Muito mais do que um grito dado por D. Pedro I às margens do Rio Ipiranga, a Independência do Brasil teve um papel fundamental no país graças à participação de mulheres nesse processo histórico. E esse foi o tema da segunda edição do Festival Leopoldina Orgânica, conhecido como Leopoldina Orgânica Independência, realizado no último domingo (6), na Arena Dicró, na Penha, na Zona Norte do Rio.
Organizado por moradores e produtores culturais do subúrbio da Leopoldina, região que abrange desde Manguinhos a Vigário Geral, o Leopoldina Orgânica convidou o público para experimentar uma vivência agroecológica dentro de um dos maiores complexos de favela da cidade, o complexo da Penha, realizado pelo Centro de Integração da Serra da Misericórdia. A luta pelo direito à terra e agricultura urbana dentro de uma realidade improvável foi o que o público pode testemunhar na manhã do evento .
Unindo temas como sustentabilidade, cultura e história, o festival teve palestras das historiadoras Giovana Xavier e Giovana Trevellin e da escritora Kátia Santos. Mestre em História Social, a Giovanna Trevelin desenvolve projetos nas áreas de História do Brasil, História da Arte, Estudos de Gênero, História das Mulheres, e Feminismos. Além disso, ela é especialista no estudo sobre as mulheres que atuaram na Independência do Brasil e que até hoje permanecem silenciadas. Ela explica como foi a sensação de participar de um evento do tipo pela primeira vez no Rio, já que a historiadora mora no interior de São Paulo.
“Foi muito importante para mim participar desse evento, justamente na primeira vez que fui ao Rio de Janeiro. Conhecer a cidade dessa forma, participando de uma mesa com um tema tão relevante para a nossa história, foi fundamental para mim como pessoa, historiadora e mulher. A participação das mulheres no processo de independência foi essencial na construção da nossa história. E, felizmente, em 2022, justamente na comemoração dos 200 anos, conseguimos desconstruir muita coisa graças a movimentos de historiadores e historiadoras. E trazer esse debate no subúrbio do Rio é muito bom para trazer a população e conscientizá-la de que ela também é parte na história", opinou Giovanna Trevellin, que falou sobre o protagonismo de mulheres negras, como o Maria Felipa e Maria Quitéria, conhecidas por atuar no Recôncavo Baiano na batalha de 2 de julho de 1923, quase um ano após a Independência ser proclamada por D. Pedro I.
Ao som do Samba das Mulheres da Zona Oeste, o Leopoldina Orgânica se despediu do público cantando e exaltando compositoras como Dona Ivone Lara, que como tantas mulheres da independência, esteve à frente do seu tempo solidificando os pilares da cultura brasileira e sua história.
O festival é fruto de um movimento que tem suas raízes na década de 1990, a partir das sementes e mudas de Luiz Poeta, fundador do projeto Verdejar Socioambiental. Tudo começou com o encantamento pelas ações de preservação e recuperação ambiental desenvolvidas na Serra da Misericórdia, maciço rochoso com 43,9 quilômetros com a última área de Mata Atlântica da Zona Norte. A edição de 2022 do evento teve o apoio da Secretaria Estadual de Cultura do Rio de Janeiro através do edital Retomada Cultural 2.