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MPRJ ajuíza ações contra Pezão, ex-secretários e empreiteiras por superfaturamento em obras do PAC das Favelas

Portal Eu, Rio! antecipou, com exclusividade, que consórcio havia abandonado obras na Rocinha. Empresas pertencem aos familiares do deputado André Lazaroni

Por Cláudia Freitas em 23/12/2018 às 09:39:00

Foto: Cláudia Freitas

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio do Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (GAECC/MPRJ), informou nesta sexta-feira (21/12) que ajuizou três ações civis públicas (ACPs) contra o governador preso Luiz Fernando Pezão (MDB), o ex-subsecretário Executivo de Obras do estado, Hudson Braga e o ex-diretor-presidente da Empresa de Obras Públicas (EMOP), Ícaro Moreno Júnior. Trata-se do pedido de ressarcimento aos cofres públicos, por atos de improbidade administrativa nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) nas favelas do Rio.

O Portal Eu, Río! antecipou no dia 7 de novembro, em uma reportagem exclusiva, sobre os indícios de irregularidades nas obras do PAC na Rocinha, envolvendo o consórcio Engetécnica Alpha, que após receber mais de 22 milhões em contrato assinado com o governo estadual, abandonou os canteiros sem concluir o projeto urbanístico na comunidade. O caso foi denunciado no Ministério Público Federal (MPF) por uma comissão de moradores do bairro, que fica na Zona Sul do Río. As empresas que integram o consórcio pertencem à família do deputado estadual André Lazaroni (MDB).

As ACPs citam ainda as construtoras Queiroz Galvão, Caenge, Carioca Christiani-Nielsen Engenharia, Andrade Gutierrez, Empresa Industrial Técnica, CAMTER Construções e Empreendimentos, Odebrecht, OAS e DELTA. Além das empresas, o texto inclui os nomes dos representantes contratuais. O MPRJ solicita a indisponibilidade cautelar de bens dos envolvidos em R$ 154.191.973,72, referente ao somatório do valor encontrado por sobrepreço e superfaturamento nos três contratos celebrados com o governo estadual.

Após um comunicado do Tribunal de Contas do Estado do RJ (TCE-RJ) sobre as supostas irregularidades nos contratos, o MPRJ instaurou no dia dois maio de 2017, por intermédio da Subprocuradoria-Geral de Justiça de Assuntos Cíveis e Institucionais (SUBCIVEL/MPRJ), um Inquérito Civil para apurar as denúncias de superfaturamento e sobrepreços em projeto do PAC das Favelas, celebrados em 2008 entre Estado e União, com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O acordo entre as partes previa o financiamento das intervenções e serviços de urbanização integrada das localidades, além da instalação de trabalho social e posto para regularização fundiária na Rocinha e nos Complexos do Alemão e de Manguinhos.

As ações destacam que os contratos analisados sofreram superfaturamento nos valores e beneficiaram as construtoras e seus proprietários. O contrato 01/2008, que contemplava a Rocinha, o montante superfaturado foi de 11,27% acima do orçado, totalizando um desvio de R$ 16.289.939,91. Já os outros dois acordos, somados, ultrapassam R$ 135 milhões em sobrepreço.

Para o GAECC/MPRJ ficam configurados os atos de improbidade administrativa praticados pelos representantes do governo estadual. Segundo as peças, Pezão e Hudson seriam os responsáveis pela fiscalização dos contratos. No entanto, os gestores permitiram o dano aos cofres públicos, segundo o MPRJ.

Além do ressarcimento integral do dano, o MPRJ requer a perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, a perda da função pública, a suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano, a proibição de contratar com o poder público ou receber benefícios, incentivos ou créditos fiscais, direta ou indiretamente, pelo prazo de cinco anos.

Engeténica Alpha abandona a Rocinha

Em reportagem exclusiva, o Portal Eu, Rio! adiantou no dia 7 de novembro que o consórcio contratado pelo governo estadual para executar o projeto de urbanização e saneamento na Rocinha, o Engetécnica Alpha, abandou os canteiros sem sequer iniciar as principais obras na comunidade. As empresas que integram o consórcio pertencem à família do deputado estadual André Lazaroni (MDB). A denuncia foi protocolada por um coletivo formado por moradores no Ministério Público Federal (MPF) e levada ao presidente do Conselho de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/RJ), Marcelo Chalreo.

Em outubro deste ano, a juíza Mônica Ribeiro Teixeira, da 1ª Vara de Fazenda Pública do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ/RJ), determinou a substituição do perito responsável pelo processo. O engenheiro civil Giovani Souza, deve assumir no lugar do perito Maurício Passos Ferreira.

"O mais importante ele não fez [se referindo ao PAC]. O valão principal está para ser canalizado. Em 2014 um novo consórcio entrou, em função das eleições, colocou canteiro de obras, mas nada foi executado. A gente procurou o Ministério Público [Estadual], que entrou com ação na Justiça, mas nada aconteceu até agora, somente esta mudança de perito. Esperamos que agora esta perícia aconteça, porque ninguém apareceu até agora para cumprir a determinação. Sem saneamento, não temos saúde. Temos aqui muitos casos de tuberculose, verminose e doenças de pele, ocasionados pela falta de saneamento", afirmou o líder do grupo comunitário Rocinha Saneamento, José Martins de Oliveira, na época em que a reportagem foi produzida.

O consórcio Engetécnica Alpha foi licitado pelo governo de Luiz Fernando Pezão e o acordo custou aos cofres públicos uma cifra superior a R$ 22 milhões, com prazo de finalização para abril de 2014. As obras ficaram paralisadas e, em 2018, o consórcio deixou a comunidade sem qualquer justificativa aos moradores. 

O consórcio foi criado em junho de 2013, com sede informada na Junta Comercial na Rua Senador Dantas, 75, no Centro do Rio. No mesmo endereço funciona o grupo Riwa, gerido por Walter Guimarães Morais Junior, que também é sócio da empreiteira Zadar Construções. O grupo Riwa, integrado pela Zadar e pelo consórcio Engetécnica Alpha, tem contratos assinados com o governo do Estado para execução de inúmeras obras em torno da Copa e das Olimpíadas. Guimarães tem como sócio Paulo Roberto Moraes, no pull empresarial. Os empreiteiros são, respectivamente, tio e pai do deputado estadual André Lazaroni.

O Riwa tem ainda outro consórcio, o Onda Azul, criado em 2014, com contrato assinado neste mesmo ano com a Empresa Municipal de Urbanização (Rio-Urbe), para a construção do Centro Olímpico de Esportes Aquáticos dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016, no Parque Olímpico da Barra da Tijuca, na Zona Oeste. O valor do empreendimento é superior a R$ 225 milhões.  

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