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Síndrome de Guilain-Barré: OMS atribui relação com zika vírus

Trauma e infecção estão relacionados com a doença

Por Cristina Ramos em 29/12/2018 às 17:19:00

Foto: Pixabay

A síndrome de Guilain-Barré é uma doença rara e o sistema imune do paciente ataca os nervos periféricos. Ficou conhecida no Brasil após a epidemia de Zika, que ocorreu no país, principalmente em 2015 e 2016.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) atribuiu uma relação entre o vírus zika e a Síndrome de Guillain-Barré (SGB), após dados obtidos de 72 pesquisas publicadas na Suíça, em 2016, por cientistas franceses, que relacionaram o zika vírus a consequências na saúde.

Segundo o neurologista e pesquisador do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), Abelardo Araújo, há algum fator prévio, seja traumático ou infeccioso, que produz essa desregulação imunológica, que induz para que o organismo monte uma reação cruzada entre partes do agente causador inicial (bactérias, vírus, etc.) e o sistema nervoso. De acordo com o médico, “o sistema imune passa então a atacar os nervos como se estivesse atacando o agente que iniciou a reação imunológica”.

A síndrome de Guillain-Barré (SGB) “é uma condição neurológica de natureza autoimune na qual o organismo produz, de forma anormal, anticorpos que atacam o envoltório natural dos nervos periféricos (a chamada bainha de mielina). Isso faz com que o impulso nervoso seja transmitido de forma extremamente lenta através destes nervos. Essa lentificação na condução dos impulsos nervosos é a causa dos sintomas apresentados pelos pacientes”, explica o neurologista Abelardo Araújo.

Por que ocorre essa síndrome?

Dr Abelardo relata, que a SGB, pode ocorrer por várias causas: infecções virais diversas, infecções bacterianas, vacinações, cirurgias, anestesias, traumas, etc. E, aproximadamente, 2/3 dos pacientes descrevem alguma infecção prévia (respiratória ou gastrointestinal) antes do início do quadro neurológico. Pode acometer qualquer faixa etária, mas os adultos em geral são mais suscetíveis. E a incidência é de 1-2 casos para cada 100.000 habitantes por ano.

Sintomas da doença

“A doença se caracteriza por uma fraqueza muscular que começa nas pernas e sobe para os braços. Causa uma leve incapacidade de movimentação ou até a completa e total paralisia dos membros, da face, da musculatura da deglutição, da fonação e dos músculos respiratórios. Em 10 a 30% dos casos haverá paralisia respiratória, que fará com que o paciente necessite de ventilação artificial, ressalta Dr Abelardo. E, segundo ele, embora o quadro motor de fraqueza muscular predomine, são frequentes as dormências e formigamentos nas mãos e nos pés. Na fase aguda os pacientes podem também se queixar de dores nas costas e nos membros. Em 70% dos indivíduos pode haver alterações na pressão arterial e no ritmo cardíaco o que pode, se não tratadas, levar à morte súbita”, finaliza o neurologista.

A SGB pode ser considerada uma emergência neurológica, que exige internação hospitalar e tratamento em unidade de terapia intensiva uma vez confirmada, conclui o médico. E esclarece “a doença evolui com piora progressiva em duas a quatro semanas, passando então a um período variável de estabilização e de melhora progressiva ao longo de meses”.

Maria Teresa Silva Perez, em 2016, aos 78 anos, na Espanha, teve uma diarreia após comer abobrinha. Uns dias depois, não conseguiu descer a escada da residência que morava. Foi levada ao Posto de Saúde de carro e ao chegar lá teve que se locomover por cadeira de rodas. Foi dispensada após ser diagnosticada por músculos fracos. À noite, ela não conseguiu subir as escadas. No dia seguinte retornou ao hospital de ambulância, e, segundo sua filha, Amparo Perez, após fazer todos os exames, a residente que atendeu a mãe dela disse estarem desconfiados de Guilain Barré.

De acordo com Amparo, o diagnóstico da síndrome é por exclusão. Fizeram a punção, mas enquanto aguardavam de 15 a 20 dias pelo resultado, no dia seguinte, entraram com imunogamaglobulina por cinco dias como tratamento. “Minha mãe não melhorou com esta medicação. Ficou internada por três meses e a recuperação dela foi por si própria, pouco a pouco. Dos três tipos de Guilain -Barré, afirma Amparo, o da minha mãe foi o mais severo. O perigo dessa síndrome é a pessoa parar de respirar, porque paralisa os músculos respiratórios. Ainda que tenha paralisado menos músculos, afetou a musculatura da coxa e dos braços. Não deu em outra parte do corpo, paralisou menos músculos, mas a bainha de mielina foi toda destruída. Por ser tão forte, a síndrome durou muito tempo. Junto com isso, a minha mãe já arrastava uma depressão sem tratamento, que foi logo medicada”.

 Amparo Perez conta que tinha um fisioterapeuta no quarto da mãe dela desde o primeiro momento, mas sua mãe se recusava a fazer qualquer exercício, gritava, dava muito trabalho e ficou com sequela nas mãos e no pé direito, chamada pé de equino, ela joga o pé na marcha quando anda. “Geralmente todo mundo se recupera do Guilain-Barré.  Pelo fato da minha mãe ser muito medrosa, vir de uma depressão que se arrastava, ela não conseguiu ficar independente. Após os três meses vai pra casa se a pessoa tem alguém para cuidar. Mas ela foi direcionada para um hospital de recuperação, por seis meses, até ela estar melhor, sentando. Ela come sozinha, mas só anda com andador, com a bengala e com alguém, uma cuidadora. Ela podia estar andando sozinha, mas se distrai, desconecta a cabeça e se joga. Ela acha que ainda tá doente, mas já ficou boa. O que foi afetado se recuperou. A sequela ela vai ter que aprender a lidar com ela. A causa da síndrome foi uma bactéria intestinal, que o corpo, ao invés de atacar a bactéria, ataca o próprio corpo. É autoimune”, completa Amparo Perez, filha de Maria Teresa Perez.

 

 

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