foi movimentado nos últimos 12 meses em operações vinculadas à GAS Consultoria. Segundo a denúncia, a organização criminosa atuou em sete países: Estados Unidos da América, Reino Unido, Portugal, Uruguai, Colômbia, Paraguai e Emirados Árabes Unidos.
Sem registro nos órgãos competentes para operar no mercado financeiro, a GAS Consultoria divulgava por diversos meios e oferecia aos clientes rendimento fixo de 10% com investimento exclusivo em bitcoin. No entanto, as investigações revelaram que a empresa aplicava o dinheiro dos investidores em produtos diversos, como serviços bancários tradicionais e em outras criptomoedas com volatilidade diversa do bitcoin. Também não fornecia informações claras sobre o retorno e os riscos do investimento, o que caracteriza a gestão fraudulenta de instituição financeira. Áudios encontrados a partir do afastamento do sigilo telemático demonstraram que Glaidson e os demais denunciados sabiam que a atividade desempenhada exigia autorização do Banco Central (Bacen) e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A organização criminosa possuía uma espécie de plano de carreira, com ao menos quatro cargos: sócios diretores (Glaidson e Mirela), responsáveis pela gestão estratégica e financeira do esquema; sócios administrativos, responsáveis por bancas que funcionavam de maneira similar a uma filial ou um franqueado; associados, que prestavam apoio direto aos sócios; e consultores, a quem competia a prospecção e a assistência direta de clientes, bem como o tratamento de toda a burocracia inerente aos contratos, da assinatura ao resgate.
Outros denunciados - Além de Glaidson dos Santos e Mirelis Zerpa, foram denunciados o consultor Michel Magno, os sócios administrativos Felipe Novais, Kamila Novais, Tunay Lima, Márcia dos Anjos, Vicente Gadelha, Andrimar Vergel, Paulo Lana, Kelly Lana, João Marcus Dumas, Larissa Dumas, Guilherme de Almeida, Alan Soares e Diego Vieira, bem como sua esposa, Mariana Cordeiro, que auxiliava na ocultação e dissimulação de valores.
A denúncia foi recebida pela 3ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. O Grupo Especializado de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Gaeco) atua em auxílio ao procurador da República natural do caso e as investigações continuam quanto a pessoas e crimes ainda não denunciados.
Fonte: Polícia Federal e Ministério Público Federal