Quem assiste ao desfile das escolas de samba e vê um grupo de pessoas anônimas nervosas e muitas vezes com semblantes fechados dando broncas e empurrando passistas não tem a ideia da importância da direção de Harmonia, cuja grande responsabilidade contrasta com a baixa visibilidade de seus integrantes.
Para Alexandre Dutra, vice-presidente da Associação dos Diretores de Harmonia das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (SORDHESERJ), se a escola passa bem na avenida, todos são os responsáveis. Mas, se algo sai errado durante o desfile, o culpado é o Departamento de Harmonia.
E não é para menos. Em 2018, a campeã do Grupo Especial do carnaval carioca foi a Beija-Flor, com 269,6 pontos, 0,1 a mais do que a segunda colocada, a Paraíso do Tuiuti, que obteve 269,5 pontos. Caso os jurados tivessem dado nota máxima para a Tuiuti no quesito Harmonia, o resultado seria diferente. A amarela e azul de São Cristóvão seria a campeã com os 0,2 perdidos no quesito.
“A harmonia é tudo. É o entrosamento do canto com o ritmo. A harmonia é praticada o ano inteiro. Acaba o carnaval e, em meados de abril, se inicia outro processo de carnaval. Entra em cena a harmonia, com o acompanhamento das alas, da escolha do enredo, escolha de sambas”, explica Alexandre.
Ensaios técnicos
Daí a importância dos ensaios técnicos. Tanto os que acontecem nas quadras das escolas quanto os realizados na Avenida Marquês de Sapucaí ou mesmo na rua. Alexandre, que já atuou no Salgueiro, defende maior participação dos jurados em todo o processo:
“Tem toda uma equipe de trabalho no Departamento de Harmonia de uma escola. No Grupo Especial, algumas contam com 80 participantes diretamente ligados a harmonia. Os treinos são essenciais. Ali é que vamos ver se o casal de mestre sala e porta-bandeira estão entrosados, se a bateria esta em um andamento bacana para se apresentar a comissão julgadora, ali, é tudo. É ali que vemos como vai funcionar a comissão de frente. A responsabilidade é muito grande”, explica Alexandre.
Os integrantes da comissão de Harmonia são movidos pelo amor à escola. Apenas o diretor geral de Harmonia é remunerado. Para Alexandre, a Harmonia é o setor da escola mais próximo da comunidade.
“O Departamento de Harmonia é de suma importância para a escola de samba. Pode ser que as pessoas não entendam o nosso trabalho. Quando você vê a escola bonita é porque um grupo de trabalho colocou a parafernália para cuidar da situação”, disse Alexandre.
Escola de formação
Há 22 anos, uma associação reúne diretores de Harmonia de diversas escolas. Na noite de terça-feira (8), a SORDHESERJ promoveu reunião para tratar da capacitação dos integrantes das agremiações. Presidida por Lourenço Lúcio de Souza, os diretores de várias agremiações estiveram presentes. A presidente da Associação de Mulheres Empreendedoras do Brasil (Amebras), Célia Regina Domingues, marcou presença. O grupo traçou metas. Uma delas é a realização de um workshop para os jovens conhecerem os mistérios do carnaval carioca.
Outra questão levantada se refere ao preparo dos julgadores do quesito Harmonia. Os diretores questionam a aptidão dos jurados para analisar e dar nota ao trabalho de um ano.
“É muito fácil tirar pontos de Harmonia sem conhecer o trabalho feito durante o ano. Acredito que seria de grande valia se esses julgadores visitassem as escolas. É uma discussão que estamos levando para os diretores”, disse Alexandre.
As escolas ainda enfrentam dificuldades de financiamento para seus ensaios técnicos e até mesmo para o desfile no carnaval. Segundo Alexandre, a falta de verba não abala os integrantes do departamento de Harmonia.
“Com crise ou sem crise, a harmonia se banca, mesmo não remunerada. Para a gente, é irrelevante a questão de verbas. Trabalhamos por amor a nossa escola”, concluiu.