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América do Sul e Caribe registram queda do número de vertebrados

Relatório do WWF aponta que a ação predatória humana afeta drasticamente a flora e a fauna desde 1970

Por Marisa Dias em 24/12/2018 às 16:44:00

O relatório Planeta Vivo, divulgado pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF), alerta sobre a drástica redução da população de vertebrados selvagens como mamíferos, pássaros, peixes, répteis e anfíbios. América do Sul e Caribe registraram uma expressiva queda desses animais com um declive de 89% em 44 anos.

O documento ratifica a necessidade de mudanças urgentes para evitar esse quadro preocupante. Como um dos fatores principais desse fenômeno, o relatório responsabiliza a perda do ambiente natural, devido à agricultura intensiva, pela mineração e pela urbanização, levando ao desmatamento e o esgotamento dos solos.

Registrando uma redução bem menor em sua fauna, a América do Norte e Groenlândia registraram um índice de apenas 23%. Europa, norte da África e Oriente Médio apresentaram declive de 31%.

Mas no caso do Brasil, o relatório indica certa preocupação sobre possível extinção de alguns animais. Entre as espécies ameaçadas estão a jandaia-amarela, o tatu-bola, o muriqui-do-sul, o uacari e o boto. Em análise global, a taxa de extinção das espécies é de 100 a 1.000 vezes superior à que era há alguns séculos, antes de as atividades humanas começarem a alterar a biologia e a química terrestres. Segundo estudiosos da área, uma extinção em massa está acontecendo e, em apenas 500 milhões de anos, é a sexta a ocorrer mundialmente.

O Brasil apresentou índices alarmantes. Quase 20% da Floresta Amazônica, a maior do mundo, desapareceu no período estudado, onde o impacto no cerrado chegou a 50%.

De forma geral, o planeta, os bosques tropicais seguem desaparecendo, devido à pressão dos produtores de soja e de óleo de palma e da pecuária.

O documento informa ainda que entre 2000 e 2014, o mundo perdeu 920 mil quilômetros quadrados de matas virgens, uma superfície similar à soma da França e da Alemanha. Esse ritmo cresceu 20% de 2014 a 2016, em relação aos 15 anos precedentes.

Analisando de forma global, concluíram que apenas 25% dos solos estão livres da ameaça humana, com uma estimativa de que o número caia para apenas 10%, até 2050.

Mas o relatório também coloca que é possível alterar essa realidade e, a partir dele, conseguir resultados positivos. “Somos a primeira geração que tem uma visão clara do valor da natureza e do nosso impacto nela. Poderemos também ser a última capaz de inverter essa tendência”, destaca o relatório, baseado no acompanhamento de 16.700 populações de 4 mil espécies e na participação de 50 especialistas.

Porém, caso isso não aconteça, não conseguiremos reverter esse quadro. Se permanecer esse ritmo acelerado, “uma porta sem precedentes se fechará rapidamente”, destaca o WWF.

Para Francisco Vilardo, médico veterinário especializado em animais silvestres, da Clínica Amigo Bicho, é preciso rever essa situação e providenciar mudanças. “Precisamos seriamente, e não apenas ficando no campo do “faz de conta”, repensar a forma de explorar os recursos naturais do nosso planeta. O desenvolvimento urbano e o aumento da população humana não irão diminuir”, ressalta.

Segundo Vilardo, o uso sustentável dos recursos naturais se faz imprescindível. “Caso isso não aconteça, estaremos fadados a concretizar a nossa própria extinção.”, alerta.

Para ele, é necessária a busca por fontes de combustível renováveis e não poluidoras. “A ocupação ordenada e sustentável do solo tem que sair do ‘estamos providenciando’ para ações concretas.” Outro fator preocupante que o médico observa é a frequente busca pelo poder comercial e econômico que em detrimento do bem estar do planeta, está guiando a natureza para um fim muito triste.

Villardo analisa a queda da biodiversidade como um problema multifatorial que envolve, “A caça indiscriminada por ostentação, status, crendices populares, o desmatamento, seguido de incêndios, para empreendimentos imobiliários ou agricultura, soltura de balões, falta de fiscalização e a falta de preocupação com o próximo”.

Ele observa que a espécie humana é a que mais preocupa dentro desse contexto por ser a responsável por reverter ou permitir esse avanço. “Os seres vivos, desde um ser unicelular até uma baleia azul, estão relacionados entre si. É como uma grande engrenagem, onde todos são peças fundamentais para que funcione corretamente.” Explica.

Vilardo analisa as consequências desses fenômenos e cita algumas que podem ocorrer sozinhas ou em um possível efeito cascata. “Diversificação de áreas antes com densa cobertura vegetal, perda da biodiversidade dos oceano, em consequência da acidificação das águas, conflitos entre humanos e animais levando à extinção, aparecimentos de surtos endêmicos, epidêmicos e pandêmicos de diversas doenças devido ao desequilíbrio do meio ambiente”, revela.

Para ele, essa realidade vem sendo demonstrada nas telas de cinema do mundo todo e alertando sobre o assunto onde é representado, “Atmosfera sem condições próprias a vida, falta de alimento e de água doce, levando à conflitos. Um cenário nada amistoso, como já foi retratado em filmes. Mas o ser humano só acredita no que vê. Para ele o que está nas telas é pura ficção. Infelizmente uma ficção que pode (e já está) se tornar uma devastadora realidade.”, conclui.

 

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