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Espetáculo inédito, "12 anos ou a Memória da Queda" estreia no CCBB-RJ

Peça teatral apresenta uma releitura da história através da ótica feminina negra

Por Portal Eu, Rio! em 14/11/2022 às 13:44:53

Fotos: Divulgação/Alê Catan

É perpassando a figura de três elementos do mar profundo, a calunga grande dos povos africanos, que é contada a história de “12 anos ou A memória da queda”, espetáculo inédito criado pela dramaturga Maria Shu que estreia nesta quarta-feira (16), às 19h30 no CCBB-RJ. As alegorias utilizadas pelas diretoras Tatiana Tiburcio e Onisajé, que também assina a versão final do texto, entram na cena através dos personagens de Carmo Dalla Vecchia, Dani Ornellas e David Júnior, o trio de protagonistas que traduz em imagem, movimento e discurso, dentro de certo realismo fantástico, os arquétipos da história original, “12 anos de escravidão”, escrita por Solomon Northup. Idealizada por Felipe Heráclito Lima, a montagem aborda uma temática ainda pulsante nos dias atuais: a escravização dos corpos negros.

“Reconstruímos essa história a partir da compreensão atual de quem é esse sujeito negro e o que significa essa liberdade pra ele hoje a partir dessa trajetória. Porque não é interessante trazer algo datado, mas enxergar dentro dessa narrativa o que a gente conseguiu de vitórias e avanços e o que ainda precisamos romper enquanto imaginário sobre este sujeito, enquanto discurso deste mesmo sujeito, enquanto existência e perspectiva de futuro. O quanto ainda precisamos avançar a partir desta base constituída e apresentada lá trás”, observa Tatiana Tiburcio.

A soteropolitana Onisajé antecipa o posicionamento cênico da dupla de direção que forma com Tatiana. “No que tange à temática, está em cena a nossa análise e posicionamento crítico, ético, político, filosófico e poético-estético acerca da escravização. Ele se traduz na compreensão de que a escravização se sofistica, se disfarça e ainda se mantém muito viva entre nós. Os aportes das diversas opressões encontram na escravização um lugar de deságue”, ressalta.

Onisajé acredita que, mesmo os espectadores que não leram o livro e nem viram o filme, dirigido por Steve McQueen em 2013, encontrarão uma argumentação cênica que aponta o quanto ainda são criados discursos de inferiorização para justificar a neo-escravização. “A questão racial é a pauta mais urgente a ser enfrentada no Brasil. Um país que concebe e ainda alimenta argumentações e posicionamentos racistas não poderá avançar como nação”, defende.

Guiando a estética e a alma da montagem estão as referências da ancestralidade, da filosofia e mitologia negra. “A partir dessa compreensão revisitamos a história de Solomon entendendo os pontos críticos da narrativa em relação aos avanços no discurso racial na prática no nosso dia a dia. Ainda vivemos processos de escravização de diversas formas. Processos diretos - nos interiores deste nosso país - e de formas sutis, mas muito bem compreendidas por quem os sofre nos grandes centros urbanos. É preciso revisitar essa história e reconstruí-la a partir de um olhar feminino, negro, matriarcal, poético, lírico, onírico”, aposta Tatiana.

A ideia de levar aos palcos a história clássica que, em adaptação para o cinema, foi vencedora de três premiações no Oscar, partiu de Felipe Heráclito Lima. Ao se deparar com uma pesquisa sobre a quantidade inacreditável de trabalhadores em regime análogo à escravidão em fazendas de búfalo da Ilha de Marajó (PA), o artista questionador percebeu o quanto o assunto, até então por ele ignorado, precisava ser debatido.

“Senti a necessidade de falar sobre questões urgentíssimas como essa, porque é enorme a quantidade de pessoas iludidas por uma boa oportunidade de trabalho que, por fim, é submetida a um regime desumano dentro de algumas distorções realizadas dentro do capitalismo - que não pode se impor sobre os valores humanos. Isso mexe muito comigo, e pensei nesse projeto como uma plataforma de falar de todos estes assuntos que precisam ser vistos e debatidos a partir do nosso passado colonial nesta sociedade escravocrata”, resume.

Retornando ao teatro, onde começou a carreira que já soma 27 anos, Dani Ornellas vê na montagem um encontro sincrônico com profissionais com os quais sempre teve desejo de trabalhar, dentro e fora de cena. “A vibração de cada um que compõe essa equipe me faz sentir voltando para casa. Estar em cena nesta peça é muito profundo, porque traz histórias muito próximas a situações que eu vivencio como mulher preta artista brasileira. Como minha personagem diz em cena, ‘Sou eu, mesmo quando eu não estou lá. É você, mesmo quando você não está lá. É o seu ancestral’. Este espetáculo é um convite pra que as pessoas pensem sobre isso”, percebe a atriz, para quem reconhecer a situação desigual e cruel da população negra já é um motivo pra mudança, e torce que o público saia refletindo sobre o que se passa na peça.

Para Carmo Dalla Vecchia, falar sobre este tema no palco “é ter a chance de participar de um ajuste, de uma retratação, de assumir responsabilidades, de tocar o coração de outros para pensarmos nos nossos preconceitos. De entender que, antes de dizer que não somos preconceituosos, devemos pensar nos gestos, nas falas, nos momentos que podemos estar ferindo a liberdade e magoando pessoas de uma maneira naturalizada pela nossa história”, pondera o ator, que dividiu os ensaios com as gravações da novela “Cara e Coragem”.

O atual momento do país foi determinante para a montagem contar com David Júnior no elenco. “Estamos tocando numa ferida social, econômica, estrutural do nosso país que precisa ser falada. Me sinto muito realizado como artista pelo tema e pela equipe técnica incrível que conseguimos reunir neste trabalho. Enquanto tivermos pessoas sendo descartadas da sociedade apenas por representar o seu lugar de negro, com todo este discurso de ódio, invisibilidade e descaso com os corpos negros precisaremos colocar estes assuntos em voga. É importante estar em cena no momento em que estamos vivendo, falando dessas mazelas antigas e, ao mesmo tempo, tão atuais na nossa sociedade”, pontua David.


O espetáculo “12 anos ou A memória da queda” é apresentado pela Apsen e tem patrocínio da Chevrolet, Atacadão e Boa Vista através da Lei de Incentivo à Cultura e da DASA, JPG e Secretaria Municipal de Cultura através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura - Lei do ISS.

SINOPSE:

‘12 anos ou A memória da queda’ é inspirado no livro ‘12 Anos de Escravidão’, de Solomon Northup. Com dramaturgia original de Maria Shu e texto final de Onisajé, que também assina a direção com Tatiana Tiburcio, o espetáculo teatral traz à tona uma temática pulsante nos dias atuais: a escravização de corpos negros. O projeto tem como inspiração a história real de Solomon – um homem negro que após aceitar um trabalho que o leva a outra cidade, é sequestrado e escravizado por 12 anos. No elenco: David Júnior, Dani Ornellas e Carmo Dalla Vecchia.

SERVIÇO:

Teatro I – CCBB RJ

Temporada: 16 de novembro a 16 de dezembro

Quarta a sábado às 19h30 | Domingo às 18h*

*Não haverá espetáculo nos dias 24/11 e 02/12

As sessões estão sujeitas a alterações de elenco.

Na sessão do dia 20 de novembro haverá acessibilidade com intérprete de libras e audiodescrição

Inteira: R$ 30 | Meia: R$ 15 , disponíveis na bilheteria física ou no site do CCBB (bb.com.br/cultura)

Estudantes, maiores de 65 anos e Clientes Ourocard pagam meia entrada

Classificação indicativa | 12 Anos

Duração | 90 min

Centro Cultural Banco do Brasil

Rua Primeiro de Março, 66 - Centro – RJ

Tel. (21) 3808-2020 | [email protected]

Informações sobre programação, acessibilidade, estacionamento e outros serviços:

bb.com.br/cultura

FICHA TÉCNICA:

Elenco: David Júnior, Dani Ornellas e Carmo Dalla Vecchia

Dramaturgia original: Maria Shu

Texto Final: Onisajé

Direção Artística: Tatiana Tiburcio e Onisajé

Idealização: Felipe Heráclito Lima

Coordenação Geral e Artística: Anna Sophia Folch e Felipe Heráclito Lima

Direção de Produção: Leila Maria Moreno e Felipe Valle

Assistente de Direção: Cridemar Aquino

Elenco Alternante:

Cintia Rosa, Milton Filho e Bruce de Araujo

Direção Musical e Música Original: Jarbas Bittencourt

Cenografia: Wanderley Gomes e Cachalote Mattos

Figurino: Wanderley Gomes

Assistência de Figurino e Costureiro: Igor Nascimento

Desenho de Luz: Jon Thomaz

Direção de Movimento: Jefferson Bilisco e Tatiana Tiburcio

Preparação Corporal: Jefferson Bilisco

Visagismo: Diego Nardes

Visagista cabeleireiro: Lucas Tetteo

Produção Executiva: Raissa Imani e Aliny Ulbricht (Kawaida Cultural)

Assistente de Produção: Luz Anna Rocha


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